Guilherme Siqueira: a lesão crónica e os arrependimentos que duram até hoje - I Liga

Antigo lateral esquerdo jogou condicionado durante vários anos e esteve perto de ser jogador do Real Madrid mas...optou pelo Benfica. Guilherme Siqueira: a lesão crónica e os arrependimentos que duram até hoje © 2014

O futebol é um mundo complexo e a grande maioria dos adeptos só tem acesso às superfície, desconhecendo as trevas pelas quais os intérpretes passam para jogar ao mais alto nível, semana após semana.

O caso de Guilherme Siqueira é um belo exemplo, uma vez que o defesa esquerdo brilhou pelo Benfica, em 2013/14, mas uma lesão complicada impediu-o de manter a consistência e forçou uma reforma antecipada, quando o brasileiro ainda tinha 30 anos.

“Para que se tenha uma ideia, até aos dias de hoje, não posso jogar futebol com amigos nem fazer nenhum desporto de impacto. A única coisa que faço é andar de bicicleta ou nadar. Tenho uma lesão numa cartilagem importante desde os 18 anos, quando cheguei a Itália. Quando estava no Valência, tentei treinar e jogar, mas a lesão já estava demasiada avançada. Piorei-a muito e tinha vindo a agravar-se. Mas este tornozelo deu-me muito e não me posso queixar. É verdade que ainda me restavam cinco ou sete anos a um nível alto quando me retirei, mas o ‘homem de cima’ [Deus] não quis que assim fosse. Ainda que não tivesse sido fácil sair aos 30 anos, superei-o mentalmente e estou muito bem”, explicou, em entrevista ao jornal As.

Siqueira começou a carreira em Itália, onde representou clubes como a Udinese ou a Lazio, mas foi em Espanha que ganhou outra preponderância. Após três épocas de alto nível no Granada, foi emprestado ao Benfica, mas o cenário podia ter sido bem diferente.

"Era o último dia, não tinha nada e ia ficar no Granada, mas o meu representante telefonou-me para dizer que o Benfica me queria emprestado. Apanhei um avião e ligou-me o meu agente a dizer que afinal o Coentrão estava de saída e que ia assinar pelo Real Madrid. Assim que cheguei a Lisboa, num escritório onde havia um fax, assinei contrato e já era jogador do Real Madrid. Já era tarde e estávamos todos felizes, mas depois ligaram a dizer que afinal o Coentrão não ia sair por problemas de documentação. Propuseram-me regressar a Granada e assinaríamos um pré-contrato para janeiro. Eu disse que não. Estava em Lisboa e assinei com o Benfica. Mas já tinha feito tudo com o Real, salário acertado e anos. Ia jogar três anos de branco", revela o antigo lateral esquerdo.

Ainda assim esta mudança não perturbou o jogador, que não ficou arrependido com a decisão. O invés, teve uma temporada de alto nível ao serviço das águias, tendo participado em 33 jogos, nos quais marcou um golo e assistiu outro.

"Não lamento nada não ter ido para o Real. No Benfica ganhámos três títulos nacionais e disputámos a final da Liga Europa. Conheci o Jorge Jesus e o clube. Aliás, arrependi-me mais de não ter assinado mais épocas com o Benfica do que não ter ido para Madrid. Já o disse antes. Embora a minha carreira tenha terminado cedo, estou grato por ter jogado no Atlético, no Benfica, no Granada e no Valência e por ter estado a um passo do Real Madrid", explica.

Do Benfica seguiu para o Atlético de Madrid, antes de rumar a Valência. Este regresso à La Liga correu pior do que o esperado e as lesões foram mesmo determinantes para um antecipado fim de carreira, que pôs travão a um jogador que tinha condições ara brilhar ao mais alto nível.

“Eu cheguei ao Valência depois de competir no Atlético e, na minha primeira semana, sofri uma entorse no tornozelo num treino. Poucos dias depois, tínhamos um jogo com o Bétis e eu não quis dizer aos médicos nem ao treinador, para não ficar em casa. Fui com uma dor incrível e, ao minuto 40, tive de pedir para ser substituído. A partir daí, começaram os problemas. Eu fazia até três sessões de recuperação por dia e entendia que a entidade precisava de ganhar e que os adeptos queriam rendimento, mas não consegui estar nesse nível. Apesar disso, nunca me faltou a vontade de ajudar e sempre me preocupei com o clube. Só as pessoas de Valência e os meus colegas sabem o ano que passei com infiltrações, tratamentos... Mas não podia lutar contra o meu corpo. Teria gostado que a minha passagem pelo Valência tivesse sido diferente”, lamentou Siqueira.

Ainda assim, o defesa esquerdo, agora com 37 anos, deixa para trás um respeitável legado de 263 jogos profissionais e 16 golos marcados.

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