Inflação do dólar está difícil de ser represada nos moinhos e pode chegar na padaria

Trigo

Perto da safra brasileira de trigo, importação segue encarecida pelo dólar (Imagem: REUTERS/Pascal Rossignol)

O trigo argentino entrou no Brasil em torno de US$ 190 a tonelada em janeiro. Desde o mês passado, ronda os US$ 240. Não foi o cereal que aumentou, mas o dólar que bateu na estratosfera acima dos R$ 5,50 e a Abitrigo está vendo pouca margem para os moinhos represarem os repasses para as indústrias.

E como deve aumentar a corrosão dos importadores, vem mais trigo caro nos próximos meses. E, junto, inflação das massas, biscoitos, pães e por aí, se a cadeia não segurar o aumento que poderá chegar da ponta inicial.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo, Rubens Barbosa, percebeu algum reajuste entre os moinhos, de maneira não por igual, e acredita que está ficando cada vez mais difícil o setor não remarcar.

E mesmo com o consumo se mantendo em toda cadeia. Aliás, refletindo expectativas das empresas que estão na ponta final, o ex-embaixador brasileiro nos Estados Unidos não viu cenário para que os aumentos não tivessem sido antes.

As farinhas e os produtos delas produzidos se beneficiaram mais ou menos como o arroz e feijão. O consumo doméstico aumentou com o isolamento, sobretudo nos itens prontos para consumo.

Não foi à toa o disparo do lucro da M.Dias Branco (MDIA3) de 140,8% no 1ª trimestre. Lembrando que o player, um dos maiores do Brasil, é diversificado, de moinhos a biscoitos.

O Brasil deverá manter os cerca de 7 milhões de toneladas de importação este ano, segundo Barbosa, com a Argentina assegurando, como sempre, os 75% a 80% do fornecimento. Mas há um risco nessa dependência.

Às vésperas da safra brasileira, que a Abitrigo enxerga ainda girando nas 5 milhões/t – o Paraná, principal produtor, terá uma boa safra, mas a queda do trigo gaúcho pela seca manterá o total na linda d’água -, o setor tenta do governo uma flexibilização nas regras do Mercosul.

Há insegurança quanto à disponibilidade do grão argentino, numa cesta de problemas que vai do tamanho da safra aos impostos de exportação colocados pelo governo, entre outros.

Para pleitear com os outros membros do bloco, o governo Bolsonaro precisaria aceitar quebrar da Tarifa Externa Comum (TEC), que taxa em 10% o trigo que vem de outros mercados.

“Trigo tem bastante no mundo”, complementa o presidente da entidade, lembrando que já chega a mercadoria de outros países, mas a preços muito elevados ainda mais com a moeda nacional depreciada pela covid-19, pelo risco China-EUA e pelo risco político brasileiro.

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