Após pesquisa, Abimapi se diz a favor de farinha com trigo geneticamente alterado
Uma pesquisa mostrou que 72% dos consumidores não teriam restrição ao consumo de trigo e derivados do cereal transgênico (Imagem: REUTERS/Khaled Abdullah)
A Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi) mudou sua posição quanto ao uso de 💥️farinha de trigo geneticamente modificado (OGM) pela indústria. Agora, a Abimapi se diz favorável ao produto.
A mudança no posicionamento da 💥️indústria veio do resultado de uma pesquisa, encomendada pela entidade, que mostrou que 72% dos consumidores não teriam restrição ao consumo de 💥️trigo e derivados do cereal transgênico.
“Ficamos surpresos com o resultado de que mais de dois terços consumiriam transgênicos sem nenhuma restrição, corroborando aprovação dada pela CTNBio. Assim, não há por que não aprovar, se a segurança alimentar está garantida. Já que foi aprovado pelo órgão regulador e pelo consumidor, agora vamos aproveitar ao máximo”, disse o presidente executivo da Abimapi, Claudio Zanão.
Anteriormente, a Abimapi era contrária à aprovação do uso e comercialização da farinha de trigo transgênico no País e liderou movimentação contrária à entrada do produto, junto à Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) e à Associação Brasileira da Indústria da Panificação e Confeitaria (Abip), antes da liberação do produto pela CTNBio.
Em novembro do ano passado, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) deu aval ao uso, comercialização e importação de farinha de trigo geneticamente modificada da variedade argentina HB4. Mesmo após a aprovação do produto, tanto a indústria moageira quanto a de massas e biscoitos e a de panificação diziam que não comprariam o produto.
Segundo Zanão, a questão da Abimapi era relacionada ao mercado e não havia dúvida quanto à segurança alimentar da farinha transgênica. “A CTNBio assegurou a segurança alimentar da farinha OGM. Éramos contra porque este trigo ainda não havia sido aprovado em nenhum lugar do mundo. Não tínhamos dúvida com a segurança alimentar do produto, mas sim com a aceitação pelo consumidor”, afirmou Zanão.
Na pesquisa encomendada pela Abimapi, realizada pela Indexsa no fim do ano passado, 72% dos 3.135 entrevistados (1.567 presencial e 1.568 online) responderam não ter restrição com o consumo de bolos, massas e biscoitos feitos a partir de farinha de trigo transgênico, enquanto outros 28% disseram que teriam restrição com o consumo desses produtos.
O estudo revelou também que 57% dos entrevistados sabiam o que é um alimento transgênico, sendo que 75,5% desta fatia responderam que sabiam que consumiam produtos OGM. De acordo com a pesquisa, das 1.345 pessoas que informaram não saber o que é um produto transgênico, 71,4% disseram que consumiriam esses alimentos após receberem informações sobre produtos OGM.
Uma parcela de 26,6% do total de entrevistados informou que não consumiria alimentos transgênicos mesmo após receber informações sobre esses produtos. Foram entrevistados consumidores de até 69 anos de 12 capitais nas regiões Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste e do Distrito Federal.
Com os resultados da pesquisa em mãos, a Abimapi vai propor ao governo a retirada do selo de transgênico (triângulo amarelo com a letra T) do rótulo dos produtos. A entidade alega que o símbolo não é totalmente compreensível pelo consumidor e que pode ser suprido por uma frase dizendo que o produto contém transgênico na embalagem.
“Há pesquisas que mostram que o T (triângulo amarelo com letra T no centro) não significa nada para o consumidor. As nossas reivindicações são trocar a identificação do T da frente do rótulo por um aviso escrito ao longo a embalagem e a não obrigatoriedade de colocar de qual variedade advém o produto, porque como pode mudar a cada safra, geraria muitos custos com trocas de embalagem”, defendeu Zanão.
Zanão admite, contudo, que mesmo após a pesquisa nacional há receio da indústria quanto à aceitação dos produtos pelos consumidores externos e de possíveis impactos às exportações brasileiras de massas e biscoitos, pelo fato de o País ser o único a permitir uso da farinha de trigo geneticamente modificado.
No ano passado, as vendas externas das categorias Abimapi somaram 201 mil toneladas e geraram receita de US$ 245,5 milhões. “O consumidor europeu e americano, por exemplo, são mais sensíveis a essas mudanças. Não gostaríamos de ter que colocar selo no produto e ter algum problema lá fora. Como vai demorar um tempo ainda para a produção desses alimentos, esperamos que a lei seja atualizada em tempo”, comentou.
Na avaliação do presidente da Abimapi, o uso ou não da farinha de trigo OGM vai depender de decisão comercial e individual de cada fabricante. Ele estima que o produto deve estar disponível às indústrias brasileiras apenas em meados de 2023 e 2024.
“A Argentina aprovou a comercialização de sementes, mas ainda não começou o plantio. Acredito que vai demorar um ano ou dois para chegar farinha OGM aqui, porque o trigo é colhido no fim do ano e não haverá tempo hábil de haver farinha transgênica na próxima safra. Até plantar, colher, moer, devemos ultrapassar este ano, mas será questão de tempo para farinha de trigo OGM e produtos com esta farinha chegarem aqui”, apontou Zanão.
Procurada pela reportagem, a Abitrigo não quis comentar o assunto. A entidade não respondeu se mantém ou se também mudou o seu posicionamento contrário ao uso da farinha de trigo geneticamente modificado. A Abip não respondeu ao pedido de comentário até a publicação desta reportagem.
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