Sonho de brasileiros, Mundial vira elefante na sala para clubes europeus

Ifantino, presidente da Fifa, mostra o troféu do Mundial de Clubes de 2025

Ifantino, presidente da Fifa, mostra o troféu do Mundial de Clubes de 2025 Imagem: Leonardo Fernandez/Getty

Botafogo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras já têm marcados no calendário os meses de junho e julho de 2025. O primeiro "Super Mundial" da Fifa com 32 clubes é, para os brasileiros, o sonho de se impor diante de clubes europeus e fazer história com o título de um torneio sem precedentes por sua magnitude.

Na quinta-feira (5), o sorteio dos grupos mobilizou clubes, imprensa e torcedores. Confrontos como Palmeiras x Inter Miami, Botafogo x PSG, Flamengo x Chelsea ou Fluminense x Borussia Dortmund já estão no horizonte, cercados por expectativa.

Para os principais europeus, o mega torneio da Fifa causa bem menos fascínio. O Mundial pode causar, inclusive, uma crise incomum na elite do futebol, envolvendo alguns dos principais jogadores do mundo.

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Nos últimos meses, as críticas ao evento ganharam corpo. Kevin de Bruyne, meio-campista do Manchester City, puxou a fila, reclamando do calendário intenso de jogos, que será aumentado com a nova competição.

De Bruyne é um dos jogadores mais críticos ao aumento de jogos no calendário

De Bruyne é um dos jogadores mais críticos ao aumento de jogos no calendário Imagem: Oli Scarff / AFP

"Sabemos que haverá somente três semanas de descanso entre a final do Mundial e a primeira rodada da Premier League. Nós, jogadores, podemos tentar fazer alguma coisa, mas nenhuma solução foi encontrada. Eles não se importam, o dinheiro fala mais alto", disse, durante uma entrevista coletiva em setembro.

Vencedor da Bola de Ouro, o espanhol Rodri — também do Manchester City — juntou-se à causa. "Acho que são jogos demais. Alguém precisa cuidar dos jogadores, porque somos as estrelas do espetáculo", afirmou o meio-campista, que está fora da temporada por causa de uma lesão de ligamentos do joelho.

Sem mencionar o Mundial, Vini Jr. também manifestou-se contra o calendário de jogos recentemente, após uma lesão muscular que o afastou de partidas importantes do Real Madrid.

Rodri já mencionou em entrevistas a possibilidade de greve dos jogadores

Rodri já mencionou em entrevistas a possibilidade de greve dos jogadores Imagem: Martin Rickett/Getty

Em conversas entre jogadores, não está descartada a possibilidade de uma espécie de greve: a ideia seria recusar-se a jogar por um período, para abrir negociações com os clubes, ligas e confederações.

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Além do Mundial da Fifa, a Uefa também incrementou o calendário europeu, com uma nova Champions League que acrescentou duas rodadas a mais na fase de grupos (agora chamada fase de liga) e um ✅playoff com ida e volta, o que pode resultar em até quatro datas além das que havia até a temporada passada.

Ancelotti, técnico do Real Madrid, chegou a dizer que clube não jogaria o Mundial

Ancelotti, técnico do Real Madrid, chegou a dizer que clube não jogaria o Mundial Imagem: Hannah Mckay/Reuters

Quem também observa atentamente os preparativos para o "Super Mundial" são as ligas, que organizam campeonatos nacionais. Presidente da Liga espanhola, Javier Tebas é um inimigo declarado do torneio e já pediu mais de uma vez a exclusão do torneio do calendário.

Recentemente, ele ganhou apoio do comissário da MLS, Don Garber. Durante uma apresentação em um congresso de líderes do futebol, o dirigente mostrou-se preocupado com "as consequências que mais jogos no calendário podem ter nos jogadores".

Tebas e Garber têm interesse direto na discussão. Com mais um campeonato no horizonte, os torneios nacionais poderiam perder peso e teriam jogadores mais cansados, poupados ou lesionados — o que afetaria diretamente no nível técnico das ligas domésticas.

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Javier Tebas, presidente de La Liga, é um inimigo declarado do Mundial

Javier Tebas, presidente de La Liga, é um inimigo declarado do Mundial Imagem: AFP7/Getty Images

O risco de perder jogadores pelo excesso de partidas já existe e é uma realidade que se impõe nas últimas temporadas. Os casos de lesões graves se proliferam.

O Real Madrid, por exemplo, já perdeu Dani Carvajal e Éder Militão até o fim da temporada. Antes mesmo das lesões de seus defensores, o técnico Carlo Ancelotti havia manifestado seu desgosto com a inclusão do "Super Mundial" no calendário, chegando a dizer que o clube não disputaria o torneio.

No mesmo dia, o Real Madrid divulgou nota contradizendo o treinador e reafirmando sua intenção de participar. Da porta para fora, o clube da capital espanhola diz que tem "orgulho em participar do torneio".

Nos bastidores, a ida aos Estados Unidos não é vista com tanto ânimo. A premiação milionária é uma motivação: a Fifa deve pagar 50 milhões de euros (cerca de R$ 310 milhões) por participação a cada clube, e o valor pode ser multiplicado por dois no caso do time campeão.

Só que, para os gigantes europeus, uma pré-temporada feita às pressas pode levar a uma temporada ruim, com prejuízos esportivos e financeiros em valores ainda mais altos do que os pagos pela Fifa. É essa equação, somada à possibilidade de greve de jogadores, que os gigantes europeus têm diante de si.

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Até junho de 2025, enquanto os clubes brasileiros estarão olhando para o calendário, esperando alguns dos confrontos mais aguardados de suas histórias, os europeus tentarão resolver o quebra-cabeças com atletas e ligas.

O elefante está na sala. Os clubes mais ricos do mundo têm pouco mais de seis meses para decidir o que fazer.

Reportagem

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