Preços dos bônus argentinos caem e risco-país dispara com plano sobre dívida
O peso argentino abriu em queda de 3% nesta quinta-feira, tendo perdido 22% de seu valor desde que a derrota de Macri nas eleições primárias praticamente eliminou suas chances de ser reeleito em outubro (Imagem: Reuters/Marcos Brindicci)
Os preços dos ativos da Argentina tiveram forte volatilidade nesta quinta-feira, o risco-país disparando para níveis não vistos desde 2005, depois que o governo anunciou planos de “mudar o perfil” de 100 bilhões de dólares de suas dívidas, deixando investidores em dúvida sobre quais tipos de ônus eles podem enfrentar.
A mais recente leva de volatilidade no país, afetado pela recessão e pela inflação, começou quando o presidente Mauricio Macri sofreu uma derrota inesperada e esmagadora nas eleições primárias de 11 de agosto, de onde se saiu vitorioso o oposicionista Alberto Fernández.
Isso tem preocupado investidores, os quais temem que o retorno da esquerda ao poder possa causar outra reestruturação da dívida na terceira maior economia da América Latina.
Uma reformulação da dívida já era esperada quando o ministro da Fazenda, Hernán Lacunza, disse na quarta-feira que o governo quer estender os prazos de vencimento de sua dívida com credores privados e com o Fundo Monetário Internacional (FMI), como forma de assegurar sua capacidade de pagamento.
O peso argentino abriu em queda de 3% nesta quinta-feira, tendo perdido 22% de seu valor desde que a derrota de Macri nas eleições primárias praticamente eliminou suas chances de ser reeleito em outubro. No fim, a moeda fechou em leve alta de 0,35%, a 57,9 por dólar nesta sessão, segundo operadores.
Os spreads dos títulos argentinos sobre os Treasuries, que medem o risco de default, chegaram a disparar 184 pontos-base nesta quinta-feira, para 2.256 pontos-base, segundo o índice de títulos de mercados emergentes do JP Morgan.
A corretora de investimentos em mercados emergentes Tellimer calcula que 7 bilhões de dólares em dívidas de curto prazo, 50 bilhões em dívidas de longo prazo e 44 bilhões em dívidas com FMI podem estar sujeitos a uma revisão.
Lacunza afirmou que a operação de “reformulação de perfil” de dívidas afetará investidores institucionais e não individuais.
Ele disse que enviará um projeto de lei ao Congresso para aprovar mudanças nos títulos pelas leis locais. As conversas com os operadores que detém os títulos devem começar em breve, mas provavelmente serão concluídas pelo governo que vencer as eleições gerais de outubro e tomar posse em dezembro. Fernández é agora o líder na corrida presidencial.
Medidas Legislativas
Apenas na quarta-feira, O banco central argentino gastou 367 milhões de dólares de suas reservas em intervenções no mercado de câmbio, parte de um esforço para defender o peso.
“O anúncio preventivo da administração Macri de voluntariamente rever o perfil de sua dívida mostra desespero com o fluxo de caixa depois de perdas consistentes de reservas internacionais”, afirmou Siobhan Morden, estrategista-chefe de renda fixa para América Latina na Amherst Pierpont Securities, em Nova York.
Entre os principais credores da Argentina está o Fundo Monetário Internacional (FMI), com quem um país tem um acordo de crédito no valor de 57 bilhões de dólares. Fernández já disse que quer renegociar o acordo, que impôs medidas de austeridade que afetaram a popularidade de Macri e contribuíram para sua derrota expressiva nas votações primárias.
A revisão do perfil da dívida vai começar por passivos de curto prazo denominados em peso e dólares, mas emitidos sob legislação doméstica, disse Lacunza. Isso demandará aprovação do Congresso.
O parlamentar Eduardo Amadeo, aliado de Macri, disse à Reuters que o Congresso vai definir os prazos de extensão da dívida. “É algo que ainda não foi decidido”, afirmou.
A administração Macri precisará de apoio de Fernández e de parlamentares peronistas de oposição para aprovar a iniciativa.
“A oposição pode transformar o debate no Congresso em algo bem dolorido para eles e salientar que mesmo a necessidade de debater essa medida é um fracasso das políticas do governo”, afirmou Megan Cook, especialista em risco político e regulatório do Cafeidas Group
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