Felipe Miranda: o ano não acabou (ou como ser um craque dos investimentos?)

Colunista discorre sobre possibilidades de ganhos em dezembro (Imagem: Empiricus Research)

Entramos em dezembro. Isso não haveria de dizer muita coisa se fôssemos seres estritamente racionais — ao menos no sentido que a Teoria Econômica atribui à racionalidade. É um dia como outro qualquer, dentro de uma construção gregoriana para nos dar um conjunto de regras e estruturas em prol de uma maior organização das coisas. Nada além.

Na prática, porém, sabemos que as coisas não são assim. Se até um bom café da manhã influencia na decisão de juízes sobre prazos de condenação (sim, é verdade, isso foi estudado), imagine as múltiplas influências sob as quais estamos lidando sem perceber. De forma deliberada ou não, ao menos dois sentimentos tendem a nos visitar nessa época do ano.

O primeiro é de um certo relaxamento, uma complacência e uma tendência à procrastinação. Deliberações de fim de ano? Você está com a cabeça em janeiro, é isso?

Pensamos num balanço de 2023, nas perspectivas para 2023, nas festas de final de ano e na viagem para Miami (mesmo que Miami seja aqui em Long Beach, nossa Praia Grande).

Tudo isso como se o ano corrente já tivesse terminado, não havendo muito o que fazer. Aqueles com bons retornos em 11 meses colocariam as costas na parede, evitando surpresas de última hora e garantindo a boa taxa de performance semestral — estão mais interessados em sua própria remuneração e na preservação do seu negócio do que propriamente em seus cotistas.

Outros com desempenho ruim em 2023 jogam a toalha antes da hora, torcendo (porque não me parece haver um verbo melhor para esse caso) por um 2023 mais profícuo.

Ora, não há razão para isso. Poucos dias fazem toda a diferença. O balanço do ano faremos em 30 de dezembro de 2023, depois que o pregão fechar. Pegue a amostra de retornos diários do Ibovespa ou do S&P 500 nos últimos dez anos. Retire as dez maiores altas diárias e recalcule o retorno acumulado. A diferença é assustadora. Apenas dez dias num intervalo de dez anos mudam por completo a coisa. Você não pode se dar ao luxo de perder um dia desses — e, claro, ele pode acontecer em dezembro, por que não?

Há muita gente, muita gente mesmo, com boa iniciativa no mercado financeiro. Agora, com terminativa existem bem menos gente. A capacidade de persistir até o final, de seguir firme numa tese quando ninguém mais acredita e de, se estamos com ótimos retornos, darmos um passo além, na direção de excelentes retornos.

Stanley Druckenmiller apresenta a ideia de forma brilhante no livro “The New Market Wizards”:

“George Soros tem uma filosofia que eu também adotei para mim. A maneira para construir retornos consistentes de longo prazo é por meio da preservação de capital e de alguns home runs.

Você pode ser muito mais agressivo quando está tendo bons lucros. Muitos gestores, quando sobem 30% ou 40%, encerram seu ano ali — isto é, passam a agir muito cautelosamente no resto do exercício, como forma de preservar o bom retorno acumulado até ali. A forma, porém, de apurar retornos verdadeiramente superiores no longo prazo é produzir retornos de 30% ou 40% e, então, se você ainda tiver convicções, perseguir 100% no ano!

Se você puder reunir uns poucos anos de retornos próximos a 100% e evitar períodos de retornos muito negativos, então assim atingirá retornos espetaculares no longo prazo.”

A Carteira Empiricus sobe quase 30% neste ano. Ela é o que seria mais próximo aqui do nosso hedge fund, filosoficamente nosso fundo multimercado. Em termos pragmáticos, e falando aqui grosseiramente, ela pode ser encontrada como uma aproximação no fundo Vitreo Carteira Universa, cujo regulamento prescreve perseguir a nossa Carteira Empiricus.

O Universa bateu a marca de R$ 700 milhões de patrimônio líquido e, por isso, conforme o combinado, será fechado hoje para novas captações.

Foi com grande entusiasmo que, na sexta-feira, me impus um exercício pessoal, para ver se estávamos conseguindo atender aquilo a que nos propusemos na parceria com a Vitreo para o lançamento desse fundo: peguei a lista de todos os multimercados indicados aqui pela nossa série Os Melhores Fundos de Investimento.

Ordenei todos os seus retornos desde o dia do lançamento do Universa, com a cota do dia 28 de junho. Entrei no site da CVM para ver a performance do Universa e comparei as coisas. O melhor desempenho de todos é justamente do Universa.

Claro que cinco meses é um prazo muito curto. E claro também que não há aqui qualquer pretensão de uma comparação com os grandes gênios do mercado, dos quais sou grande fã e com quem tenho apenas a aprender. Sei também que podemos entregar tudo ao primeiro movimento no sentido de abaixar a guarda.

Mas é melhor começar subindo do que caindo. Não é uma opinião, uma elucubração, uma hipótese. É um fato objetivo, cota pública, difícil encontrar contra-argumentos. O lucro está no bolso daqueles que tiveram a confiança de aplicar no fundo.

E o que podemos fazer ainda em dezembro? Queremos nos manter de guarda alta, obstinados por estender esse retorno até os 45 minutos do segundo tempo. Ao melhor estilo Rodrigo Janot, enquanto houver bambu, lá vai flecha.

Entro na reta final do ano com três grandes temas na cabeça — além, claro, da questão estrutural do bull market secular, do “financial deepening”, da necessidade de se adicionar risco às carteiras do investidor brasileiro diante de um novo paradigma para a taxa básica de juro; aqui trato das movimentações na margem e do que é novidade.

Vejo uma economia global com indicadores recentes acima das projeções. PMIs superaram as estimativas hoje tanto na China quanto na Zona do Euro. Essa tem sido uma tônica desde o mês de outubro, afastando a hipótese de uma recessão global em 2023. Ao contrário, há indícios de uma aceleração na margem e já existem bons economistas revisando para cima suas projeções de crescimento mundial para 2023.

Como corolário, talvez seja a hora de uma pequena adição de nomes ligados a commodities nos portfólios, em especial de as siderúrgicas vierem a reagir muito mal ao anúncio de hoje de tarifação do aço brasileiro por Donald Trump.

Já temos aqui uma boa exposição ao setor petróleo, via Petrobras e PetroRio, mas ainda estamos underweight em commodities, de tal sorte que vamos monitorar de perto coisas como Usiminas, CSN, Vale e Gerdau para um eventual aumento de posição.

Também identifico boa oportunidade de entrada na curva de juros brasileira depois do “barata-voa” que rolou em novembro. Juros reais intermediários e longos ainda bem atrativos, dado o contexto mundial e local. Carrego bastante bom e exageros sobre a preocupação do impacto do dólar sobre a inflação.

Por fim, entro em dezembro com uma vontade danada de participar do IPO da XP. Para mim, é a oferta de ações da década e precisamos nos expor a isso de alguma forma.

Há muita coisa a se fazer ainda em 2023. Não é o momento de relaxamento. Precisamos evitar a tendência típica à complacência que nos acomete nessa época.

Se esse sentimento de “o ano já acabou” não pode nos contagiar, há um outro a que devemos nos render. Com uma educação jesuíta, eu acredito nessas coisas como “espírito de Natal”, ainda que não necessariamente sob roupagem religiosa. Como insiste Jimmy Hoffa no filme “O Irlandês”: “Solidarity, solidarity”. É um momento em que podemos parar para uma reflexão e retribuir um pouco as coisas boas que a Providência nos trouxe.

Estamos lançando algo muito bacana aqui neste ano, que eu espero se torne uma tradição pela próxima década. Gostaria de te convidar para nosso “Craque$ do Investimentos”.

Vai ser um jogo de futebol no Pacaembu em caráter beneficente, no próximo dia 17, às 9h. Eu vou estar ali na meia-cancha, fazendo a saída de bola, só passe de primeira, ao lado do Max e do Andrezão, armando para o Dantas e o João Pedro mais na frente.

A Empiricus doará uma tonelada de alimento para a Fundação Cafu. Todos os assinantes estão convidados a assistir ao jogo. Basta se cadastrar neste link: 💥️https://forms.gle/YXuSPoh4WWvBBgYb8. A entrada vai se dar por meio da doação de um kilo de alimento. Os assinantes do Empiricus World Class poderão entrar em campo — para isso, por favor, confirme a presença no telefone 4003-3117. Caso você queira fazer seu upgrade para esse plano, ainda há poucas vagas.

Jogaremos contra uma seleção de craques, como Luizão, Amaral, Júnior, Aloísio Chulapa (como marcar um cara deste tamanho?), Ademir da Guia (sim, o Divino!), Muller, Viola (ídolo de infância). Depois, aqueles que jogarem poderão estar conosco para um churrascão com muita cerveja, ao melhor estilo da boleiragem. Falaremos de investimentos também, é claro.

Uma oportunidade linda de estarmos juntos e ainda fazer o bem. Depois de um ano tão rico em termos de acertos nos investimentos, precisamos devolver um pouquinho à sociedade.

O que você está lendo é [Felipe Miranda: o ano não acabou (ou como ser um craque dos investimentos?)].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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