Bruno Mérola: Você está deixando dinheiro na mesa?
“Em fundos, a verdade é que não precisamos ser caçadores de descontos” diz o colunista. (Imagem: Divulgação/Empiricus)
Em janeiro de 2012, o recém-chegado CEO da loja de departamento americana J.C. Penney, Ron Johnson, anunciava um ousado reposicionamento da marca, conhecida até então por seus cupons de descontos promocionais de curta validade.
Após 11 anos na Apple, tendo sido responsável pelo desenvolvimento e pelo sucesso de suas lojas-conceito, Johnson era a grande aposta do conselheiro da varejista à época e gestor de hedge fund Bill Ackman — o mesmo que detonou a Herbalife nos anos seguintes, como mostra o documentário “Betting on Zero”.
A ideia, que levaria a J.C. Penney ao maior fracasso estratégico recente do varejo mundial, era acabar com os tradicionais cupons de desconto e oferecer preços baixos todo dia — os mesmos após o desconto.
A execução foi uma tragédia. O executivo falhou em perceber que os promotores da marca eram justamente os “caçadores de desconto”, compradores frequentes que passavam horas de seus dias em busca das melhores ofertas para compartilhar com amigos, vizinhos e familiares. O fim dessa atividade impactava diretamente a identidade e o senso de pertencimento dos clientes mais fiéis da J.C. Penney.
Ao perceber que a estratégia não havia dado certo, Johnson piorou a situação ao sugerir que seus próprios clientes — que sempre deveriam ter razão — simplesmente não haviam entendido o novo modelo e que o que a empresa precisava era ser mais didática.
Mesmo após seu fracasso e da demissão do CEO pelo conselho da empresa pouco mais de um ano depois, a J.C. Penney jamais recuperou a confiança de seus clientes (construída por mais de um século) e atualmente está em processo de falência.
Mas além de uma decisão infeliz, a verdade é que o modelo de cupons de desconto caiu em desuso nos últimos anos e foi gradualmente sendo substituído pelos cashbacks, de todas as formas e tipos.
Programas de milhagem, pontos do cartão, crédito para compras futuras. Hoje, é possível economizar com praticamente tudo que consumimos diariamente: aplicativos de transporte, delivery de comida, combustível do carro, viagens e até com o pagamento das contas de casa.
O que uma parcela pequena de investidores sabe é que também é possível economizar investindo em fundos, de duas maneiras diferentes — e uma terceira, mais nova, que combina as duas.
A primeira é a mais familiar, através de um plano de previdência privada. Se você faz a declaração completa do Imposto de Renda, há um “cashback tributário” de até 3,3% da sua renda ao ano te esperando para ser coletado.
Isso só é possível porque a Receita Federal permite o abatimento de até 12% da sua renda anual tributável que tenha sido investida em um PGBL. Se sua renda anual neste ano for de R$ 100 mil, por exemplo, um aporte de R$ 12 mil em um plano de previdência, a qualquer momento do ano, de uma só vez ou em várias parcelas, te economizará R$ 3.300 (27,5% de R$ 12 mil), a ser recebido na restituição do Imposto de Renda do ano que vem.
Já a segunda trata da devolução das taxas de distribuição que corretoras digitais como a Vitreo, o Inter e a Pi passaram a oferecer aos seus investidores. Hoje em dia, é possível investir em fundos de gestores renomados pagando taxas de administração e de performance menores do que em plataformas tradicionais.
Considere fundos de ações que cobrem 2% ao ano de taxa de administração e 20% de taxa de performance sobre o que ultrapassar o Ibovespa.
Um gestor de sucesso, daqueles entre os nossos favoritos na série Os Melhores Fundos de Investimento, pode conseguir um retorno de 8% acima do Ibovespa no longo prazo antes de taxas. Logo, você pagaria 2% ao ano de administração e mais 1,2% de performance (20% dos 6% acima do Ibovespa restantes).
Imaginando um cashback médio de 20%, alinhado com a média da indústria, você receberia de volta 0,64% ao ano de tudo que investiu no fundo. Esse valor é seu, dinheiro na conta, sem dever nada a ninguém no futuro.
Por fim, a novidade mais recente é a combinação dos dois efeitos acima: previdência e cashback. Nos últimos meses, chegaram à plataforma de investimentos da Vitreo — pioneira nesta combinação — vários dos fundos de previdência sugeridos aos nossos assinantes.
Assim, além dos 3,3% ao ano que você teria de volta ao investir o limite de 12% em um PGBL e do cashback estimado em mais 0,64% ao ano, também é possível evitar qualquer come-cotas (caso dos fundos tradicionais de renda fixa e multimercados) e ainda se beneficiar de uma alíquota no futuro na sua aposentadoria de apenas 10% com a tributação regressiva.
Em fundos, a verdade é que não precisamos ser caçadores de descontos. Já é possível investir nos melhores gestores da indústria e economizar uma parcela relevante da sua renda ou do seu patrimônio. No longo prazo, esse impacto é relevante.
Confesso que nunca gostei de deixar dinheiro na mesa, por menor que seja o valor.
E você?
Um abraço,
Bruno Mérola
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