Arqueólogos descobrem múmia de mais de 4 mil anos coberta em ouro

Os arqueólogos fizeram descobertas importantes em Saqqara, no Egito - KHALED DESOUKI/AFP VIA GETTY IMAGES

No século 5° a.C., o historiador grego Heródoto de Halicarnasso descreveu a forma elaborada como os egípcios preservavam seus mortos.

O cérebro era removido pelas narinas com um gancho e os órgãos internos eram retirados através de um corte no abdômen.

Esse corte era costurado e o corpo era lavado com vinho e especiarias. Depois, ele era deixado para secar em uma solução de natro — uma substância coletada nos leitos de lagos secos e usada para absorver a umidade — por até 70 dias.

Em seguida, ele era cuidadosamente embalado em bandagens de linho e, por fim, depositado em um caixão.

Na época de Heródoto, os egípcios já praticavam a mumificação há mais de dois mil anos, aperfeiçoando gradualmente a técnica por meio da experimentação.

As múmias pré-dinásticas do quarto milênio a.C. foram tão bem preservadas pelas areias secas do deserto, sem intervenção humana, que suas tatuagens ainda são visíveis.

As primeiras tentativas de reproduzir este resultado por meios artificiais tiveram menos sucesso, de forma que Hekashepes é um exemplo das primeiras preservações bem-sucedidas.

💥️Por que os antigos egípcios mumificavam seus mortos?

Os egípcios haviam observado há muito tempo que os corpos enterrados em túmulos sem contato direito com a areia seca costumavam decompor-se e tentaram evitar que isso acontecesse por motivos religiosos.

Eles acreditavam que, sem ter um corpo físico para retornar, a essência da alma — o Ka — não poderia se servir das ofertas de alimentos trazidas para o cemitério.

O Ka passaria a vaguear pelo mundo dos vivos como um espírito pernicioso.

As técnicas de mumificação foram desenvolvidas para preservar o corpo para o Ka.

Os primeiros métodos surgiram antes da unificação do Estado, ocorrida aproximadamente em 3100 a.C.

Eles envolviam embalar o corpo com bandagens de linho embebidas em resina. Mas, como os intestinos eram deixados no lugar, o corpo acabava se decompondo.

Uma das tumbas recém-descobertas no sítio arqueológico de Saqqara, ao sul do Cairo - Getty Images - Getty Images

A tinta das belas estátuas ainda é visível. Elas ilustram homens com corpos atléticos e pele marrom-avermelhada. As mulheres têm pele clara e são curvilíneas. Os dois sexos são ilustrados com abundantes pelos negros.

As imagens refletem os papéis de gênero, segundo os quais os homens assumiam funções ativas na esfera pública, enquanto as mulheres permaneciam cuidando da casa.

Algumas das estátuas ilustram mulheres realizando tarefas domésticas, como moer grãos e assar pães, o que demonstra a importância depositada sobre o trabalho doméstico das mulheres.

As estátuas de casais ilustram os maridos e as esposas afetuosamente de braços dados. Alguns são exibidos com seus filhos em pé ou ajoelhados aos pés dos pais.

As imagens de casais e famílias enfatizam a importância da família como unidade social básica na sociedade do Egito Antigo. Os laços de afinidade eram mantidos após a morte e os vivos tinham a obrigação de fornecer oferendas de alimentos para sustentar seus parentes na vida após a morte.

As estátuas descobertas em Saqqara incluem ilustrações de casais de mãos dadas. - KHALED DESOUKI/AFP VIA GETTY IMAGES - KHALED DESOUKI/AFP VIA GETTY IMAGES

As estátuas descobertas em Saqqara incluem ilustrações de casais de mãos dadas.

Os egípcios acreditavam que, em troca das oferendas, eles poderiam pedir auxílio aos mortos, que também poderiam agir como intermediários entre os vivos e Osíris, o governador divino do submundo.

Podemos ter facilmente a impressão de que os antigos egípcios eram obcecados pela morte, mas o cuidado com que eles tratavam seus mortos revela um amor pela vida e uma esperança sincera de continuação da sua existência após a morte.

A descoberta do corpo de Hekashepes nos dá a esperança de que outros restos humanos preservados daquele período sejam encontrados e aumentem a nossa compreensão sobre a vida no tempo das pirâmides.

* Maiken Mosleth King é professora de história antiga da Universidade de Bristol, no Reino Unido.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation✅ e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original✅ em inglês.

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