Pandemia reduz em 26,1% receita do setor de seguros nacional, em abril
Como o isolamento social para evitar a disseminação do vírus foi decretado em meados de março, aquele mês não refletiu a queda da produção e do consumo como ocorreu em abril (Imagem: Money Times/ Gustavo Kahil)
A receita do setor segurador brasileiro caiu 21,4% em abril, em relação ao mês anterior, e 26,1% na comparação com abril do ano passado, atingindo R$ 15,7 bilhões, menor arrecadação de prêmios desde fevereiro de 2016, quando somou R$ 15,026 bilhões.
Os números foram divulgados hoje (17), no Rio de Janeiro, e não incluem saúde suplementar e o seguro de Danos Pessoais por Veículos Automotores Terrestres.
O presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSEG), Marcio Coriolano, analisou em entrevista à 💥️Agência Brasil que o resultado já era esperado e reflete os impactos da pandemia do novo 💥️coronavírus.
Como o isolamento social para evitar a disseminação do vírus foi decretado em meados de março, aquele mês não refletiu a queda da produção e do consumo como ocorreu em abril.
“Mas em abril, como o mês veio cheio, a queda foi forte”, comentou Coriolano. O presidente da CNSEG observou que a retração registrada no mercado de seguros não ficou muito distante da queda que tiveram a produção industrial e o varejo, no período. “A queda está em linha com o que aconteceu nos demais setores da economia, o que é natural”. O setor de seguros responde aos estímulos de produção e de consumo.
A queda de 26,1% comparativamente a abril do ano passado é explicada porque 2023 começou “meio tímido” para o setor segurador e só veio a crescer mais em relação a 2018 no segundo semestre, revelando taxas crescentes a cada mês, atingindo no final do ano expansão de 12,1%. No primeiro quadrimestre de 2023, em relação aos quatro primeiros meses do ano passado, houve queda de 1,1% na receita, que totalizou R$ 80,2 bilhões.
Ano difícil
Marcio Coriolano acredita que a partir de maio e, mais fortemente, depois de julho, a comparação será feita com um ano difícil, impactado pela covid-19.
Com isso, a expectativa é de taxas cadentes nos próximos meses, em termos de produção e volume, porque as políticas do governo não deverão ainda ter obtido o resultado previsto. O desempenho vai depender da flexibilização das medidas de distanciamento e da mobilidade dos consumidores.
Coriolano destacou um ponto importante para os resultados do setor, que é a circulação de pessoas e dos corretores que promovem a venda dos seguros e têm um papel importante na distribuição dos produtos.
O presidente da CNSEG acredita, no entanto, que a retração que o setor vai sofrer por conta da pandemia terá alguma compensação mais à frente.
“Não se sabe em que momento e em que condições”, manifestou. Mas tal como já começa a ocorrer em países da Europa, da América Latina e nos Estados Unidos, a percepção é que será despertado nos consumidores o sentimento da aversão ao risco.
Marcio Coriolano ponderou que para a geração mais nova, esta é a primeira vez que tem contato com uma pandemia dessa dimensão e com essas características (Imagem: REUTERS/Ricardo Moraes)
Saneamento
Marcio Coriolano ponderou que para a geração mais nova, esta é a primeira vez que tem contato com uma pandemia dessa dimensão e com essas características. “E todo mundo sabe que a disseminação dessa doença (covid-19) tem a ver com as condições de saneamento”.
Por isso, destacou que não é à toa que o novo coronavírus tem afetado mais as comunidades mais pobres das capitais, o que é muito preocupante.
Daí a aprovação do marco legal do saneamento ser importante para garantir condições melhores de sobrevivência para as gerações futuras”.
Isso poderá contribuir para que as pessoas vejam o seguro como uma forma renovada de se protegerem não só da pandemia, mas de toda sorte de riscos que vão estar mais evidentes a partir de agora.
“Eu acho que isso também desperta um sentimento de se proteger melhor. Abre a oportunidade para as pessoas terem produtos que vão surgir renovados, com coberturas diferentes e que vão se ajustar à perda de renda que a população teve”. O presidente da CNSEG avaliou que, nesse cenário de perda de renda e aumento do desemprego, apesar da inflação baixa, o mercado de seguros vai ter que observar bem o que esse consumidor novo vai querer em termos de proteção a riscos e também adaptar as coberturas ao bolso dessas pessoas.
Segmentos
O segmento de Cobertura de Pessoas, que representa mais da metade da receita total, foi o que mais contribuiu para a retração dos negócios em abril, registrando queda de 28,8% sobre março, devido às restrições à mobilidade gerada pela pandemia, o que comprometeu o acesso aos postos de distribuição dos produtos.
No segmento de Danos e Responsabilidades, que responde por 37% de ‘market share’ (quota de mercado), a redução relativa foi de 8,8% (Imagem: Reuters/Amanda Perobelli)
Dentro da cobertura de pessoas, o destaque eram os planos de risco, que cobrem morte, invalidez e doença, e os planos mais tradicionais referentes à família e pessoas, como os seguros de vida. O crescimento de Cobertura de Pessoas vinha sendo superior ao dos demais ramos de seguros desde 2017.
De acordo com dados da CNSEG, o comprometimento da mobilidade afetou também os produtos de acumulação (previdência privada) como o Plano gerador de benefício livre (PGBL) e o Vida gerador de benefício livre (VGBL), que não puderam responder positivamente ao início do ciclo baixo da economia.
No seguro VGBL, por exemplo, a queda encontrada em abril, em relação a igual mês de 2023, atingiu 51,3% e, no PGBL, foi de 7,4%.
No segmento de Danos e Responsabilidades, que responde por 37% de ‘market share’ (quota de mercado), a redução relativa foi de 8,8%.
Neste segmento, os ramos que mais pesaram na desaceleração foram o de responsabilidade civil (-21,2%), garantia estendida (-17,3%), automóveis (-13,5%) e erédito e garantias (-12,7%). A capitalização também foi afetada pela quarentena, recuando 18% em abril em relação a março.
Segundo Marcio Coriolano a volatilidade vai continuar em função também do mercado financeiro, afetando o setor segurador.
Observou, ainda que, também em função da pandemia, o resultado acumulado até março, que era de 12,5% positivos, caiu 2,4 pontos percentuais na média móvel de 12 meses encerrados em abril, atingindo 10,1%.
“A gente presume que, quando chegar em maio, os dados vão cair mais”. A estimativa do presidente da CNSEG é que a taxa em 12 meses findos em maio sofrerá queda da ordem de 3,8 pontos percentuais.
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