Sidnei Nehme: Setembro não sugere mutações no câmbio no Brasil, preço atual parece conveniente!
Colunista faz análise do câmbio e proveta perspectivas para o mês
A impressão que passa a predominar na nossa percepção para este mês de setembro é que o câmbio deve permanecer com preço no entorno de R$ 4,15 ao longo do período, ancorado pelo programa de intervenção já anunciado pelo BC e que está em vigor desde ontem, que envolve a pretensão de ofertar US$ 11,6 Bi em moeda efetiva no mercado à vista, combinado com oferta de “swaps cambiais reversos” de igual monta, algo como US$ 580,0 M diariamente.
Não há fatores de curto prazo que sugiram mudança de comportamento de fluxo cambial para o país, nem mesmo diminuição da aversão ao risco predominante na economia mundial que atinge, principalmente, os países emergentes, entre os quais o Brasil.
As reformas em andamento no país são fatos positivos, mas não têm ainda o efeito catalisador para alterar a baixa atratividade que o Brasil desperta, a despeito de dados recentes terem deixado evidente que o quadro da atividade econômica é menos ruim do que se imaginava, mas ainda sem potencial que possa sustentar melhora consistente no curto/médio prazo.
O Brasil deve persistir, a despeito dos dados melhores, com o perfil de estagnação pois o cenário global é pouco contributivo para que retome sua atividade econômica, que está carente de investimentos estruturais, tanto por parte do governo quanto do setor produtivo, mas o governo está sem condições para tanto e o setor produtivo sem motivação, pois detém elevada capacidade ociosa e estoques.
Não temos descartado que o governo tenha interesse em manter o preço do dólar apreciado com intensidade maior do que seria razoável, e que os leilões do BC tem esta função de não só dar liquidez no mercado à vista pela carência de fluxos cambiais positivos, mas ao combinar com swaps cambiais reversos retirando “hedge” do mercado futuro, acaba por dar sustentação ao preço do real relativamente mais depreciado do que seria plausível no momento.
Copiando modelo chinês? Não se pode descartar que haja uma estratégia de manter o real mais desvalorizado para dar uma impulsão à atividade econômica focada no mercado exportador e, também, nível melhor de remuneração no agronegócio exportador que demonstrou alguma queda no PIB do 2º trimestre, e têm enormes possibilidades de elevar sua participação no mercado externo face ao embate entre China e Estados Unidos.
Na margem o foco também seria a tentativa de melhorar o fluxo cambial para o país, que, a rigor, se nada acontecer de diferente, ainda tende a perdurar negativo.
Esta seria uma alternativa ousada visto que a economia interna está sem potencial de incrementar a atividade, mas com foco no estímulo às exportações o país poderia dinamizar sua atividade econômica, gerando empregos, renda e consumo e com isto, gradualmente, revitalizando a atividade econômica interna.
Mas o fato é nesta estratégia há o impacto no preço dos combustíveis que afetam os preços relativos da economia, na medida em que o modal do transporte brasileiro é 70% rodoviário.
Por outro lado, dólar com preço alto pode ser um fator de forte inibição para a queda da taxa SELIC, decisão que vem sendo requerida fortemente pelo mercado financeiro em especial, como consequência da consistente queda da inflação.
Dólar com preço mais elevado torna o Brasil “mais barato” para os investidores estrangeiros que andam um tanto quanto reticentes em relação ao país, e com a manutenção da SELIC e eventual queda do juro americano, poder-se-ia avaliar com grande aperto o retorno dos recursos das operações de “carry trade” direcionadas para o Brasil.
Esta perspectiva se confirmada poderia trazer algum alento à Bovespa, mas com fluxo de capital especulativo, se bem que abaixo das melhores expectativas que já predominaram no ano.
Enfim, setembro não se configura promissor, mas também não deve proporcionar nada muito preocupante, tendendo ser um mês muito linear, “andando de lado”, até que o mundo se acalme da intranquilidade presente e das perspectivas preocupantes de riscos de recessão em algumas economias relevantes.
O problema da Argentina, afora os reflexos no comércio exterior, não devem nos afetar pois temos um quadro cambial bem defendido e embora nossa atividade econômica ainda persista cambaleante estamos na direção certa, precisando, contudo, ganhar tração, velocidade.
O Brasil, acreditamos, até o final do ano “é uma questão de paciência” visto que está incapacitado de proporcionar acentuadas alterações nas perspectivas, mas será alentador se persistir na gradual, a despeito de lenta, recuperação da atividade econômica e geração de empregos.
Fluxos cambiais mais relevantes e sustentáveis não são previsíveis no curto/médio prazo, visto que a aversão ao risco deve prevalecer por um bom período e a questão China e Estados Unidos ainda deve perdurar por muito tempo.
Enfim, este tende a ser um período de muitas dúvidas e poucas certezas.
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