Pré-Mercado: Sambando no Carnaval de abril
Carnaval em abril mercado de ressaca fora da hora depois do feriado de Tiradentes | Se Beber, Não Case! Parte II (2011)
💥️Bom dia, pessoal!
Lá fora, os mercados de ações asiáticos encerraram o pregão de sexta-feira (22) predominantemente em baixa, acompanhando o movimento de venda verificado ontem (21) em Wall Street. A baixa foi impulsionada por comentários agressivos do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, que sinalizou perspectivas de aumentos mais rápidos e mais acentuados das taxas de juros. Além disso, na Ásia, os investidores ainda se preocupam com o impacto econômico das restrições contra a Covid-19 na China.
Na Europa, o desempenho não é muito diferente, com as principais Bolsas em processo de correção forte nesta manhã. O mesmo pode ser dito dos futuros americanos, que encontram no dia de hoje mais um momento de correção, dando sequência ao complicado pregão de quinta-feira, quando os índices abriram em suas máximas e seguiram caindo até o fechamento — todos os 11 setores do S&P 500 no vermelho. No Brasil, onde voltamos de feriado, a tendência será seguirmos o tom negativo.
A ver…
Piorando a situação
Temos uma correção contratada para o pregão de hoje. Lá fora, o índice EWZ, que acompanha os ativos brasileiros internacionalmente, fechou em queda de 2,63%. Com isso, nesta volta de feriado, o mercado local já vem em estado de ressaca. O problema foi que, para piorar a situação, apesar da agenda esvaziada e da expectativa de menor volume de negociações, ainda teremos que nos preocupar com fatores políticos locais.
Acontece que uma maioria no STF votou pela condenação do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) por estímulo a atos antidemocráticos e ataques a instituições como o próprio STF. Contudo, o presidente Jair Bolsonaro concedeu ontem perdão presidencial ao deputado, abrindo mais uma vez um flanco de enfrentamento entre os Poderes, causando preocupações de cunho político-institucional aos investidores.
O ato do presidente equivale ao que se conhece como indulto coletivo, com efeito de suspender a condenação e a pena impostas pelo STF. Dessa forma, os ativos brasileiros ainda devem considerar hoje, além da correção já contratada de ontem, as tensões envolvendo os Poderes da República, de maneira similar ao que aconteceu entre agosto e setembro do ano passado e que também serviu para pressionar os ativos.
Subiu o tom
Ontem, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou que o banco central deve apertar a política um pouco mais rapidamente, confirmando o que os demais membros da autoridade monetária americana já vinham falando há algumas semanas. Dessa forma, acentuam-se os riscos ao crescimento, principalmente, em detrimento dos inflacionários, uma vez que os preços devem encontrar um pico muito em breve.
Além de Powell, também contamos com as atuações vocais dos presidentes regionais do Fed de St. Louis, Jim Bullard, de São Francisco, Mary Daly, e de Chicago, Charles Evans, todos em movimento mais hawkish (contracionista) bastante uníssono. Ao que tudo indica, um aumento de meio ponto percentual na taxa de juros “estará sobre a mesa” durante a reunião de política de maio.
Em comparação com o ciclo de aperto do banco central de 2004 a 2006, a inflação agora é mais alta, mas a política monetária continua mais acomodatícia, ao menos relativamente (mesmo que subam muitas vezes a taxa, os juros reais ainda serão negativos). Com isso, como a inflação está alta, a economia está em pleno emprego e os juros estão muito estimulativos, faz sentido avançar um pouco mais rapidamente.
Reflexões sobre o Livro Bege
Na última quarta-feira (20), nos EUA, o Federal Reserve publicou seu Livro Bege com as considerações mais relevantes sobre a economia por parte da autoridade monetária, que teceu comentários bastante interessantes ao longo do documento.
O principal indicativo foi a percepção de que atividade econômica dos EUA se expandiu a uma taxa “moderada” desde meados de fevereiro em meio a fortes pressões inflacionárias. O motivo? Demanda forte, mas oferta limitada (interrupções na cadeia de suprimentos, um mercado de trabalho apertado e custos de insumos mais altos pressionaram a capacidade das empresas de atender à demanda de maneira eficaz).
Agora, à medida que o crescimento da renda disponível real (ajustada pela inflação) se contrai para seu patamar mínimo, alguns membros do Fed observaram sinais iniciais de que o forte ritmo de crescimento dos salários começou a desacelerar, o que indicaria que a inflação está próxima de seu pico. Claro, enquanto as pressões inflacionárias permanecerem fortes, as empresas continuarão a repassar os custos aos clientes.
Anote aí!
Enquanto a agenda local está muito esvaziada, com ativos brasileiros repercutindo ainda o pregão de ontem e as tensões de Brasília, o mercado internacional poderá voltar a dar um pouco de emoção.
Na Europa, depois de investidores receberem o dado de confiança do consumidor do Reino Unido em abril, que caiu por conta da alta dos preços de energia e da elevação de impostos, espera-se a fala da presidente do BCE, Christine Lagarde, e do presidente do BoE, Andrew Bailey.
Nos EUA, contamos com a continuidade da temporada de resultados, com nomes como American Express, HCA Healthcare, Kimberly-Clark, Newmont, SAP, e Verizon Communications. Além disso, teremos também os Índices de Gerentes de Compras de Fabricação e Serviços para abril.
Muda o que na minha vida?
Uma nova tese mais pessimista tem se formado desde o começo deste ano. Ela canta a bola de que uma tempestade está se formando, em especial sobre os países emergentes. Estão lembrados de que já conversamos sobre a crise alimentar atual? Pois bem, a turbulência desencadeada pelo aumento dos preços dos alimentos e da energia já está afetando países como Sri Lanka, Egito, Tunísia e Peru, gerando protestos.
Para piorar, a campanha de aperto monetário mais agressivo por parte dos bancos centrais desenvolvidos, em especial o Federal Reserve, significou um salto nos custos do serviço da dívida para os países em desenvolvimento (tomaram emprestados bilhões para combater a Covid-19). Além disso, o aumento das taxas de juros nos EUA tende a estimular saídas de capital.
Os mais pessimistas temem que um desastre esteja vindo em nossa direção, principalmente por conta da guerra na Europa, que está provocando o mais recente choque alimentar e energético, mostrando poucos sinais de fim. Dessa forma, os choques na economia real e o aperto do mercado financeiro formam um cenário sombrio – não visto nessa escala em muitas décadas.
Um abraço,
Jojo Wachsmann
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