Bruno Mérola: Aos investidores de primeira viagem
“A primeira aula prática de direção, a gente não esquece” diz o colunista (Imagem: Divulgação/Empiricus)
Depois de algumas tentativas, o banco do motorista finalmente estava em uma posição que parecia confortável, os retrovisores na altura certa dos olhos e o câmbio no ponto neutro.
Neste momento, o rapaz hiperativo no banco do passageiro, com uma camisa do Flamengo por baixo do colete da autoescola Aleixo e que não havia parado de falar um segundo naquele dia, começou sua prova oral:
“Vamos, fala para mim o que é esse símbolo amarelo piscando no painel… e o verde ali do lado daquele medidor – aliás, que mede o que mesmo? Por que este símbolo azul de lâmpada está aceso? Vem cá, nós vamos sair com o freio de mão puxado mesmo? Tem certeza de que não está se esquecendo de nada? Vambora que hoje eu quero chegar cedo em casa para assistir ao jogo, hein?”
A primeira aula prática de direção a gente não esquece, principalmente se você não entrou na onda de pegar o carro dos pais escondido para aprender a dirigir na marra dando uma volta pelo bairro.
Nossa experiência inicial e a maneira com que nos deparamos com um problema novo pela primeira vez podem ser fatores decisivos para escolher qual caminho vamos escolher: o da barreira cognitiva intransponível ou o da motivação catalisadora.
Barbara Oakley, autora do livro “A Mind for Numbers: How to Excel at Math and Science”, percorreu esses dois caminhos. Uma negação em ciências e em matemática no colégio, ela acreditava que não havia nascido com o “dom necessário” e, por isso, decidiu seguir a carreira militar do pai, ex-piloto da Segunda Guerra Mundial, alistando-se no Exército enquanto cursava faculdade de línguas eslavas e literatura.
Após se formar na graduação e passar quatro anos na Alemanha na equipe de comunicação do Exército americano, ela percebeu duas coisas: como a matemática era necessária até no campo da comunicação militar, onde ela não imaginava a priori, e o quanto seu cérebro era capaz de se adaptar após estudar línguas por escolha e aprender alemão e russo por profissão.
Tendo aprendido a aprender, Barbara voltou para os EUA a fim de vencer seu maior desafio pessoal àquela altura do campeonato: fazer as pazes com a matemática. Hoje, Ph.D. e professora de Engenharia na Oakland University pelos últimos 22 anos, ela já ensinou a mais de 1 milhão de alunos sobre ferramentas mentais que ajudam no aprendizado.
Como investidores iniciantes, em algum momento nos encontramos no ponto de inflexão para agirmos, divididos entre a aparente complexidade do tema e conflitos na indústria e a motivação de buscar a independência financeira e construir um legado para sua família.
A verdade é que todo processo de aprendizado, seja ele o de aprender a dirigir, estudar cálculo diferencial ou construir uma carteira sólida de investimentos, passa por quatro etapas.
A primeira (“unknown unknowns”) é a ignorância, no sentido de ainda não sermos capazes de separar o joio do trigo, de saber o que importa. É quando você ainda não se colocou à prova, seja por falta de necessidade ou de oportunidade.
Naquela primeira aula, eu ainda não sabia que não sabia dirigir, nem de todos os detalhes de segurança envolvidos, assim como um investidor que economiza R$ 1.000 por mês para investir no fundo DI de taxa de administração de 2% por sugestão do gerente de banco também não tem ideia do quanto de dinheiro está deixando na mesa.
Felizmente, ao ler estas linhas, você já se encontra pelo menos uma etapa à frente, pois no momento em que adquirimos consciência do que não sabemos (“known unknowns”) e buscamos referências de aprendizado, já podemos passar de não motorista para um motorista inexperiente ou de não investidor para investidor iniciante.
Perceba já nesta etapa que tanto motoristas inexperientes podem chegar ao seu destino quanto investidores de primeira viagem podem ganhar bastante dinheiro, mas são justamente estes resultados positivos logo no início – e não os processos – os mais perigosos, que podem te tornar autoconfiante demais, levando a acidentes de percurso, literais ou não.
A terceira etapa, portanto, seria aquela em que, após meses ou anos de prática, você ganha a verdadeira autoconfiança e se considera hábil ou conhecedor profundo dos temas em questão (“known knowns”). É a esta que você mais dedicará seu tempo e energia.
A última, por fim, mais rara e abstrata, representa o momento em que você não consegue mais explicar para os outros como faz o que faz (“unknown knowns”). Apenas entra no carro e dirige em direção ao seu destino, sem se lembrar a marcha atual ou se olhou no retrovisor nos últimos cinco minutos.
Sob outra ótica, é a tomada de decisão inconsciente que se aproxima do conceito de “gut feeling”, o instinto e a intuição acumulados que um gestor pode ter após 40 anos investindo o dinheiro de seus clientes, por exemplo.
Nossa vocação, como Empiricus, é fornecer ferramentas e uma equipe altamente qualificada para ajudar o investidor a acelerar a transição entre a consciência (etapa 2) e a habilidade (etapa 3), aprofundando-se nesta última e, quem sabe, colocando um pezinho na utopia da etapa final.
Se você é um dos milhares de novos investidores da B3 e/ou de novos assinantes da Empiricus, quero dividir algo com você: a maioria dos princípios de investimentos que compartilhamos e que utilizamos diariamente para montar as sugestões de investimento reunidos em um único parágrafo, escritos em um só gole, no estilo “Filtro Solar”.
Acredito que, juntas, as diretrizes abaixo são a base da construção do seu portfólio com responsabilidade, proteção patrimonial e retornos no longo prazo. Desta maneira, garanto que estará investido melhor do que a imensa maioria das pessoas.
“Gaste menos do que você ganha. Se conseguir isso, invista sempre, todos os meses. Para o curtíssimo prazo, mantenha uma reserva de emergência de três a 12 meses do seu gasto em um fundo simples com taxa zero, sem risco. Para o longuíssimo prazo, separe uma grana para um plano de previdência privada que invista em gestores ganhadores de dinheiro. Tenha uma parcela relevante em dólar como proteção, afinal, somos apenas um país emergente em um mundo volátil. Diversifique sua carteira local em várias classes de ativo independentes entre si: juros reais, crédito privado, multimercados, Bolsa, fundos imobiliários, dólar, ouro e criptoativos. Não confira sua rentabilidade diariamente, isso faz mal à saúde. Não se importe com os retornos de curto prazo, bons ou ruins. Aceite que algumas posições devem perder, enquanto outras devem ganhar proporcionalmente mais. Aliás, sempre busque posições assimétricas, em que os ganhos potenciais compensam as perdas potenciais. Não se exponha ao risco de perder tudo. Jamais concentre seu portfólio em poucos ativos. Julgue o processo e não o resultado. Exponha-se a probabilidades e não ao que você acredita que vai acontecer. Respeite o motivo inicial de seu investimento: se nada mudou no cenário ou na análise, sua posição não muda e vice-versa.”
Do nosso lado, seguindo os princípios acima à risca, desde a metade do semestre, os assinantes da série Melhores Fundos já têm acesso a carteiras de fundos totalmente diversificadas para cada uma das caixas de alocação acima com apenas alguns cliques.
Naturalmente, o próximo passo seria combinar algumas delas em portfólios ainda mais eficientes. Mas eu prometi que não daria nenhum spoiler, pelo menos hoje.
Abraços,
Bruno Mérola
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