Safra de cana deverá ter morte súbita em setembro com usinas não pagando para trabalhar
Sem margem do etanol que supere custos operacionais, usinas podem preferir parar produção mais cedo (Imagem: Reuters/Marcelo Teixeira)
Sem mudança radical redirecionando os preços do mix da cana para patamares que cubram minimamente os custos operacionais, esta safra tem cara de que terá morte súbita. E deverá ser carregada muita cana para ser moída em 2023 diante da possibilidade de que várias usinas do Centro-Sul parem a produção entre agosto e setembro.
Lembra-se que oficialmente as safras vão de abril e abril no Centro-Sul, mas as unidades praticamente finalizam em dezembro – à exceção de algumas no Mato Grosso do Sul – de modo que é comum considerar o mês 12 como fim de temporada.
O cenário não é descabido, para o consultor Ricardo Pinto, se persistirem as baixas seguidas na demanda por etanol (beirando os 50%) e preços deprimidos, sob reflexo do excepcional recuo do petróleo/gasolina, e a capacidade de estocagem se esgotando. E com quantidade limitada de unidades tendo capacidade operacional para fabricar só açúcar.
O CEO da RPA Consultoria estima em 90 milhões de toneladas de cana, de um total previsto de 595 milhões, para ser moída de janeiro em diante. Matéria-prima conhecida por cana bisada.
Vale dizer que as indústrias não vão querer pagar para produzir. O etanol hidratado, por exemplo, vendido em torno do R$ 1,40/litro, está com custo de R$ 1,55/litro.
Além do etanol em forte retração, há que se estimar que o açúcar também segue achatado, beirando os 10 centavos de dólar por libra-peso, e, no segundo semestre, ficará mais pressionado com a nova safra da Índia e Tailândia chegando.
Os grandes grupos empresariais fixaram o açúcar no mercado internacional até fevereiro em redor de 14,50 a 15 c/lp, e “ganharam dinheiro”. O total contratado até então estima-se em 65% de cerca de 40 milhões/t. O resto do açúcar para ser negociado vem com ganhos apenas pelo dólar, mas numa margem muito estreita.
Mas além dessa limitação, Pinto acredita que são poucas usinas, máximo 12, que podem produzir apenas açúcar (ou apenas etanol). Desconta-se as cerca de 93 empresas que só são destilarias de biocombustíveis.
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