Entorno de Lula desaprova BC independente, mas ex-presidente modera tom
“As pessoas colocam obstáculos no tal do Banco Central independente. Esse Banco Central tem que ter compromisso com o Brasil, não comigo”, disse Lula.
“‘Ah, ele vai ter meta de 💥️inflação‘. Vamos colocar meta de emprego e crescimento também, vamos comprometer com alguma coisa positiva. E quem tem que chamar o cara para conversar sou eu, eu não conheço, mas a hora que eu ganhar ‘vem cá, vamos conversar um pouquinho, vamos discutir o Brasil’, numa boa”, acrescentou.
Com a aprovação da autonomia, a missão institucional do BC já foi modificada para contemplar, além do objetivo principal de assegurar a estabilidade dos preços, uma melhora nos níveis de emprego e redução nas flutuações econômicas.
Mas o ex-sócio do banco Pactual e fundador da gestora Brasil Plural, Eduardo Moreira, apontou que a alteração não mudou a atuação e os comunicados da autoridade monetária. Para ele, isso atestaria sua ineficácia e desconexão com a realidade do país, que caminha para um ano de baixo crescimento econômico e inflação acima da meta em meio ao mais agressivo ciclo de aperto monetário do mundo.
Pedro Rossi, professor do Instituto de Economia da Unicamp e membro do Núcleo de Acompanhamento de Políticas Públicas da Fundação Perseu Abramo, afirmou que a autonomia pode atrapalhar a coordenação de políticas macroeconômicas, sendo importante que o BC atue alinhado ao governo, se guiando por um projeto de desenvolvimento.
A professora do Instituto de Economia da UFRJ Esther Dweck é outra crítica do modelo. “Sou totalmente contra essa lógica de autonomia do Banco Central porque não existe fazer política fiscal e monetária de forma independente, isso só atrapalha, você acaba tendo que aumentar a dose das duas, é o pior dos mundos, fica num jogo nocivo para a economia”, disse a economista, que foi chefe da assessoria econômica e secretária de Orçamento do Ministério do Planejamento no governo 💥️Dilma Rousseff.
Para além das ressalvas às regras que asseguram a independência da autoridade monetária, Luiz Gonzaga Belluzzo, professor titular do Instituto de Economia da Unicamp, pontuou que, em contraposição à atual visão de intervenções no mercado cambial apenas em casos de disfuncionalidade, o BC deveria fazer política de estabilização do dólar, contando para isso com os quase 360 bilhões de dólares de reservas internacionais que o país dispõe.
O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega fez coro, opinando que o BC deveria ter impedido a desvalorização exagerada do real, que impactou a inflação de dois dígitos no país. Para ele, o BC fez bem em reduzir juros para estimular a economia no auge da pandemia, baixando “até demais” a taxa Selic, e agora estaria “exagerando na dose” do aperto monetário.
“Se a política fiscal for em uma direção e a monetária for na outra, é como você dirigir um carro com o pé no freio, não dá certo”, afirmou, ressaltando que espera bom senso do presidente do BC em eventual gestão do PT.
Apenas o ex-ministro da Fazenda e Planejamento Nelson Barbosa afirmou que a independência do Banco Central não precisa ser alterada, e que pode ser administrada dentro das regras usuais da política econômica.
“Não acho que será um grande problema numa eventual volta do Lula“, disse.
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