Projetos com etanol de milho entram em zona cinzenta, sobretudo os de planilhas ainda
Unidades de etanol de milho acabam desviando para o anidro, mas insegurança persiste (Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker)
As destilarias de etanol de milho conseguem um bom faturamento com o DDG, que vai engordar o gado. Mas sem produzir etanol, essa espécie de ração não sai.
Logo, qualquer projeto do biocombustível do cereal tem que ser ancorado no mercado específico de consumo na bomba, seja na forma de anidro, misturado à gasolina, seja o hidratado, direto no tanque.
As usinas de cana têm a opção do açúcar, as fabricantes de etanol de milho só têm o etanol de milho.
E não encontram escape contra a vantagem tributária que a gasolina tem com a desoneração do PIS/Cofins e Cide, que vem desde Bolsonaro, como também, em outros exemplos, a transferência para 2023 da comprovação das metas dos Créditos de Descarbonização (CBios) de 2022, por parte das distribuidoras.
À luz dessas situações, os ganhos de produção desse combustível alternativo, que veio para oxigenar o mercado de renovável tirando um pouco do peso de participação do etanol de cana, sempre acabam entrando numa espécie de zona cinzenta a cada interferência do governo no mercado de energia veicular – ou Ciclo Otto.
A menos que as empresas se dediquem apenas ao anidro, como deverá acontecer em 2023, cujos preços têm equivalência na porta de fábrica, segundo Paulo Strini, do Grupo Triex.
O problema que falta clareza ainda também se voltam ou não os impostos e como a Petrobras (PETR4) se comportará em relação aos preços internacionais sobre a gasolina.
“A instabilidade jurídica e a ausência de previsibilidade na política tributária do país provocam insegurança no mercado, sobretudo com relação aos investimentos”, adverte Guilherme Nolasco, CEO da Unem, a associação dos destiladores.
Ele não viu nenhum anúncio de suspensão de projetos, mas não há como os investidores olharem com lupa especialmente para aqueles que ainda não saíram das pranchetas.
São mais de 20 projetos em estudos que a Unem tem conhecimento, contribuindo para um bolo superior a R$ 15 bilhões de investimentos.
Desde o ano passado, a demanda por etanol caiu e não foi diferente com o de milho. As indústrias acabaram dando mais oferta de anidro, em detrimento do hidratado. Em dezembro, Nolasco registra que o Imea revisou para baixo o carburante dos veículos flex ou a álcool puro, em 2,67 bilhões para o período que vai até o término da próxima safrinha de milho.
Três meses antes, no início da safra 22/23, eram previstos 2,92 bilhões/l.
Nos mesmos períodos compreendidos, o anidro estimado saiu de 1,42 bilhão para 1,72 bilhão/l.
Outro ponto que o presidente-executivo da Unem salienta é que o aumento do consumo do anidro via aumento do escoamento da gasolina não é um fator de ganho automático, pois também favorece o crescimento das importações do derivado do petróleo diante da baixa capacidade de refino brasileira.
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