Rodolfo Amstalden: um belo improviso para durar para sempre

“Selic que antes cai não é, necessariamente, Selic que depois sobe”, afirma o colunista (Imagem: REUTERS/Bruno Domingos)

A julgar pela notificação extrajudicial do 💥️Copom na terça (3), provavelmente teremos um novo corte de 25 bps na 💥️Selic.

Talvez até um cortão de 50 bps, ou dois cortes de 25 bps, tanto faz.

Ganhei, assim, minha aposta contra o Felipe no MasterPlan.

Ganhei pelo motivo errado, e o Felipe está verdadeiramente feliz que eu ganhei.

Então, pouco importa.

O que importa é que o 💥️Fed, grávido do corona, nos proporcionou um ciclo de afrouxamento monetário maior do que o originalmente sugerido pelo próprio Copom.

Embora os efeitos do vírus sejam transitórios, o mesmo não pode ser dito sobre esses cortes adicionais da Selic.

Ao fim da refeição, o doce gosto da sobremesa é o que fica na memória.

Selic que antes cai não é, necessariamente, Selic que depois sobe.

Dizemos, tecnicamente, que a curva de juros é dotada de histerese.

Histerese é uma característica que determinados sistemas possuem por conservarem suas mutações, mesmo na ausência do estímulo que as gerou.

É a capacidade de preservar uma deformação causada por um estímulo qualquer.

É o Zahir: você passou pela minha vida, foi embora, mas mudou para sempre quem eu sou.

No caso dos juros, podemos encontrar explicações econômicas para a histerese que vão desde a melhora fiscal embutida na queda dos juros (que alivia pressões inflacionárias) até o aumento do produto potencial, a redução do efeito riqueza, etc.

Fato é que, quanto mais os juros caem agora, desde que por motivos razoáveis (ao contrário da era Mantega–Tombini), menos eles vão subir depois.

Às vezes, ouço que isso é apenas simbólico, que 25 bps não fazem diferença em relação a toda a enorme derrocada dos juros nos últimos anos.

A verdade, porém, é que 25 bps fazem cada vez mais diferença.

Devido à convexidade da transmissão do efeito dos juros sobre a economia, cortes em níveis menores exercem muito mais impacto (quase verticais) do que cortes nos níveis maiores (quase horizontais).

Temos corona, temos Pibinho e não temos reformas para 2023.

No entanto, temos juros baixos por um bom tempo, e também pela eternidade.

Jamais subestime o poder de uma única excelente notícia, mesmo que ela venha de improviso, enquanto todos esperavam outras boas notícias.

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