Pré-Mercado: Um dia de recuperação está despontando
A Bela e a Fera à brasileira: a valorização de nossos ativos e a inflação | A Bela e a Fera (2017)
💥️Bom dia, pessoal!
Amanhecemos com os ativos internacionais buscando mais um dia de recuperação, depois de um início de semana bastante volátil na expectativa da ata do Federal Reserve, que confirmou o fato de que a autoridade monetária está adotando um tom mais combativo à inflação.
As principais Bolsas na Ásia e na Oceania tiveram uma boa sexta-feira (8), apesar de ainda se verificar tensão relacionada com os lockdowns chineses.
A interminável guerra na Ucrânia, por sua vez, segue sinalizando que a alta das commodities deve continuar sustentando as pressões inflacionárias de maneira mais permanente, uma realidade muito diferente daquela que os países desenvolvidos viveram nos últimos anos antes da pandemia.
Os mercados europeus e os futuros americanos, ao menos nesta manhã, acompanham o otimismo asiático e entregam resultados positivos. Com isso, o Brasil tem abertura internacional para seguir sustentando seus ganhos.
A ver…
Na expectativa pelos dados de inflação oficiais
Após a Petrobras escolher seu novo presidente, a volatilidade sobre a companhia foi diluída, dando lugar para uma boa alta ontem (7), o que sustentou o Ibovespa em grande parte do pregão, apesar da queda do petróleo de volta para a casa dos US$ 100 por barril. Agora, sem mais esse empecilho, os investidores voltam a se concentrar na inflação, a ser apresentada hoje pelo IBGE.
O IPCA de março deve acelerar para 1,35% no mês, frente a 1,01% de fevereiro, acumulando uma alta de 11% em 12 meses, patamar bem relevante e um pouco preocupante, principalmente se o indicador acompanhar outros índices de preços e acabar apresentando um dado acima do esperado, pressionando o nosso BC a dar uma alta adicional para a Selic mesmo após alcançar 12,75% em maio.
Por outro lado, Roberto Campos Neto, que volta a falar hoje, deu bastante clareza em seu tom de que a autoridade monetária parece bastante confortável com a ancoragem das expectativas de inflação para 2023 e 2024, entendendo que está no caminho certo para estabilizar os preços ainda em 2022, mesmo que estoure mais uma vez a meta.
No ambiente político, o dia reserva a formalização de Geraldo Alckmin (PSB) para a vaga de vice na chapa do ex-presidente Lula. As movimentações, assim como a expectativa pelo nome da terceira via, a ser apresentado no dia 18 de maio, sedimentam o caminho para a eleição de 2022. Fora isso, acompanhamos ainda a liberação da Caixa para consulta ao saque extraordinário de até R$ 1 mil do FGTS, que deverá dar um gás adicional à economia no ano.
Pressões na curva de juros
A preocupação com o crescimento econômico, a incerteza da inflação, o aperto da política do Federal Reserve e a guerra Ucrânia-Rússia são os vários fatores de risco que circulam o mercado americano. O mais relevante deles parece ser a combinação de inflação com reação do Banco Central americano. A curva de juros do Tesouro dos EUA, por sua vez, parece realizar um movimento de inclinação grande, após algum flerte com uma inversão na semana passada e no início desta semana.
Ainda assim, a reação dos mercados a tantos fatores de risco impressiona. A velocidade do aumento dos rendimentos dos títulos este ano segue relevante. Desde o início de 2022, o rendimento do Tesouro de 10 anos aumentou de 1,5% para 2,6%. Pode parecer um pequeno movimento absoluto, mas em termos relativos é uma volatilidade extrema para o que normalmente é um dos ativos mais estáveis e seguros disponíveis — vem provocando volatilidade nas Bolsas de todo o mundo.
O aumento nos rendimentos dos títulos nos últimos três meses foi mais rápido do que em quase 97% de todos os períodos de três meses desde 1950. Em geral, os rendimentos crescentes tendem a ser um vento contrário para as ações, principalmente na velocidade com que o desconto tem sido feito atualmente — se acontecesse mais gradualmente, o problema não seria tão grande.
Novos lockdowns na China
As ações chinesas tiveram uma sexta-feira sem grande intensidade em direção ao fechamento positivo de suas Bolsas mais relevantes; isto é, não foi um movimento uníssono de alta, mas, sim, um processo misto. O fator mais relevante de impacto é que as estimativas de consumo doméstico chinês devem ser pressionadas no curto prazo, à medida que os casos de Covid-19 continuam aumentando por lá.
Como ainda deve levar algum tempo até que a situação se estabilize e fique sob controle, tais restrições de combate à pandemia na China seguirão no noticiário. Um ponto positivo, porém, é que estamos chamando de lockdown o que não necessariamente é igual ao que aconteceu em 2023. Isso porque, apesar da política de “Zero Covid” do governo chinês, as restrições atuais são fortes, mas bem menos severas do que no passado.
Anote aí!
Aqui no Brasil, os dados econômicos mais importantes da agenda são a inflação oficial do mês de março, como comentamos acima, e a divulgação da produção de veículos em março pela Anfavea. Fora isso, acompanhamos as falas de Roberto Campos Neto ao longo do dia, inclusive em reunião com dirigentes de instituições financeiras para tratar de temas estruturais e conjunturais do Sistema Financeiro Nacional (SFN). Nos EUA, contamos com dados de estoques e vendas no atacado, que devem confirmar que as empresas estão usando a oferta recorde e o crescimento mais lento da demanda como uma chance de reabastecer.
Muda o que na minha vida?
Existe muita especulação de que a economia dos EUA estaria repetindo a experiência estagflacionária da década de 1970, muito parecida com a que o Brasil deve experimentar em 2022. Diante de uma pressão inflacionária que insiste em ficar por aqui, os riscos de recessão americana aumentaram esta semana, com sinais de uma política monetária mais agressiva por parte do Federal Reserve.
Alternativamente, outros estrategistas estão se perguntando se o melhor paralelo histórico não seria o da década de 1940, uma vez que muitos veem semelhanças entre o período após a Segunda Guerra Mundial e as consequências do pior da pandemia de coronavírus.
Note que cada período foi precedido por 10 a 15 anos de política monetária frouxa, incluindo taxas de juros zero, impulsionadas pela Grande Depressão da década de 1930 e pela crise financeira de 2007-09. O resultado foi a subida da inflação e, finalmente, uma resposta agressiva do Federal Reserve; atualmente, o Fed tem sinalizado que elevará as taxas de juros mais vezes este ano, assim como aconteceu na década de 40.
Se for verdade, há certa preocupação no radar. Na década de 1940, os EUA passaram por uma série de cinco recessões ao longo dos 16 anos após o fim da guerra. Supondo que a comparação se mantenha, o próximo passo seria uma desaceleração e, finalmente, um ciclo positivo muito mais curto. Com isso, embora não seja iminente, a recessão nos EUA pode estar mais perto do que pensávamos.
Um abraço,
Jojo Wachsmann
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