Volta: Edição pouco portuguesa teve apenas um vencedor luso em etapas - Ciclismo

Também nas camisolas secundárias o cenário foi 'negro', com todas a serem conquistadas por estrangeiros e, mais, envergadas sempre por um corredor de outro país. Volta: Edição pouco portuguesa teve apenas um vencedor luso em etapas Os ciclistas à passagem por uma aldeia durante a 8a etapa disputada entre Viana do Castelo e Fafe, numa distância de 182,4 Km. Fafe, 02 de agosto de 2024. NUNO VEIGA/LUSA © 2024 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

A 85.ª Volta a Portugal em bicicleta, que terminou hoje com o triunfo do russo Artem Nych (Sabgal-Anicolor), foi pouco portuguesa, com apenas uma vitória em etapa e nenhuma classificação final conquistada por corredores nacionais.

O arranque dificilmente poderia ter sido melhor, com o 'automático' Rafael Reis a dar a vitória a Portugal no prólogo, um exercício que costuma dominar, mas, daí para a frente, viveu-se uma autêntica 'razia', sem que qualquer ciclista luso tenha conseguido voltar a erguer os braços.

Apesar de tudo, os seis dias com Afonso Eulálio (ABTF-Feirense) na liderança da classificação geral, depois da amarela inaugural de Rafael Reis, deram cor às aspirações de corredores portugueses, alimentando o sonho de um vencedor nacional na corrida de proa do ciclismo em Portugal.

Também nas camisolas secundárias o cenário foi 'negro', com todas a serem conquistadas por estrangeiros e, mais, envergadas sempre por um corredor de outro país - o argentino Nicolás Tivani (Aviludo-Louletano-Loulé Concelho) venceu nos pontos, o espanhol Luis Ángel Maté (Euskaltel-Euskadi) na montanha, o também espanhol Jaume Guardeño (Caja Rural-Seguros RGA) triunfou na juventude e a Euskaltel-Euskadi, de Espanha, venceu por equipas.

No final, Gonçalo Leaça (Credibom-LA Alumínios-MarcosCar) foi o melhor português, no quarto posto, e Eulálio fechou o top 10, dois únicos lusos nos primeiros lugares da geral, e a Aviludo-Louletano-Loulé Concelho venceu os pontos, ainda que com o argentino Nicolás Tivani.

Para o diretor da prova, Joaquim Gomes, estes resultados atestam não só o trabalho das equipas estrangeiras, que “afinal não são tão más” e têm mostrado evidentes recursos, além de quatro equipas espanholas chegarem do segundo escalão do ciclismo mundial, mas também o controlo do passaporte biológico colocado em prática em 2023 pela Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC).

Na sequência do ‘escândalo’ W52-FC Porto, que ainda decorre na justiça depois de a equipa ter sido ‘forçada’ a fechar, com buscas no hotel durante uma prova e os ciclistas suspensos por vários anos de correr, além das responsabilidades de diretores e administradores, estes meios antidopagem colocados em prática, também pela Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP), “apresentam uma competição muito mais justa”.

“Estou confiante, finalmente, que o atual método vai apresentar uma competição mais saudável, mais justa, que nos vai confortavelmente permitir encarar o futuro com mais tranquilidade. Só um louco, e esses não fazem falta na modalidade, é que hoje dá positivo num controlo antidoping”, declarou o também antigo ciclista, duas vezes vencedor da Volta.

Para Joaquim Gomes, que tem décadas de ligação à corrida, “o que se passou com a W52-FC Porto já se tinha passado antes com a Liberty ou a Maia-Milaneza”, com a notoriedade e popularidade da Volta a Portugal a permitir ‘aguentar’ o choque e o afastamento quer do público quer de jovens ciclistas.

“Quando estes escândalos surgem, é vulgar ver muitos corredores em que as famílias têm influência. Às vezes, corredores de enorme qualidade decidem continuar a estudar, enveredar por outras áreas profissionais, e não entrar numa modalidade em que está criado um pântano, digamos assim”, critica.

Depois, numa altura “mais pacífica”, surgem jovens valores que apresentam qualidade, lembrando Joaquim Gomes os casos de sucesso no estrangeiro, como os de João Almeida (UAE Emirates), que aliás também servem de ‘chamariz’ e para que o fenómeno de abandono “não seja ainda mais grave”.

“Vamos ter de cumprir o tal período de nojo que falei há pouco, e esta Volta também deu um contributo decisivo para que isso ocorra. (...) Há uma coisa importante. O ciclismo, até pela sua exigência, transmite valores de elevada nobreza aos seus praticantes. Só tenho pena que alguns destes manchem estes valores”, reforçou.

Apesar de ver o ‘apagão’ luso “com preocupação”, mostra-se confiante na “resiliência” não só do pelotão nacional como da Volta a Portugal, e da credibilidade que empresta à modalidade, tendo já passado por vários casos.

“Quando ainda há tão pouco tempo tivemos um tão grande escândalo no desporto nacional, com um período de nojo ainda tão curto, e hoje celebramos uma Volta com enorme sucesso, só o peso da Volta permite batalhar contra estas notoriedades”, acrescentou.

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