Fofo e ameaçado: Nova Zelândia tenta salvar o kiwi, sua ave-símbolo
01/05/2023 11h45
Mas a chegada das populações polinésias, no século 13, e depois dos europeus mudou a situação. Os ratos eliminaram os petréis e ralídeos. Os ratos roíam todas as sementes e bagas, deixando pouco para as aves bicarem.
Os gambás, introduzidos por sua pelagem, despojaram as árvores. Os coelhos se reproduziram tão rápido, que devoraram pastagens. E os furões, importados para acabar com os coelhos, ceifaram as populações de aves de toca, tordos, corujas e codornas.
Assim, a quantidade de aves endêmicas da Nova Zelândia que não voam caiu, caso do kakapo e do kiwi. Restam apenas 70.000 kiwis silvestres, segundo o Ministério da Conservação, encarregado de preservar o patrimônio natural e histórico do país.
E embora o 'apterygiforme' seja um verdadeiro símbolo do país, poucos neozelandeses viram esta ave na natureza, com seu bico longo, plumagem parda e asas pequenas demais para voar.
Mas graças às mais de 90 iniciativas em escala nacional desenvolvidas para protegê-la, sua população voltou a crescer. Entre elas, está a Capital Kiwi Project, uma organização beneficente dotada de milhões de dólares neozelandeses, provenientes de subvenções governamentais e doações privadas.
Os kiwis "estão no coração do mito maori". Sejam "nossas equipes esportivas, de rúgbi, de defesa e, até mesmo quando vamos ao exterior, nos chamam de kiwis".
"São robustos, resistentes, adaptáveis, todos os valores associados aos neozelandeses. Mas a maioria de nós nunca viu um único kiwi", conta.
Os kiwis silvestres desapareceram da região de Wellington há mais de um século, segundo Paul Ward. Por isso, trabalharam de fora sustentável para salvá-los, atacando primeiro os predadores naturais. Em seguida, ensinaram os cães locais a passar longe deles.
O grupo também declarou guerra aos furões, porque embora os kiwis adultos possam se defender deles com suas patas fortes e garras afiadas, os filhotes não conseguem, explica Ward.
Foram colocadas mais de 4.500 armadilhas em uma área equivalente a 43.000 campos de futebol nas colinas que margeiam Wellington, conseguindo capturar 1.000 furões.
Após "a eliminação dos furões", explica Ward, o número destes predadores diminuiu o suficiente para permitir, em novembro de 2022, soltar um primeiro grupo de kiwis, que foi cuidadosamente transportado ao longo de 500 km de um criadouro em cativeiro até uma escola em Wellington.
Um silêncio tomou a multidão quando o primeiro pássaro foi solto diante de 400 pessoas que nunca tinham visto kiwis antes, contou Paul Ward.
💥️"Nosso dever"
O acompanhamento regular mostra que esta primeira geração evolui bem. Ward explicou que ganharam peso após dois meses em liberdade, pois "há comida de sobra para eles nestas colinas".
Nos próximos cinco anos, o projeto tem como meta liberar 250 aves e incorporar seu característico grito estridente à vida cotidiana dos moradores dos arredores da capital.
"É nosso dever zelar pelo animal que nos deu seu nome", considerou. Caso contrário, "mereceremos ser renomeados de idiotas".
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