Bolsonaro, Lula e Powell roubaram a cena na semana, mas só um abalou o mercado; saiba por quê
Em semana marcada por sabatinas dos presidenciáveis no Brasil, discurso agressivo do presidente do Fed rouba a cena e abala mercados globais (Imagem: REUTERS/Kevin Lamarque)
A semana que passou foi marcada por falas de personalidades do campo político e da esfera econômica. Mas enquanto o discurso de Jerome Powell abalou os 💥️mercados globais, a rodada de entrevistas na TV com os candidatos à Presidência da República no Brasil terminou com foco no desempenho do líder nas pesquisas e seu principal adversário.
De um lado, o atual presidente do 💥️Federal Reserve quebrou a tradição do simpósio de 💥️Jackson Hole com um curto discurso de apenas cinco páginas. Mas foi o suficiente para embutir perdas de mais de 2% em Nova York e para firmar o rendimento (yield) dos títulos dos Estados Unidos (✅Treasuries) na faixa de 3%.
Já o 💥️Ibovespa acompanhou a pressão externa, mas não entregou totalmente os ganhos acumulados na semana. O 💥️dólar, por sua vez, conseguiu se consolidar abaixo de R$ 5,10.
E essa blindagem dos mercados domésticos ocorreu porque, de outro lado, o cenário eleitoral não tem provocado a volatilidade de outrora.
Eleições no preço
Isso ocorre porque não importa quem ganhe a 💥️eleição marcada para daqui a cerca de 40 dias. Tanto faz se for o ex-presidente 💥️Lula ou o candidato à reeleição 💥️Jair Bolsonaro. Afinal, ambos têm apoio e legitimidade para governar com credibilidade, afastando qualquer grande risco político.
Enquanto o desempenho do petista na sabatina no Jornal Nacional foi bem recebido pelo mercado; a participação do atual mandatário também foi melhor que o esperado. De um modo geral, ambos os nomes sinalizaram moderação para atrair a classe média e os eleitores mais para o centro do espectro político.
“O mercado vê os dois nomes em condições de entregar um plano crível para estabilizar os ruídos políticos de curto prazo”, resume um diretor-gerente da tesouraria de um banco estrangeiro. Para ele, o que importa é a situação de confiança após as eleições.
Portanto, a situação fiscal, neste momento, não é motivo para o 💥️Brasil ser negativo ou positivo. O que importa, além da credibilidade do governo eleito, é a 💥️inflação. “E ambos ajudarão o Banco Central a cortar os juros e promover um grande alívio que vem sendo ignorado pelo 💥️mercado”, conclui o gestor citado acima.
Ou seja, com a eleição se tornando um “não-evento”, os investidores começam a ficar otimistas com a história local. Assim, uma exposição relativa em 💥️ações e 💥️taxas de juros pode ser uma carteira equilibrada.
É a credibilidade!
E é aí que o foco se desloca para os Estados Unidos. Mais precisamente para a bucólica cidade de Moran, no Wyoming. Até então palco de discursos célebres, como o do ex-Fed Ben Bernanke e do homólogo no Banco Central Europeu (BCE) Mario Draghi, 💥️Powell frustrou as expectativas dos mercados.
Mas essa frustração não se deu porque ele indicou um aumento maior na taxa de juros dos EUA em setembro. Nem porque esvaziou as chances de um “pivô do Fed” em direção a cortes em 2023.
A decepção ficou com a mudança de tom na fala de Powell. “Em uma postura mais incisiva, dura e direta, ele foi direto ao ponto”, resume o economista-chefe da Mirae Asset, Julio Hegedus Netto.
Tradicionalmente, os discursos de presidentes do Fed no simpósio tendem a ser longos e abrangentes. Mas em uma fala de menos de dez minutos, Powell usou os holofotes em Jackson Hole para transmitir uma mensagem bem agressiva (“hawkish”): o Fed manterá o trabalho de reduzir a 💥️inflação e o preço a ser pago será alto, tanto em termos de 💥️empregos quanto de crescimento econômico.
“Ou seja, se a economia desmontar, pouco importa”, avalia o economista da Mirae. “O importante é derrubar a escalada inflacionária”, emendou Hegedus Netto.
Portanto, Powell quer matar o dragão da inflação de uma só vez, o que mantém a desconexão entre o Fed e os mercados.
“Enquanto Powell parece comprometido em combater a inflação, os mercados pensam que ainda estão lidando com um Fed que cortará o juros assim que a economia se deteriorar demais”, explica o estrategista sênior do Rabobank, Philip Marey, em relatório. Por isso, os ativos globais sangraram.
Ainda que o risco de uma contaminação não seja desprezível, o desempenho relativo do Brasil em meio a uma contínua turbulência global confirma a percepção de que, no fim, é a credibilidade que importa.
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