Cafeicultores temem atraso da colheita por falta de mão de obra
Atualmente, a maioria dos grãos pode ser colhida mecanicamente, mas pelo menos 30% do arábica e toda a produção de robusta do país precisam ser colhidos à mão (Imagem: Facebook da Cooxupé )
Faltando menos de um mês para o início da colheita do 💥️café no Brasil, o agricultor Paulo Lagazzi se preocupa com a possibilidade de não ter mão de obra suficiente para colher toda a produção antes que o grão fique maduro demais e perca qualidade.
Em tempos normais, o cafeicultor de 61 anos já teria contratado entre 40 e 50 trabalhadores sazonais e começaria a fazer planos para trazê-los de ônibus fretado de outras cidades de 💥️Minas Gerais ou da 💥️Bahia.
Mas estes não são tempos normais, já que bloqueios ameaçam impactar todas as etapas da 💥️cadeia alimentar global.
Lagazzi pode listar todas as dores de cabeça que antevê diante das quarentenas: com fronteiras fechadas entre estados e municípios, alguns ou todos trabalhadores podem não conseguir chegar à sua plantação de 500 hectares.
E, caso cheguem, Lagazzi tenta descobrir a melhor maneira de abrigá-los.
Normalmente, ele colocaria quatro trabalhadores em um quarto, mas, com o distanciamento social, terá que separá-los e separar as camas. Se alguém ficar doente, a situação seria ainda pior.
Lagazzi disse que não se sente 💥️preparado para lidar com uma quarentena.
O Brasil deve produzir 44,6 milhões de sacas de arábica e 15 milhões de sacas de robusta (Imagem: REUTERS/José Roberto Gomes)
“Não temos ainda nenhuma orientação do governo de como trazer essas pessoas de outras regiões para colher café com todas as proibições de viagem, nem como acomodá-las ou transportá-las na fazenda”, disse Lagazzi.
“E também não sabemos o que fazer se alguém ficar doente. Quantas pessoas devem ficar em quarentena em uma situação como esta?”
É um problema que agora preocupa todo o Brasil, o maior produtor e exportador mundial de café.
Atualmente, a maioria dos grãos pode ser colhida mecanicamente, mas pelo menos 30% do arábica e toda a produção de robusta do país precisam ser colhidos à mão, ou porque os cafezais estão localizados em regiões montanhosas ou porque as máquinas ainda não estão adaptadas a certos tipos de árvores como as de café conilon, segundo Regis Ricco Alves, diretor da RR Consultoria Rural.
O Brasil deve produzir 44,6 milhões de sacas de arábica e 15 milhões de sacas de robusta, segundo a Conab. Cerca de dois terços desse volume é exportado. Uma saca pesa 60 quilos.
O tipo arábica acumula alta de cerca de 13% em relação à mínima de meados de março, parcialmente devido às preocupações com a baixa oferta no Brasil.
“O Brasil é uma bomba-relógio no sentido de que o presidente continua descartando a seriedade desse vírus”, disse Alex Boughton, corretor de café da Sucden Financial (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)
Qualquer atraso na colheita que comprometa a qualidade do grão pode elevar os preços. Carlos Mera, analista do Rabobank International, disse em relatório divulgado na sexta-feira que a falta de mão de obra migrante no Brasil é o “principal risco” para a oferta.
“O Brasil é uma bomba-relógio no sentido de que o presidente continua descartando a seriedade desse vírus”, disse Alex Boughton, corretor de café da Sucden Financial, em Londres.
“E, embora já saibamos de atrasos logísticos, é provável que isso piore com a dificuldade do país de lidar com o aumento da curva.”
No Espírito Santo, onde a maioria dos grãos robusta do país é cultivada, a colheita normalmente começa em meados do mês e requer cerca de 50 mil trabalhadores temporários, disse Edimilson Calegari, gerente-geral da cooperativa Cooabriel.
Este ano “estamos instruindo os agricultores a esperar um pouco mais até que algumas resoluções do governo sejam publicadas”, disse.
O Ministério da Agricultura, que lançou recentemente várias medidas para garantir que o suprimento de alimentos não seja interrompido durante os bloqueios, trabalha em um conjunto de boas práticas recomendadas para agricultores que precisam contratar trabalhadores temporários, disse Luiz Rangel, vice-coordenador da Comissão Covid-19 do ministério.
Mas pode levar até duas semanas para que as diretrizes, que segundo Rangel não são obrigatórias, sejam publicadas.
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