Ministro Guedes esperou décadas para mudar o Brasil e não desistirá agora

Investidores animados com a indicação de Guedes ao Ministério da Economia, com ideias do mercado financeiro que influenciariam remodelação da nona maior economia do planeta (Imagem: Reuters/Amanda Perobelli)

Quando 💥️Paulo Guedes se tornou superministro, investidores se animaram com a perspectiva de que um gestor de fundos impecavelmente orientado pelas ideias do 💥️mercado financeiro ganhasse poder praticamente irrestrito para remodelar a nona maior 💥️economia do mundo.

Dez meses depois, contudo, Guedes e seus apoiadores já entenderam como o governo realmente funciona e que 💥️Jair Bolsonaro, o ex-capitão do Exército que já declarou não saber nada sobre economia, é quem manda nessa área.

Ao longo deste ano, o presidente interveio ou descartou propostas da equipe econômica. Bolsonaro vetou, por exemplo, a recriação da 💥️CPMF, deixou militares fora da 💥️reforma da Previdência e chegou a ameaçar mudar o teto de gastos públicos & algo impensável para um “Chicago Boy”, como Guedes.

Ainda assim, o ministro, que ameaçou algumas vezes deixar o cargo nos primeiros meses do 💥️governo, agora diz que está na corrida para ficar. “Enquanto o presidente confiar em mim, eu estarei lá”, disse em uma entrevista em seu escritório. “Ele me deu cinco ministérios, eu tenho uma equipe maravilhosa e ele nos deu um escudo para trabalhar.”

Membros da equipe econômica dizem que Guedes se acostumou com o estilo do presidente e quer permanecer no cargo para deixar o legado de uma política que ele defende desde os anos 80. Para além da reforma da Previdência, isso inclui um amplo programa de 💥️privatizações e a contenção da bola de neve do endividamento público.

“As taxas de juros despencaram depois que assumimos e dissemos que iríamos manter o teto de gastos. Demos um basta nos gastos públicos e agora vamos reduzir impostos e o custo da energia”, disse o ministro.

Longa espera

“Ele esperou 30 anos por esse momento”, disse Fabricio Taschetto, sócio e diretor de investimentos da Ace Capital. “Desde a redemocratização, o 💥️Brasil implementou o oposto das políticas em que Paulo Guedes acredita. Agora é o momento de implementar suas ideias e ver o resultado.”

Os investidores agora comemoram o avanço com a reforma da Previdência, mas também querem ver resultados em outras áreas. A recuperação da economia, por exemplo, ainda é tímida e a taxa de 💥️desemprego está em dois dígitos. Mas Guedes afirma que “não tem pressa”.

Recuperação da economia, por exemplo, ainda é tímida e a taxa de desemprego está em dois dígitos (Imagem: Marcello Casal jr/Agência Brasil)

O mais importante é que a economia brasileira cresça de maneira saudável, acrescentou, dizendo que o presidente concorda com sua posição, apesar da pressão para mostrar resultados. “Todos os políticos estão com pressa”, disse. “O presidente entende que, se estivermos com pressa agora, podemos acabar como a 💥️Argentina.”

Nem todo mundo, no entanto, é tão otimista. “Até agora, a agenda econômica avançou muito pouco além da reforma da Previdência. Esse é o maior problema “, disse Richard Back, chefe de estratégia política da 💥️América Latina na 💥️XP Investimentos.

Pressão

Ainda assim, o que os investidores temem acima de tudo é uma saída repentina de Guedes. Alberto Ramos, economista-chefe da América Latina no 💥️Goldman Sachs, o chama de “ponto de referência para a política econômica brasileira”. Taschetto diz que toda a agenda econômica do governo depende do ministro e alerta que sua saída provocaria um “colapso total”.

A pressão sobre o ministro está aumentando à medida que Bolsonaro fica impaciente com a recuperação lenta da economia e com a falta de recursos disponíveis para investimento público, de acordo com um membro de sua equipe que pediu anonimato para falar livremente.

A resposta de Guedes, segundo a pessoa, é que os resultados estão começando a aparecer e que agosto & quando o índice de atividade econômica do 💥️Banco Central subiu apenas 0,07% em relação ao mês anterior & pode ter sido o ponto mais baixo. Por enquanto, 💥️Bolsonaro continua, em suas próprias palavras, “100%” comprometido com seu ministro.

Jair Bolsonaro

Por enquanto, Bolsonaro continua, em suas próprias palavras, “100%” comprometido com seu ministro (Imagem: Reuters/Adriano Machado)

Se não faltam fãs de Guedes no mercado financeiro, no 💥️Congresso ele tem menos amigos. Seu estilo explosivo lhe rendeu rusgas com parlamentares. Em uma audiência na 💥️Câmara, ele quase foi às vias de fato com o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), que o acusou de ser “tchutchuca” com os ricos e “tigrão” com os pobres.

Desta forma, Guedes não seria a pessoa mais indicada para vender a agenda econômica do governo no Legislativo. Mas a relutância de Bolsonaro em desempenhar esse papel significa que Guedes acaba tendo que entrar em campo, segundo Richard Back.

CPMF

Uma divergência entre Bolsonaro e a equipe de Guedes sobre a recriação da CPMF, por exemplo, acabou adiando a apresentação da proposta do governo para a 💥️reforma tributária & um dos pilares da política econômica além da reforma da Previdência.

Na ausência de um plano do Executivo, o 💥️Senado e a Câmara já estão debatendo suas próprias propostas, deixando Guedes e sua equipe fora dos holofotes por enquanto.

Outra área política importante & o limite constitucional para gastos públicos & também se tornou um ponto sensível. O presidente sinalizou repetidamente sua frustração com a regra que muitos investidores consideram essencial para garantir a credibilidade da política fiscal.

.Presidente Jair Bolsonaro e ministro Paulo Guedes

Guedes ligou para Bolsonaro para dizer que a redução do limite de gastos prejudicaria a imagem do país entre os investidores (Imagem: Reuters/Adriano Machado)

Alarmado, Guedes ligou para Bolsonaro para dizer que a redução do limite de gastos prejudicaria a imagem do país entre os investidores. O ministro argumentou que o presidente deveria apoiar a ideia de desvincular o 💥️Orçamento federal. Atualmente, mais de 90% dos gastos primários de R$ 1,4 trilhão são obrigatórios.

Essa será a próxima proposta a ser encaminhada ao Congresso, já na semana que vem. Segundo o ministro, trata-se de um conjunto de medidas que vão dar mais flexibilidade para a alocação de recursos públicos.

Entre elas está a criação de um arcabouço legal para que estados, municípios ou a própria União possam adotar medidas duras de ajuste fiscal, como cortar jornada e salário de servidores, quando suas contas estiverem desequilibradas.

Guedes gosta de recorrer a uma metáfora testada e comprovada para explicar por que reanimar o leviatã do estado brasileiro é um processo tão doloroso. “Eles arpoaram uma baleia por 40 anos”, disse. “Eles fizeram sangrar até quase morrer. Até agora, acabamos de retirar um arpão: pensões. Vamos continuar fazendo isso.”

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