Rodolfo Amstalden: De quanto tempo preciso para enriquecer?
(Imagem: Murilo Constantino/Empiricus) “Além de enriquecer, o investidor prudente deve aprender a maturar devidamente sua riqueza, como se estivesse se preparando para beber um vinho de guarda, numa data especial” diz o colunista.
Mirar a lua para acertar a lua também pode ser um excelente negócio.De quanto tempo preciso para enriquecer?
E de quantos anos dependo para me aposentar com segurança e conforto?
Pode parecer que essas duas interrogações se referem a um mesmo tipo de dúvida, mas não é bem assim que funciona.
Os dois períodos podem destoar bastante, em quantidade e qualidade.
Além de enriquecer, o investidor prudente deve aprender a maturar devidamente sua riqueza, como se estivesse se preparando para beber um vinho de guarda, numa data especial.
A melhor resposta para ambas as perguntas me foi apresentada quando eu estava deitado, lendo “A Cama de Procusto” — o livro mais denso do Taleb, em que ideias complexas são sintetizadas em algumas poucas palavras, cuidadosamente conectadas por meio de aforismos.
Lá descobrimos que “demora cinco anos para aprendermos como ganhar dinheiro, e vinte e cinco anos para aprendermos como não perder dinheiro”.
Daí se intui que — ao contrário do que pregam as interpretações superficiais do ciclo de vida do investidor — não é verdade que você precisa ganhar dinheiro por trinta anos ininterruptos para enriquecer.
Você só precisa surfar um ou dois ciclos de alta do mercado, that’s it.
Supondo que um ciclo de alta dura, em média, cinco anos, podemos dizer que a menor parte do seu tempo investido será passada efetivamente ganhando rios de dinheiro.
Que ótima notícia, porque eu nunca conheci alguém capaz de acertar em cheio por três décadas consecutivas; nem mesmo Warren Buffett, George Soros ou Jim Simons.
Multiplicando exponencialmente seu capital durante cinco a dez anos — não necessariamente consecutivos — dentro de uma jornada completa de trinta anos, concluímos que o esforço mais longo diz respeito à preservação patrimonial.
Quando falamos em “preservação”, a primeira imagem que vem à cabeça é a de um patrimônio estacionado.
Essa é uma imagem bastante desagradável e, felizmente, equivocada.
O patrimônio só é preservado — contra a inflação, contra custos de oportunidade e contra demais intempéries — à medida que sobe.
A diferença aqui é que não se trata — ou melhor, não precisa se tratar — de uma alta exponencial, como aquela percebida nas raras janelas de multiplicação.
Eu sei que isso tudo soa como uma visão demasiadamente modesta da jornada do investidor.
“Pô, Rodolfo, temos que mirar as estrelas para poder acertar a lua! Sonho grande!”
O problema é que o sonho às vezes é tão grandioso que nos sentimos incapazes de sonhá-lo.
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