Eduardo Belotti: Usando a distribuição normal para pegar trens mais vazios e investir melhor
Quando ainda não é claro e evidente que um ativo tem muito potencial, os inovadores investem (Imagem: Reuters/Amanda Perobelli)
Você sabe o que é uma distribuição normal?
Uma distribuição de probabilidade é uma forma de descrever o comportamento de um fenômeno que depende do acaso. A distribuição normal é a distribuição mais usada em estatística.
Peço desculpas pelo início técnico. Demorei alguns dias até conseguir iniciar esse texto porque é muito difícil falar desse tema sem ser teórico demais e chato.
Caso não tenha entendido a primeira frase, vamos a exemplos que fica mais fácil.
Quando pensamos na altura das pessoas, sabemos que existem pessoas altas, baixas, muito altas, muito baixas e uma galera que está ali no meio.
Uma pessoa extremamente alta, com digamos, 2 metros e 20 é raro de se ver. Uma pessoa muito baixa, com digamos, 1m e 30 é raro de se ver.
Mas quando você procura por pessoas com 1,70 ou 1,75, elas são muito mais comuns de se achar.
Será que existe uma forma de modelar como as alturas das pessoas são distribuídas no mundo?
Sim. A famosa distribuição normal.
O eixo horizontal é a altura das pessoas e o eixo vertical é a distribuição de probabilidade daquela altura.
Quanto mais para cima no gráfico, mais comum é aquela altura. Quanto mais baixo no gráfico, mais incomum.
Tem mais alguns conceitos, mas como o foco não é adentrar tanto na distribuição normal, vou ignorar.
Esse modelo tem uma série de usos na ciência e no dia a dia.
Alguns lugares em que você acaba se esbarrando com a distribuição normal: altura das pessoas, peso das pessoas, tamanho de sapato e por aí vai.
Usando a distribuição para pegar trens mais vazios
Em 2015 eu trabalhava em SP e pegava a CPTM (trem) lotado na estação Pinheiros todos os dias.
Para quem não conhece, aqui está uma foto de como é a estação de Pinheiros.
A distribuição de pessoas ao redor de uma escada de acesso à plataforma era algo semelhante à distribuição normal (Imagem: Reprodução)
Só que eu e o Samuel (um grande amigo que ia para o trabalho comigo) percebemos um detalhe em dado momento.
A distribuição de pessoas ao redor de uma escada de acesso à plataforma era algo semelhante à distribuição normal. Não vou me apegar aqui ao rigor matemático para provar que era ou não. Isso pouco me importa.
O que importa de verdade é que as pessoas tendem a se aglomerar perto da escada.
Essa foto foi tirada por mim no dia 23/10/2015.
Quanto mais longe da escada, menos gente.
Não sei se é preguiça de andar ou simplesmente as pessoas entram no “automático” e param assim que chegam à plataforma.
Ao notar esse padrão, percebi que o primeiro vagão era um dos vagões mais longe das escadas e, por isso, tinha pouca gente esperando lá.
Com isso, conseguia quase sempre ir sentado lendo meus livros para o trabalho (nessa época que li Taleb pela primeira vez, inclusive).
Estamos falando de uma estação abarrotada de gente, no horário do rush e mesmo assim conseguir ter um assento para viajar de forma confortável.
Levando esse conceito para o mercado
No mercado financeiro, as pessoas costumam se comportar de forma parecida. A grande massa só investe num ativo quando ele está na moda.
Assim como a grande massa fica próxima da escada de acesso à plataforma.
Esse costuma ser o comportamento padrão.
A curva de adoção de novas tecnologias proposta por Everett Rogers reflete bem como funciona o comportamento da população frente a uma nova tecnologia, mas também é análogo ao investimento num ativo promissor.
Cada faixa dessa distribuição sinaliza um tipo de usuário de uma nova tecnologia, mas usemos a analogia com o mercado financeiro.
Quando ainda não é claro e evidente que um ativo tem muito potencial, os inovadores investem. Enquanto isso, a grande massa se prende a ativos mais óbvios (que, justamente por causa disso tendem a ter menos upside)
Com o passar do tempo, o potencial do ativo vai se mostrando cada vez mais claro e atraindo mais gente. Em dado momento, o ativo se torna hypado e a grande massa começa a investir. Ele passa a ser como o vagão próximo à escada.
Nesse momento, o ativo geralmente dá um salto de preço devido ao aumento na demanda. Algumas pessoas conseguem fazer dinheiro aqui. Assim como existem os passageiros sentados, mesmo em vagões lotados.
Esse é o momento em que o ativo começa a sair nas capas de jornais, em vídeos no youtube, instagrammers começam a falar e por aí vai.
Tem a famosa frase: compre ao som de canhões e venda ao som de violinos. Ou seja: compre quando ninguém está querendo comprar e venda quando está tudo lindo.
A ideia por trás disso é basicamente não ir junto com a maioria.
Geralmente quem vai junto com as massas não consegue fazer os grandes lucros.
Assim como no caso do trem, ouse não ir com a maioria. Às vezes a incerteza de um vagão vazio é melhor do que a certeza de um vagão cheio.
E como sempre, lembre-se de acompanhar os investimentos para ter certeza que está tudo indo como planejado. Pode ser por planilhas, papel, ou usando o 💥️Real Valor.
O importante é não ficar no escuro.
PS: um detalhe interessante sobre essa ideia de pegar vagões vazios é que no Rio de Janeiro ela não é tão aplicável. A posição das escadas em relação aos vagões varia muito de estação para estação, o que acaba equalizando. A estação de Botafogo tem as escadas nas extremidades do trem, enquanto outras têm escadas no meio do caminho. Infelizmente nunca fui muito feliz aplicando esse conhecimento nos metrôs do RJ.
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