Sidnei Nehme: Tese do “câmbio alto e juro baixo” pode se revelar insustentável

Dolar, Real

Há evidências claras de que na prática a teoria se revelou outra e que, agora, a despeito da crise fiscal em que o pais esta envolvido, severamente agravada pela crise da pandemia do 💥️coronavírus, ainda assim o “preço alto” do dólar está “muito alto” (Imagem: Reuters)

Em termos macro os benefícios objetivados pelo ministro 💥️Paulo Guedes com a tese do “câmbio alto juro baixo”, ancorado num razoável número de “considerandos” fortemente propagadas em colocações enfáticas, fundamentalmente se constituindo um “input” na busca da dinamização da 💥️economia brasileira, não pode ser considerado um sucesso.

Tornou o país “mais barato”, mas não foi capaz de atrair investimentos estrangeiros para o Brasil como objetivado, seja na conta capital ou para renda variável; barateou o carregamento da divida publica e a rentabilidade na venda de uma parcela das reservas cambiais beneficiando o governo central; não motivou o setor privado brasileiro ao investimento a despeito do juro baixo e foco nas exportações, sendo que somente o agronegócio ganhou maior dinamismo, mas também, porque houve acentuado aumento da demanda internacional. Afastou os investidores estrangeiros em renda fixa no país e não os atraiu para renda variável face à letargia da atividade econômica e perspectivas.

Enfim, os benefícios foram poucos com a “guinada” focada pela estratégia do governo sob a batuta do ministro da Economia, mas certamente causou prejuízos relevantes para as empresas que tem seus negócios atrelados em moeda estrangeira afetando resultados dos seus balanços, porque não conseguiu despertar o “espirito empreendedor” do setor privado, que, em tese, deveria assumir o protagonismo da dinamização da atividade economia, visto que o governo estava e está carente de recursos para investimentos.

Há evidências claras de que na prática a teoria se revelou outra e que, agora, a despeito da crise fiscal em que o pais esta envolvido, severamente agravada pela crise da pandemia do 💥️coronavírus, ainda assim o “preço alto” do 💥️dólar está “muito alto” para o contexto brasileiro, ainda que com deteriorações fortes, e também afetado pelo ambiente internacional, se revela insustentável e coloca o preço da moeda americana no mercado brasileiro em viés de baixa para ajuste do preço, que ainda poderá resistir “alto” porém em bases mais realistas.

Quando o BC procedeu a revisão do déficit em transações correntes, reduzindo-a a 1/3 do previsto, sancionou a queda brusca de perspectiva de forte demanda no mercado a vista de câmbio, mas ficou a preocupação com a questão fiscal como fator de risco já que o câmbio é sempre o ativo mais sensível, mas gradualmente vem se acentuando a convicção de que o preço está alto mesmo considerando a questão fiscal, e mais e principalmente, os problemas brasileiros que não são poucos não transitam pelo câmbio, e o país está soberbamente protegido por suas reservas cambiais e o mercado de derivativos altamente sofisticado.

Esta visão mais cética deixa o ajuste em desenvolvimento com viés do preço da moeda ficar no entorno de R$ 5,00, ainda um pouco acima do que seria normal e sustentável na medida em que fragiliza as posições de “apostas contra o real”.

Não desejável, mas seriam o caso de se imaginar muito mais plausíveis pressões no mercado de juro, na medida em que haja percepção por parte do mercado de eventual dificuldade do governo rolar a divida publica, já tendo havido sinalização discreta neste sentido pelo Ministro Guedes.

O presidente 💥️Roberto Campos Neto apontou que o risco fiscal causa volatilidade no câmbio, mas nos parece mais razoável que considere mais os efeitos no mercado de juro. O diretor da entidade, Fabio Kanczuk, ao mencionar como improvável uma nova queda de juros parece ter esta percepção mais presente.

A questão fiscal afeta duramente a capacidade do governo de realizar planejamento envolvendo ações mais contundentes focando a retomada da atividade econômica, sendo neutralizante, mas impõe ao setor privado a responsabilidade de assumir o protagonismo deste desafio e este tem sido o fator inibidor da dinamização mais efetiva da economia brasileira.

O setor privado deseja ser beneficiário e coadjuvante, mas precisa, face à carência de recursos governamentais, ser o protagonista e usufruir do “juro baixo” neste sentido para os investimentos.

Há um enorme desafio à frente para o país e, neste contexto, para o setor privado no momento pós pandemia, visto que o governo está enredado pelo teto orçamentário e tem a necessidade de amparar a grande massa de população carente com programa assistencial.

O “cobertor do governo está curtíssimo”, e o setor privado deve assumir a responsabilidade pela retomada.

É imprescindível que haja melhora na coordenação politica pelo governo de forma a articular com o 💥️Congresso, neste ponto como protagonista, a evolução das 💥️Reformas Tributária e 💥️Administrativa, criando perspectivas mais imediatas e efetivas, e com os representantes do setor produtivo incitando-os a assumir o protagonismo da recuperação da atividade econômica.

A retirada do caráter urgente da Reforma Tributária é um sinal inicial de falta de convicção e protagonismo pelo Governo e, naturalmente, decepciona e frustra expectativas. A postura que nos parecer seria correta é a manutenção da urgência e a articulação com o Congresso, como protagonista, visando a agilização da matéria.

A vontade politica deve ser prevalecente sempre e não claudicante por parte do Governo.

Temos enfatizado, e o fazemos mais uma vez, que sem planos efetivos focando o desenvolvimento econômico, harmonioso e com homogeneidade entre os poderes e setores da economia, a Bovespa não terá impulsão para avanços sustentáveis, pois é dependente de sinais positivos da economia.

Enquanto que, no contexto atual, o câmbio nos parece blindado e não vulnerável, sem risco de crises no seu ambiente, tendendo ao preço de R$ 5,00 ou até menos, a despeito da excepcional volatilidade que decorre de fatores que o referenciam até para ser “hedge” de outros segmentos operacionais, aqui e no exterior, e até de encontrar na trajetória “degraus de resistência” pois o movimento sujeitará os “apostadores contra o real” a perdas.

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