Títulos da última moratória da Argentina penam no mercado

Argentina

Os papéis, promovidos como prêmios de consolação para credores que tomaram calote depois que a 💥️Argentina deixou de honrar US$ 95 bilhões em dívidas em 2001, estão sendo negociados por uma ninharia (Imagem: Jonathon Nackstrand/Reuters)

Perdidos no turbilhão dos mercados argentinos nas últimas duas semanas estão quase US$ 1 bilhão em ativos atípicos que tiveram retorno nulo por sete anos consecutivos.

Os bônus atrelados ao crescimento do PIB na segunda maior economia da América do Sul tiveram as maiores quedas entre os instrumentos financeiros do país, mesmo em meio à carnificina no mercado após a derrota do presidente 💥️Mauricio Macri nas eleições primárias para 💥️Alberto Fernandez. Agora, investidores se preparam para o que pode ser a terceira reestruturação da dívida do país em uma década e meia. As perspectivas são desanimadoras.

Os papéis, promovidos como prêmios de consolação para credores que tomaram calote depois que a 💥️Argentina deixou de honrar US$ 95 bilhões em dívidas em 2001, estão sendo negociados por uma ninharia. Nem mesmo um assessor da campanha de Fernandez expressa confiança de que os títulos vão gerar ganhos tão cedo. Em teleconferência com investidores na semana passada, Emmanuel Alvarez Agis citou o crescimento potencial de não mais de 2%, portanto abaixo do patamar de 3% que acionaria os pagamentos, explicou Alejo Costa, estrategista do 💥️BTG Pactual Group em Buenos Aires.

“Se for o caso e o PIB potencial da Argentina for 2%, então o título não vale nada”, disse Costa, que estima o valor de mercado dos instrumentos em US$ 976 milhões.

Alvarez Agis não retornou pedido de comentário da reportagem.

“Diante do medo de default, duvido que muita gente acredite que o PIB vai subir”, disse Ray Zucaro, diretor de investimentos da RVX Asset Management, em Miami. Zucaro conta que vendeu seus títulos atrelados ao PIB anos atrás.

Inicialmente, os papéis tiveram bom desempenho. A recuperação da recessão enfrentada entre 1998 e 2002 gerou pagamentos para detentores dos títulos em seis dos primeiros sete anos de vigência. De lá para cá, a economia deixou de atingir as metas. Os bônus atrelados ao PIB caíram mais de 50% desde a eleição primária e já perderam mais de dois terços do valor desde o pico atingido em outubro de 2017, que foi de apenas 12% do valor de face.

O tombo dos instrumentos argentinos é comparado ao sucesso de títulos semelhantes da Ucrânia. Com o crescimento da economia, o valor das notas triplicou depois de atingir o menor patamar histórico em novembro de 2016.

Se os títulos argentinos voltarem a gerar pagamentos, o país precisaria desembolsar bilhões de dólares. No início do mandato de Macri, o governo tentou recomprar os papéis — que o ministro das Finanças, Alfonso Prat-Gay, uma vez chamou de “grande fiasco” da reestruturação da dívida. O plano foi depois descartado.

Os maiores detentores dos papéis denominados em euros são Moneda Asset Management, Value Partners Group e St James’s Place, segundo dados compilados pela Bloomberg. Suas fatias representam apenas 2,8% dos títulos em aberto. Representantes de Moneda e St James’s Place se recusaram a comentar. A Value Partners não retornou o contato da reportagem.

Processos judiciais tornaram a situação ainda mais complexa.

O fundo de hedge Aurelius Capital Management, de Nova York, um dos mais atuantes na novela da moratória que se arrasta há 15 anos, processou o país outra vez no início do ano, argumentando que a mudança no cálculo do PIB durante o governo da ex-presidente Cristina Fernandez de Kirchner impediu que a firma recebesse US$ 61 milhões pelo crescimento registrado em 2013. A questão é o ano-base para cálculo da variação do PIB. Outro agravante é que o instituto nacional de estatística sugeriu que pode mudar as regras novamente.

Um porta-voz da Aurelius se recusou a comentar. A Argentina declarou em documentos judiciais que efetuou todos os pagamentos exigidos, totalizando quase US$ 10 bilhões, e pediu arquivamento das queixas.

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