Hello Kitty: MP diz que então comandante de batalhão de São Gonçalo mandou matar traficante
Gilmar Tramontini da Silva, tenente-coronel, que em 2023 era comandante do 7º BPM (São Gonçalo) — Foto: Divulgação
Na denúncia do Ministério Público do Rio (MPRJ) contra 11 PMs pela morte de Rayane Nazareth Cardozo da Silveira, a Hello Kitty, de 21 anos, e de outros três homens, a promotora Renata de Vasconcellos Araújo Bressan sustentou que quem mandou matar a traficante foi o então comandante do 7º BPM (São Gonçalo), o tenente-coronel💥️ Gilmar Tramontini da Silva.
Os quatro foram mortos durante uma operação policial Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, em julho de 2023. À época, Kitty era a mais procurada do estado pelos crimes que cometia.
A Justiça do Rio aceitou a denúncia, e o grupo virou réu por 💥️homicídio com agravante. Todos os PMs foram afastados das ruas no dia 28 de fevereiro, segundo a PM.
O g1 tenta contato com Tramontini, que atualmente está lotado no Gabinete de Segurança Institucional – responsável por fazer a segurança do governador.
2 de 2 Rayane Nazareth Cardozo da Silveira, a Hello Kitty — Foto: Reprodução/Redes sociais
Rayane Nazareth Cardozo da Silveira, a Hello Kitty — Foto: Reprodução/Redes sociais
No dia da operação também morreram: 💥️Alessandro Luiz Vieira Moura, de 40, o Vinte Anos; 💥️Mikhael Wander Miranda Marins, de 30, e 💥️Victor Silva de Paula Faustino, de 21.
O MP destacou na denúncia que o grupo sabia onde estava Hello Kitty e o carro que ela usaria no dia em que foi atacada ao lado do seu bando. Além disso, o MP lembra que os policiais teriam forjado um sequestro de uma família para infringir a ADPF das Favelas que restringe a realização de operações no estado do Rio, exceto em hipóteses de emergência e excepcionalidade.
💥️Os réus são:
Segundo o MP, os militares ainda tentaram matar o traficante 💥️Ricardo Severo, o Faustão, que conseguiu correr para a mata e escapou. Faustão estava em um segundo carro.
De acordo com a promotoria, o tenente-coronel Tramontini, na condição de comandante do 7º BPM na época dos fatos, determinou a seus subordinados fossem até o bairro de Itaoca "e cumprissem suas ordens de executar a morte das vítimas".
Já 1º tenente Burgos, na qualidade de supervisor de operações do dia e comandante do GAT A (Grupamento da Atuação Tática Alfa 7), diz o MP, "coube a função de dirigir a ação de seus subordinados imediatos no terreno da operação, além de aderir ativamente à conduta do grupo, desferindo disparos na direção das vítimas", diz a denúncia.
O MP sustenta que o terceiro-sargento Pessoa e os cabos Brito, Ramos da Costa, Monteiro, França, Rocha, Neto, Silva e Oliveira, compunham o GAT A, "e na posição de executores, receberam de seus superiores hierárquicos a ordem ilegal de execução das vítimas, e a atacaram, desferiram diversos disparos de arma de fogo contra eles".
A promotora Renata de Vasconcellos Araújo Bressan afirmou que por conta da ADPF 635, que restringe a realização de operações no estado do Rio, exceto em hipóteses de emergência e excepcionalidade, Tramontini "fabricou motivação fictícia, consubstanciada em pretenso sequestro de uma família na Estrada de Itaoca, no Complexo do Salgueiro, para assim, conferir aparente legitimidade às suas ordens e à atuação de seus policiais", diz trecho da denúncia.
De acordo com o MP, "o comandante do 7º BPM, sempre aguçando os instintos de sua tropa, rotulando seus homens de 'caçadores' e representando-os pela figura de um leão aos brados de "Avante!", ordenou que os policiais militares lotados em sua unidade operacional se deslocassem à remota e conflagrada região onde, sabia-se, se homiziavam traficantes do Comando Vermelho, a fim de que os executassem".
O MP afirma que os PMs sabiam a placa conde estavam Alessandro, o Vinte Anos; Mikhael; Rayane, a Hello Kitty e Victor Faustino. O Ministério Público afirma que o 1º tenente Burgos foi o responsável por passar a cor e a placa do veículo.
Segundo o MP, após a interceptação do carro onde estavam Vinte Anos e Rayane, a Hello Kitty, os policiais dispararam "no mínimo 34 disparos, conforme o Laudo de Local", e matando o grupo.
A promotoria afirmou ainda que "dando sequência à ilegalidade que revestiu a operação, a fim de fugir à responsabilidade penal, induzindo a erro as autoridades reesposáveis pela persecução penal a ser instaurada, na medida em que recolheram os corpos das vítimas já falecidas, empilhando-os no interior do veículo blindado de transporte de pessoal e os apresentando no Hospital Estadual Alberto Torres, desfazendo o local do crime".
O MP destacou também que, Tramontini "solicitou o apoio de pessoas de operações especiais, para que se encetasse buscas ao "sujeito baleado, a saber, Ricardo Severo". Equipes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Ação com Cães (BAC), pois, foram acionados por ordem do então secretário da PM, coronel Rogério Figueiredo de Lacerda, e se deslocaram até a estrada do Complexo do Salgueiro, onde se encontraram com Tramontini, de quem receberam a missão de 'localizar o Faustão'".
A promotora sustentou na denúncia que "apesar de qualificados para atuar em missões com reféns, as equipes do Bope e BAC não receberam qualquer ordem de buscas à suposta família sequestrada, cuja notícia, restou, portanto, evidente, não passara de mero subterfúgio para o comandante do 7º BPM e seus subordinados justificarem sua atuação, os quais posteriores comemoraram a operação, adjetivada de 'épica, conforme publicação no Facebook de Burgos".
Por fim, o MP afirma que o bando desviou do desempenho da atividade policial e que eles cometeram desvios.
A denúncia foi aceita pela juíza Juliana Bessa Ferraz Krykhtine, titular da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, no dia 15 de fevereiro.
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