Cana: “saldo positivo” desta e da safra 2023 precisa ser investido no campo e evitar saída de produtores
Produtividade da cana melhorou nesta safra, ajudando a dar mais folga para os fornecedores independentes e usinas (Imagem: REUTERS/Marcelo Rodrigues Teixeira)
Quando a safra de cana do Centro-Sul sair da reta de chegada na qual está quase entrando, renderá saldo positivo em valores da matéria-prima e em produtividade. O ciclo seguinte também já se apresenta favorável. Mas mesmo pegando o negócio descapitalizado por no mínimo três safras, a folga precisa ser aproveitada em investimento na lavoura, sob pena de se continuar a assistir a saída de pequenos produtores e a concentração do fornecimento.
O resumo da análise do Pecege, centro de estudos e projetos voltados para o agronegócio, em especial da sucroenergia, olha principalmente o produtor independente. E, por esse ângulo, Haroldo Torres, um dos coordenadores, avalia que apesar de certa queda no total de açúcar recuperável (ATR), as condições não foram tão ruins e o valor mínimo deverá ficar em torno do R$ 0,61/kg que está vigendo atualmente, quando a colheita está passando dos 75%.
Longe do ideal, mas melhor do que os últimos anos.
Destaque também é o “ganho de produtividade, entre 10% e 15%, na safra 19/20”, explica o economista. A média de produtividade, que ajudou no “saldo positivo”, também chegou à cana própria de unidades industriais. Torres comenta que na São Martinho a produtividade cresceu 15%, conforme soube ontem diretamente da fonte.
A sequência positiva da canavicultura vai seguir em qualidade da cana para a temporada próxima, quando as projeções do Pecege indicam R$ 0,65/kg de ATR, e um ganho adicional de produtividade. “Mas se os produtores e usinas não melhorarem o manejo do canavial e renovar áreas, vão continuar andando de lado e ficar apenas à mercê do clima”, argumenta o economista.
Os valores são os preços mínimos indicados pelo Consecana, entidade setorial hoje pouco representativa e balizando basicamente produtores em regiões de baixa competitividade pela matéria-prima. O Noroeste e Oeste de São Paulo são duas dessas regiões, com poucas unidades industriais e onde também, de acordo com o coordenador de projetos do Pecege, muitos pequenos estão saindo do negócio da cana. Uns indo para a soja e muitos virando arrendatários.
Nesse ponto que Torres mostra a inversão do que foi o passado do setor. Antes muito pulverizada a base de fornecedores, hoje vai se estreitando, com arrendamento direto dos médios e grandes produtores e de usinas que transferem áreas arrendadas para estes, espécies de franqueados.
“Os grandes são 20% dos fornecedores independentes, mas entregam cerca de 80% da cana”, avalia o especialista, lembrando que na safra passada os independentes totalizaram 132 milhões de toneladas no Centro-Sul, sendo que na base Orplana (organização que agrega as entidades regionais) foram em torno de 60 milhões de toneladas.
Só a Cosan produz quase tudo isso sozinha.
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