Pré-mercado: Jogo de gato e rato

Um mercado nômade: entre movimentos agressivos e defensivos / ✅Nomadland (2020)

Bom dia, pessoal!

O mercado está em cautela. Não só pela quantidade de dados econômicos que serão divulgados nesta semana, mas também pela temporada de resultados, que está pegando fogo.

Hoje, teremos repercussões do primeiro trimestre da Tesla lá fora e da Vale por aqui — apesar dos números com grande crescimento da mineradora, as linhas vieram mistas relativamente à mediana das expectativas do mercado (o lucro, por exemplo, veio em linha com o esperado).

No caso da Tesla, as ações caíram ontem (26), no after hours. Diante da reação, forma-se um tom de cautela com os números de Microsoft e Alphabet (controladora do Google), se forem apresentados após o fechamento do mercado.

Na Europa, a abertura desta terça-feira (27) tem sido mista, predominantemente no negativo, enquanto os EUA sustentam uma alta nesta manhã em seus futuros. A ver…

Que comecem os jogos

Começa oficialmente hoje a CPI da Covid, com a eleição do presidente e do relator. O governo saiu mais fraco da composição da Comissão, uma vez que tem minoria entre os 11 integrantes, possibilitando um aumento do desgaste do governo, o que seria ruim para a agenda econômica de Paulo Guedes (Economia).

Ainda há expectativas de que as coisas saiam do papel em 2023, mas a CPI pode prejudicar.

No final da tarde dessa segunda-feira, o governo tentou de diferentes formas tirar o senador Renan Calheiros (MDB-AL) da CPI — a Justiça tentou impedir que ele fosse relator, mas a medida enfrentará resistência do Senado, que vê sua autoridade desafiada. Vira briga de poder.

Enquanto Brasília vive sua própria realidade para avaliar negligências na pandemia, milhares de brasileiros seguem morrendo.

Ontem, a Anvisa negou liberar a importação da Sputnik V, alegando falhas técnicas. A medida pode ter um peso negativo no dia de hoje.

A notícia é ruim, uma vez que a esperança de normalização do Brasil deriva da vacinação e faltam vacinas — hoje, a única que conseguimos distribuir com maior escala é a CoronaVac, do Instituto Butantan.

O fato poderá afetar a performance dos ativos de risco hoje.

Na véspera do Copom, questiona-se: a que ponto chegamos?

Às vésperas do Fed, nesta quarta-feira (28), os mercados em Nova York se dividem entre movimentos defensivos, puxando os juros dos Treasuries, e balanços de pesos pesados da tecnologia.

Enquanto isso, o mercado começa a se perguntar: quando a recuperação econômica chegará ao pico nesta retomada?

Nos últimos meses, os investidores, amparados por dados robustos, expressam muita expectativa no poder da recuperação econômica global. A questão é: quando atingiremos o auge dessa normalização econômica e quanto disso o mercado já antecipou?

Muitos financistas de peso já começam a projetar que o crescimento econômico dos EUA se desacelerará a partir do segundo semestre deste ano, em linha com o que devemos observar na China no segundo trimestre de 2023, como comentamos na última entrega de dados de crescimento trimestral do gigante asiático.

Adicionalmente, para piorar a situação, existe muita desigualdade no estágio de combate à pandemia entre as economias mundiais — as infecções por Covid-19 estão aumentando dramaticamente em economias cruciais, como a Índia, forçando as autoridades locais a adotar novas medidas de bloqueio.

Nesse sentido, se forma um entendimento de que a economia dos EUA poderá alcançar um crescimento anualizado de 10,5% neste trimestre, seu segundo aumento mais forte desde 1978, além do incomum terceiro trimestre de 2023, completamente atípico.

Depois dessa entrega, muito provavelmente veremos o crescimento se desacelerar gradualmente na segunda metade do ano. Claro, isso não muda o fato de que a economia americana permanecerá operando acima da tendência pré-Covid por mais algum tempo, até mesmo tem muito estímulo no ar.

Mas a noção já ajuda um pouco a acalmar as expectativas de inflação, facilitando a vida do Fed.

O famoso chá da tarde

O Reino Unido está sob os holofotes do mundo. A agenda do dia guarda pesquisas do setor de consumo para a sociedade britânica (varejistas).

Claro, pesquisas como essa, baseadas em confiança, tendem a superar a realidade, dado o ciclo de notícias positivo diante do ritmo de vacinação e do estágio de reabertura na Grã-Bretanha — por sinal, Londres virou hub de experimento social, em que foram anunciados os planos da cidade para transformar escritórios em habitações.

Contudo, não é por isso que as atenções se voltam para a terra da rainha.

Se não é isso, o que está acontecendo? Hoje, a novela do Brexit ganha mais um capítulo, no qual a separação da União Europeia e do Reino Unido deve ser votada pelo Parlamento Europeu.

Vale notar que o procedimento tem mais um caráter simbólico do que efetivo, uma vez que o acordo está em vigor desde o início do ano e simplesmente não havia sido ratificado.

Vale deixar claro que este novelão ainda não está no fim. Os economistas se dividem entre os benefícios e malefícios da separação — quem entende de Reino Unido acaba enviesado por ter tomado partido na questão anteriormente.

O pior desse processo parece já ter passado, mas ele segue firme, como mais e mais negociações no futuro.

Anote aí!

Por aqui, o mercado deverá avaliar o resultado de Vale, enquanto espera pelo relatório de produção e vendas de Petrobras. Outros resultados também são esperados, podendo trazer mais cautela em meio aos imbróglios políticos de Brasília.

Na agenda dos dados econômicos, destaque para o IPCA-15 de abril, nossa prévia da inflação oficial, que deve se desacelerar para 0,67% contra março.

A FGV divulga também expectativa de inflação e confiança da construção, que acabam sendo mais secundários hoje, ainda que importantes.

No exterior, também seguimos a temporada de resultados, que pega fogo. Na véspera da reunião do Fed amanhã, atenção para estoques de petróleo e derivados, que podem afetar o preço da commodity em meio à recuperação econômica.

Muda o que na minha vida?

A Índia continua reportando um número recorde de novos casos de Covid-19, enquanto o país luta para conter o surto devastador por meio de novos lockdowns nas mais diversas localidades.

Por conta do elevado número de habitantes, vemos dados da pandemia nessa mesma linha: o governo registrou mais de 350 mil novas infecções diárias, número que coloca o país para bater um recorde mundial. A situação é dramática e afeta as perspectivas de crescimento asiático, que por sua vez afeta as projeções de 2023 para o mundo como um todo.

Biden parece determinado a ajudar a Índia, assim como os EUA foram ajudados pelos indianos quando os hospitais estavam sobrecarregados em outro momento da pandemia.

Neste processo, os americanos estão considerando enviar algumas doses da vacina da AstraZeneca, que ainda não foi aprovada nos EUA, bem como financiar uma “expansão substancial” na capacidade de fabricação para permitir que o fabricante indiano de vacinas Biological E. produza pelo menos 1 bilhão de doses de vacina pelo final de 2022.

Com isso, também serão enviadas matérias-primas, kits de testes de diagnóstico rápido, ventiladores e equipamentos de proteção. Outras autoridades, como a Comissão Europeia e demais países, também estão ajudando no intento de vacinar o máximo de pessoas possível.

A situação coloca mais pressão sobre a recuperação incompleta da Índia, que já começa a ter estimativas para seu crescimento reduzidas de 13,2% para 11,2%.

Enquanto isso, a recuperação econômica global também pode ser atrasada. Pelo menos por enquanto, os dados asiáticos são animadores.

O PIB sul-coreano, por exemplo, foi melhor do que o esperado. Espera-se que os dados de crescimento sejam melhores do que o esperado.

A China, por sua vez, outro motor importante da economia, está se saindo muito melhor. Para que isso seja preservado, a Índia precisa ser ajudada a sair da crise sanitária, que ceifa milhares de vidas indianas diariamente.

Haverá, porém, menos vacinas disponíveis no resto do mundo se toda a produção da Índia tiver que ser usada internamente.

Fique de olho!

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Um abraço,
Jojo Wachsmann

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