Moeda comum do Mercosul optativa ou compulsória? O clearing cambial dirá se valerá a pena
Moeda única em lugar de dólar nas transações do Mercosul é ajuda a suprir a falta de divisas da Argentina (Imagem: Pixabay)
Uma coisa é a moeda comum para o Mercosul, sem ser obrigatória. Outra é se for compulsória nas transações da União Aduaneira.
Em entrevista em Buenos Aires, quando confirmou que Brasil e Argentina vão levar em frente essa proposta, desde que aceita por Uruguai e Paraguai, o presidente Lula deixou uma entrelinha que merece ser esmiuçada, desdizendo informações anteriores de que a divisa do bloco seria optativa.
Ao lembrar que em 2008, em acordo para que os países pagassem as importações do bloco em suas moedas, não deu em nada praticamente porque os agentes escolhiam em qual moeda transacionar.
A divisa americana era e é imbatível contra o dinheiro de economias instáveis.
Aliás, ainda atualmente se pode transacionar em moedas locais, mas a monetização, em sistema de clearing account, é em dólar, no qual o risco de perda cambial é considerável diante da instabilidade do real e do peso, lembra Michel Alaby, consultor da Alaby & Associados, especialista em comércio exterior e em Mercosul e países árabes, e colunista de Money Times.
Se o presidente brasileiro quis mostrar que as discussões de agora vão partir para a exclusividade do uso da futura moeda única, em substituição ao dólar, o cenário é outro.
Só vai valer a pena aos empresários se a cotação suprir os custos de produção e os interesses de margens dos dois lados da fronteira.
E como se dará o acerto de contas que venha a ser estabelecido pelo Banco Central na liquidação.
Os argentinos têm dificuldade de obtenção de dólares, diante de um crise fiscal e hiperinflação que espantam a entrada da moeda forte do país via investimentos, por exemplo. A moeda única seria uma mão na roda, como Lula também resvalou ao dizer que “alguns países têm [essa] dificuldade”.
As divisas cambiais via exportações de commodities e carnes não suprem as reservas cada vez mais raspadas.
O Brasil precisa do parceiro, que é o maior comprador de produtos manufaturados, e a Argentina também, porque interna aqui uma pauta também de pouco mais valor agregado – como autopeças e veículos, a partir de acordos setoriais do Mercosul -, além de um pouco mais diversificação em itens do agronegócio, como vinhos, leite, arroz, além do trigo, o mais importante.
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