IPO do Nubank pode fazer de Junqueira rara bilionária mulher
As mulheres “self-made”, ou seja, que não herdaram suas fortunas, representam menos de 3% das 500 pessoas mais ricas do mundo (Imagem: Bloomberg)
💥️Cristina Junqueira sabia que precisava fazer uma mudança.
Ela havia deixado um emprego em uma consultoria de gestão para obter um MBA na Northwestern University, nos 💥️Estados Unidos, e acabou indo trabalhar no 💥️Itaú Unibanco (💥️ITUB4).
Ela subiu na hierarquia do banco por quatro anos até 2013, quando decidiu sair — cansada de vender cartões de crédito para pessoas que não os queriam de verdade, disse ela.
Pouco depois, ela conheceu David Vélez, um executivo de private equity nascido na 💥️Colômbia que estava tentando abrir um banco digital para competir com gigantes no Brasil. Só que ele precisava de alguém que conhecesse o sistema por dentro.
“Eu conhecia o setor e vi a oportunidade perfeita para provar que eles estavam errados, para construir algo que as pessoas realmente queriam”, disse ela em entrevista em 2023.
Oito anos depois, a brasileira de 39 anos está prestes a ingressar em um grupo extremamente pequeno de banqueiras bilionárias que construíram suas fortunas sozinhas.
Quando o Nubank, o banco digital que eles criaram juntos, definir o preço de sua oferta pública inicial na quarta-feira, a participação de Junqueira pode ser avaliada em até US$ 1,1 bilhão. O 💥️Nubank não comenta.
As mulheres “self-made”, ou seja, que não herdaram suas fortunas, representam menos de 3% das 500 pessoas mais ricas do mundo, de acordo com o Índice Bloomberg Billionaires.
Embora existam algumas histórias de sucesso recentes & como a banqueira indiana que virou magnata da beleza Falguni Nayar & a lista continua esmagadoramente branca e masculina.
E embora os homens “self-made” representem quase dois terços do índice de riqueza, nenhuma das poucas mulheres que se tornaram bilionárias por si mesmas vem da América Latina.
“As startups existem para construir o futuro, mas em termos de gênero, esse futuro se parece muito com o presente”, disse Rafaela Bassetti, diretora executiva da Wishe, uma plataforma de crowdfunding para startups fundada por mulheres.
Se a operação sair dentro da faixa de preço indicada, a participação de 20% do diretor executivo e cofundador do Nubank, David Vélez, poderia trazer-lhe uma fortuna de até US$ 8,9 bilhões (Imagem: Divulgação)
Hora complicada
O IPO do Nubank irá cobrir um ano recorde de mais de US$ 600 bilhões em ofertas públicas iniciais globais, o que levou a um dos períodos de criação de riqueza mais rápidos da história moderna.
Ainda assim, chega em um momento complicado. O Nubank está abrindo o capital nos EUA em um momento em que as empresas brasileiras desistiram de IPOs na bolsa local em meio a um crescimento fraco, as consequências de mais de 615.000 mortes relacionadas à Covid e uma situação política que está assustando alguns investidores.
Os IPOs nas bolsas dos EUA tiveram um desempenho melhor. Se a operação sair dentro da faixa de preço indicada, a participação de 20% do diretor executivo e cofundador do Nubank, David Vélez, poderia trazer-lhe uma fortuna de até US$ 8,9 bilhões, tornando-o a décima pessoa mais rica da América Latina.
Junqueira possui aproximadamente 2,6% do Nubank e a participação do terceiro fundador, Edward Wible, não foi divulgada no prospecto do IPO.
Junqueira enfrentou grandes obstáculos para subir na hierarquia no Brasil. Embora a disparidade de gênero seja um problema mundial, é mais pronunciada na América Latina.
Apenas 1% das empresas que compõem o Ibovespa tem uma mulher como CEO, em comparação com 6% para o índice S&P 500, mostram os dados da Bloomberg. E menos de 10% das startups brasileiras contam com uma mulher entre seus fundadores, segundo estudo do Distrito Dataminer, com B2Mamy e Endeavor.
“Os ecossistemas de tecnologia e inovação no Brasil são majoritariamente masculinos”, disse Lilian Natal, sócia do Distrito. “Você olha em volta e sente que não pertence.”
O CEO Vélez, ex-sócio da Sequoia Capital, um dos primeiros investidores do Nubank, deterá cerca de 75% dos direitos de voto da empresa após o IPO. Junqueira chefia as operações brasileiras do Nubank, de onde vem a maior parte de sua receita.
Sem as conexões de Vélez na indústria de venture capital “as coisas poderiam ter sido muito diferentes”, diz Bassetti da Wishe. “Isso é o que atrapalha muitas startups fundadas por mulheres.”
Filha de dois dentistas e nascida em Ribeirão Preto, cidade do interior de São Paulo, Junqueira estudou engenharia e depois trabalhou no Boston Consulting Group.
Desculpas públicas
Com mais de 48 milhões de clientes e operações no Brasil, México e Colômbia, sua aposta no Nubank valeu a pena. Mas houve alguns passos em falso.
Junqueira causou polêmica ao dizer em entrevista à TV no ano passado que o Nubank não “dá pra gente nivelar por baixo” para aumentar o número de negros na gestão.
Depois de uma reação negativa nas redes sociais, os fundadores do Nubank apresentaram um pedido de desculpas e se comprometeram a aumentar a representação dos negros em seus cargos chave. A história até foi citada na seção de “fatores de risco” do prospecto de oferta da empresa.
Mãe de duas filhas e com uma terceira a caminho, Junqueira é uma das únicas vozes no setor financeiro do Brasil discutindo abertamente os desafios do equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Sua conta no Instagram está repleta de curiosidades sobre sua vida familiar & ela morou com a sogra durante a pandemia, que ajudou com as crianças & incluindo sua paixão por todas as coisas de Disney e Lego.
“Ser mãe e trabalhar em tempo integral é uma habilidade real que deve ser valorizada muito mais do que é”, disse ela em entrevista concedida no início deste ano. “No meu caso, trata-se de fazer escolhas muito difíceis e ter minhas prioridades claras.”
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