Como a importação alemã de petróleo cazaque beneficia a Rússia?
O centro de Astana é visto do Palácio Presidencial Ak Orda em Astana, Cazaquistão, terça-feira, 28 de fevereiro de 2023. — Foto: Olivier Douliery/Pool Photo via AP
Nesta semana, a Alemanha começou a receber o primeiro lote de petróleo bruto do Cazaquistão através do sistema de oleoduto Druzhba. O objetivo é abastecer uma importante refinaria no leste alemão que até a virada do ano recebia quase exclusivamente petróleo russo.
O embarque de 20 mil toneladas — ou cerca de 145 mil barris — do Cazaquistão faz parte de um plano mais amplo da Alemanha para reduzir sua dependência do petróleo russo. A maior economia da Europa parou de comprar o combustível da Rússia este ano, mesmo com o petróleo bruto do oleoduto permanecendo isento de um embargo da União Europeia (UE) motivado pela invasão da Ucrânia. A UE proibiu desde dezembro de 2022 a importação de petróleo bruto russo por via marítima, e a de produtos petrolíferos refinados desde 5 de fevereiro — mas há uma isenção temporária para o petróleo bruto russo transportado por oleodutos.
O Cazaquistão pretende transportar 1,2 milhão de toneladas de petróleo bruto para a Alemanha este ano. A operadora estatal de oleodutos do país, Kaztransoil, já recebeu o aval de sua contraparte russa, a Transneft, para entregar 300 mil toneladas neste trimestre através do oleoduto Druzhba, que se estende por muitos quilômetros na Rússia.
O petróleo do Cazaquistão segue para a refinaria alemã PCK, na cidade de Schwedt, localizada a 120 quilômetros a nordeste de Berlim, que até este ano era abastecida com petróleo russo.
A refinaria de Schwedt fornece 90% do combustível da capital alemã e está em uma situação complicada desde que o país decidiu voluntariamente interromper as importações de petróleo canalizado da Rússia.
Agora, ela opera com apenas 60% da capacidade. Os suprimentos do Cazaquistão vão garantir que a refinaria funcione em um nível de capacidade mais alto, permanecendo economicamente viável. Por enquanto, o governo alemão estabeleceu uma meta de 70%.
A refinaria era parcialmente propriedade da russa Rosneft até o governo alemão assumir o controle dela no ano passado. Atualmente, é abastecida principalmente com petróleo dos mercados globais, incluindo os EUA, por meio de um oleoduto que sai do porto de Rostock, no Mar Báltico.
A manobra alemã, no entanto, não afasta a Rússia de todos os lucros. Moscou pretende arrecadar receita adicional na forma de taxa de trânsito que a Transneft ganhará pelo transporte do petróleo por meio de sua rede de oleodutos, uma fonte bem-vinda de dinheiro para o Kremlin em um momento em que suas receitas de petróleo foram afetadas pelo embargo ocidental e pelo teto de preços.
Além disso, o petróleo deve ser transportado por milhares de quilômetros em território russo, colocando o abastecimento à mercê da boa vontade de Moscou.
"Temos que observar como a Rússia age em relação ao fluxo através do Druzhba", disse um porta-voz do Ministério da Economia alemão na segunda-feira, acrescentando que é difícil prever as ações do Kremlin, conforme demonstrado pelo congelamento do fornecimento de gás no ano passado.
O petróleo do Cazaquistão, um aliado da Rússia, não está sujeito ao embargo da UE, nem entra em conflito com a proibição voluntária da Alemanha de deixar de comprar petróleo da Rússia via oleodutos.
Ele é bombeado primeiro para a Rússia, onde é misturado com petróleo bruto russo antes de ser exportado dos portos marítimos russos. No ano passado, o Cazaquistão rebatizou sua carga como KEBCO para dissociá-la do REBCO (mistura de petróleo bruto de exportação da Rússia) — também chamado de Urais — para evitar cair na mira das sanções ocidentais.
No entanto, a mistura de petróleo bruto na Rússia levantou preocupações, especialmente na Polônia, por onde o petróleo do Cazaquistão fluirá para a Alemanha, de que seria difícil determinar a origem do petróleo.
O ministério da economia alemão diz que, embora seja inevitável que algum petróleo russo acabe na Alemanha, é importante que nenhum dinheiro esteja fluindo diretamente para a Rússia, pois o suprimento de petróleo seria comprado de uma empresa cazaque, não russa.
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