Sonho do lítio enfrenta choque de realidade na América do Sul

Enquanto isso, uma empresa chilena que monta baterias com componentes importados não consegue obter células de lítio suficientes para garantir suas vendas no Chile (Imagem: Cristbal Olivares)

A América do Sul controla cerca de 70% das reservas mundiais de lítio, o metal usado em baterias recarregáveis de celulares e veículos elétricos, mas não dispõe da infraestrutura necessária para que o setor se desenvolva.

As instalações de refino de 💥️lítio e montagem de baterias podem ajudar a impulsionar setores em economias muito dependentes de commodities para obter receita, o que coloca esses países em risco devido às acentuadas oscilações de preços.

Até agora, porém, iniciativas de governos e do setor privado na 💥️Argentina, 💥️Bolívia, 💥️Brasil e 💥️Chile não conseguiram erguer uma única fábrica de células de lítio. E não há previsão de que haja alguma antes de 2025.

O 💥️Chile, o segundo maior produtor mundial de lítio, cuja produção é liderada pela 💥️Austrália, oferece talvez o melhor exemplo de uma iniciativa que saiu da rota. Um projeto de células de lítio de US$ 285 milhões de dólares de duas empresas sul-coreanas foi cancelado em junho, quando a queda dos preços do lítio reduziu os incentivos do governo para o metal.

Enquanto isso, uma empresa chilena que monta baterias com componentes importados não consegue obter células de lítio suficientes para garantir suas vendas no Chile.

“O tamanho da oportunidade é enorme”, disse James Ellis, chefe de pesquisa para a América Latina da BloombergNEF. “Faz sentido tentar subir na cadeia de valor. Mas, quando você olha para o que é planejado globalmente, não há ativos de fabricação de baterias na América Latina.”

Outros países da região enfrentam seus próprios desafios:

Argentina

O terceiro maior produtor de lítio do mundo também tem uma iniciativa apoiada pelo governo parada.

No ano passado, a italiana Seri Industrial formou uma joint venture com a estatal Jujuy Energy and Mining State Society, conhecida como JEMSE. O plano era construir uma unidade para fabricar células e cátodos de lítio, além de montar peças de bateria, usando lítio bruto extraído na província de Jujuy, na Argentina.

Mas a crise econômica e a possibilidade de o candidato da oposição Alberto Fernández vencer as próximas eleições presidenciais, nas palavras do presidente da JEMSE, Carlos Oehler, “esfriaram todos os projetos de investimento na Argentina, incluindo a construção de uma fábrica de baterias”.

Brasil

Na maior economia da América Latina, o ex-executivo da Tesla Marco Krapels e Peter Conklin, que trabalhou na SunEdison, fundaram a MicroPower-Comerc com o objetivo de fornecer grandes baterias recarregáveis para instalações comerciais e industriais. Mas o governo brasileiro quase não oferece subsídios para energia renovável, e os impostos de importação aumentam em cerca de 65% o custo das baterias.

Isso levou a empresa, que tem parceria com a Siemens, a considerar a compra de componentes no exterior e fazer a montagem no Brasil como forma de reduzir os custos.

Embora o mercado doméstico de grandes baterias quase não exista, a Krapels vê oportunidades no país, com uma rede de energia elétrica ocasionalmente instável e um mercado robusto para energia eólica e solar. Em entrevista no mês passado, o executivo disse que é um negócio para os “fortes” e que “há uma vantagem em ser o primeiro a entrar no mercado”.

Bolívia

A Bolívia não conseguiu produzir volumes significativos de lítio ou produtos de lítio. Mas possui o maior salar do mundo, cobrindo 6.437 quilômetros e com mais de 15% dos recursos de lítio não minerados do mundo.

Uma usina-piloto administrada pela Yacimientos de Litio Bolivianos, ou YLB, produziu perto de 250 toneladas de carbonato de lítio em 2018, e a meta do país é alcançar 150 mil toneladas em cinco anos em parceria com empresas alemãs e chinesas. Se for bem-sucedida, a Bolívia se tornará um dos maiores produtores.

Chile

O produtor de lítio tentou incentivar empresas de baterias a construir fábricas no país, obrigando mineradoras a vender lítio com desconto. A iniciativa atraiu o interesse de gigantes, como Samsung SDI e Posco em 2017, quando os preços do lítio atingiram recordes de alta.

Mas, desde então, os preços caíram cerca de 30% e, no início deste ano, as empresas abandonaram planos de construção de fábricas.

Mesmo empresas que embarcaram em iniciativas menos ambiciosas enfrentam obstáculos. No sul do Chile, a Andesvolt atualmente importa componentes de baterias para montagem na cidade de Valdivia.

A empresa fornece baterias de íons de lítio para concessionárias como a Enel Americas, que as instala como energia alternativa em unidades industriais, comerciais e residenciais em todo o país.

A Andesvolt espera produzir 1.000 quilowatt-hora este ano, acima dos 200 quilowatt-hora de 2018. Mas tem achado tão difícil importar células de lítio que avalia construir a primeira fábrica de células de lítio da América do Sul, e assim evitar interrupções das importações de células da China, disse o fundador e CEO David Ulloa.

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