Quem está por trás dos casos de meninas envenenadas no Irã?
Mais de 500 pessoas já morreram desde o início dos protestos no Irã, em setembro de 2022 (imagem ilustrativa) — Foto: REUTERS - NACHO DOCE
Desde novembro de 2022, relatos de envenenamentos misteriosos em escolas femininas e dormitórios estudantis para meninas no Irã vêm se multiplicando. Até esta quinta-feira (02), 💥️mais de mil alunas em 15 cidades do país teriam sido envenenadas.
"Em 90% dos casos devido ao estresse", disse o ministro do Interior iraniano, Ahmad Vahidi, em entrevista coletiva na quarta-feira, após ter sido convocado pelo presidente Ebrahim Raisi para investigar os incidentes.
Já o vice-ministro da Saúde do Irã, Yunus Panahi, sugeriu no domingo que o objetivo dos ataques seria fechar as escolas femininas. Na terça-feira (28), o Parlamento abordou a questão, e o procurador-geral, Mohammad Jafar Montazeri, iniciou uma investigação.
"Os pais estão protestando em frente às escolas", disse à DW uma mãe de 47 anos que vive em Teerã. 💥️"Muitos estão pensando em não mandar mais suas filhas para a escola. Tenho uma filha adulta que é estudante. Ela conta que esses ataques com gás venenoso começaram em dormitórios durante os protestos em todo o país. Falou-se disso por meses, mas ninguém levava a sério."
O conselho de coordenação dos sindicatos de💥️ professores iranianos convocou um 💥️protesto nacional para a semana que vem.
"Quem está por trás desses ataques precisa saber que a segurança das alunas é a nossa linha vermelha", postou em redes sociais Mohammed Habibi, o mais conhecido membro do sindicato de professores iranianos em Teerã. Nos últimos anos, Habibi foi preso diversas vezes por fazer convocações de greves.
Na internet, é possível encontrar inúmeras mensagens e vídeos de meninas e estudantes envenenadas em diferentes partes do país.
2 de 2 No Irã, mulheres fogem da polícia durante protesto. — Foto: Associated Press
No Irã, mulheres fogem da polícia durante protesto. — Foto: Associated Press
Ex-ministro da Defesa e general da Guarda Revolucionária, Vahidi está há anos na lista de procurados da Interpol por participação em atos criminosos. Entre eles, pelo envolvimento no atentado de 1994 ao Centro Comunitário Judaico em Buenos Aires, no qual 85 pessoas foram mortas.
"A afirmação de Vahidi é ridícula", disse a jornalista Moloud Hajizadeh em entrevista à DW. "Nos últimos dez a quinze anos, o aparato de poder no Irã instalou uma densa rede de câmeras de vigilância no país. As autoridades sabem até quem dirige em qual carro sem lenço na cabeça. O proprietário do automóvel recebe imediatamente uma mensagem de texto com um aviso.
As autoridades de segurança dizem inclusive saber exatamente quem esteve envolvido em qual protesto e quando. Os manifestantes são geralmente presos em casa em uma questão de dias. E agora eles alegam não saber como mais de mil alunas foram envenenadas?"
Hajizadeh já foi presa diversas vezes por reportar sobre os protestos no Irã. Em janeiro de 2023, foi condenada a um ano de prisão. Pouco antes de iniciar o cumprimento de sua sentença, ela fugiu do Irã e hoje vive na Noruega.
"Tenho assistido a esses ataques desde novembro e falado sobre eles na internet. Eles me lembram os ataques com ácido na cidade de Isfahan em 2014. Naquela época, dezenas de mulheres foram atacadas com ácido porque não estariam usando o hijab de maneira apropriada. Eram ataques organizados por homens jovens que jamais foram presos, assim como agora nesses ataques organizados."
Na ocasião, o país estava tomado pelos protestos desencadeados pela morte de Jina Mahsa Amini em setembro. A jovem curda de 22 anos estava sob custódia da polícia da moral iraniana após ter sido detida por não usar o véu islâmico obrigatório sobre a cabeça.
Segundo a liderança iraniana, os protestos estariam sido fomentados por jornalistas e "potências estrangeiras". Já os envenenamentos têm sido atribuídos à Israel e ao movimento oposicionista Organização dos Mujahidin do Povo Iraniano.
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