Pós-coronavírus: compras chinesas serão rápidas, mas normalidade só com economia plena

Importações chineses podem ter retomada mais rápida, mas não no ritmo de antes

Qualquer cidadão comum sabe que o tombo em economia é rápido, especialmente sob eventos críticos, mas a recuperação é sempre mais lenta. No capítulo chinês, prevendo a qualquer tempo o controle do coronavírus, não será diferente, por mais força e recursos financeiros que tenha um governo central forte para fazer a roda girar novamente.

Nesta quarta (5) os mercados ficaram mais animados com animadoras perspectivas de controle e remédios contra a epidemia, além da irrigação de recursos na economia com mais crédito e juros menores.

Mas quanto mais tempo durar a crise, mais os setores vão se desestruturando. É o caso de lembrar, como adverte o consultor em comércio exterior Michel Alaby, que algumas empresas no Brasil – e certamente outras ao redor do mundo – já começam a ter problemas com fornecimentos de insumos e componentes chineses.

Os importadores vão ter que deslocar compras de outros países e os atuais exportadores da China vão levar mais tempo para retomar seus mercados. Isso tudo gera um efeito cascata e o impacto no agronegócio global, que depende dos chineses, vai ser sentindo.

Vale destacar que sem citar a epidemia respiratória seguindo seu rastro, documento de Pequim falando das prioridades para 2023 cita que “as pressões econômicas internas e externas estão aumentando sobre a economia”, segundo despacho da agência Xinhua desta quarta (5). A expectativa de crescimento de 6% a 6,5%, já moderada para os padrões do país, certamente vai ser mais reduzida.

Formação de estoques

O tamanho e o tempo de estrago vai ser determinando, “mas podemos falar certamente em um ano ou mais de retomada normal considerando apenas se o primeiro semestre de 2023 estiver comprometido”, acredita o consultor.

“As importações de países que passam por crises acabam até tendo uma resposta mais rápida, especialmente dependendo da baixa formação de estoques, que deve ser o caso chinês, mas certamente não na mesma escala de negócios de antes, e o gradualismo vai aumentando no ritmo da volta da melhoria da atividade econômica”, avalia Alaby, consultor de comércio exterior da Associação Comercial de São Paulo e titular da Alaby Consultores Associados.

Durante mais de 30 anos como secretário-executivo da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, e responsável direto pelas relações comerciais com a Liga Árabe e na formação de missões comerciais, ele se recorda da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers, na sigla em inglês), que em 2014 se abateu sobre vários países. Longe do coronavírus árabe ter representado o que o atual chinês representa, freou as compras internacionais de forma abrupta.

Concorrência

Segundo Michel Alaby, a retomada das importações foi rápida levando-se em conta que a queda da atividade econômica não foi acentuada uma vez que os países árabes não têm produção industrial e na agropecuária são importadores mais líquidos que os chineses. Na China poderá ser outros quinhentos, lamenta ele.

Ninguém adivinha o timing de nada a esta altura do campeonato. Mas no limite, há que considerar ainda, de acordo com o especialista em comércio exterior, que o fim da crise pegará os chineses tendo que comprar para valer e serem pressionados em preços pelos fornecedores mundiais no agronegócio.

Pequim, então, terá que abrir as portas para os produtos americanos. Ainda mais que uma epidemia aviária esteja em vias de se desenvolver no país, que venha se somar à peste suína africana em curso.

Soja e mas ainda carnes a China necessitará estimular maior concorrência entre os fornecedores. No caso dos Estados Unidos, mesmo sem a fase 2 do acordo comercial, por exemplo, os chineses terão que cortar as tarifas cobradas aos produtos americanos.

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