Jéssica Augusto volta com amargura aos 3.000 obstáculos 13 anos depois - Atletismo
A atleta portuguesa Jéssica Augusto voltou hoje a competir nos 3.000 metros obstáculos, distância na qual é recordista nacional e já não alinhava desde 2010, apesar de ter desistido no início da prova nos Nacionais de clubes.
“Saio daqui um bocadinho desanimada, porque queria ter forças e desejava ter corrido à vontade. Aquilo que acontece é que comecei a ganhar medo. Nem passei direito logo o primeiro obstáculo e, a partir daí, foi lutar contra as minhas expectativas e as dos outros. Não consegui desconectar-me e acabei por desistir, pondo em causa a classificação do clube, infelizmente”, lamentou à agência Lusa a atleta do Sporting de Braga, de 41 anos.
Em Viana do Castelo, onde os Nacionais decorrem este fim de semana, Jéssica Augusto destacava-se pelo seu estatuto entre as sete finalistas nos 3.000 metros obstáculos da II Divisão feminina, mas foi abrandando perante cada barreira ou fosso de água e apenas cumpriu uma volta, numa corrida dominada por Catarina Carmo, com 11.25,14 minutos.
“Tive pânico [risos]. Não tive muito tempo para me preparar. Sou uma atleta que não vira as costas ao clube, mesmo tendo desistido, nem sabe dizer que não. Aceitei [competir], porque achava que ia conseguir ajudar a equipa. Não era preciso ganhar, mas contribuir com alguns pontos. Assim não aconteceu”, notou a atleta, detentora do recorde nacional desde junho de 2010, ao selar a marca de 9.18,54 no ‘meeting’ de Huelva, em Espanha.
Especializada em distâncias de meio-fundo e fundo e em corta-matos ao longo da última década, Jéssica Augusto admite que a sua investida num perfil de corrida plano implicou maiores dificuldades aquando do regresso aos 3.000 metros obstáculos 13 anos depois.
“No dia em que me disseram para fazer o apuramento [para os Nacionais de clubes], fui treinar de manhã e caí a transpor um obstáculo. A partir daí, ganhei medo. São barreiras que teremos de superar. Tenho muita gente a dizer-me que continuo a ser a Jéssica e a recordista, mas não devia ter vindo, porque é a última imagem que fica sempre”, avaliou.
A atleta do Sporting de Braga estreou-se em Jogos Olímpicos através dos obstáculos, ao ser arredada nas eliminatórias em Pequim2008, e foi 10.ª colocada na final dos Mundiais de Berlim2009, ambicionando agora prolongar a este segundo contacto com a distância.
“Serei um bocado cruel, mas as pessoas não me recordarão como a recordista nacional. Acabam por recordar a Jéssica que competiu na II Divisão, pôs a mão logo no primeiro obstáculo e passou-o como se estivesse a saltar um muro. Não direi que é a última vez, porque, no próximo ano, quero sair com a sensação de que ainda sei fazer isto”, vincou, olhando, para já, aos Nacionais de estrada, em setembro, de novo em Viana do Castelo.
Jéssica Augusto confidenciou ter encarado “várias situações de ansiedade” e uma “rotina completamente diferente” desde que regressou a Braga, onde havia despontado para o atletismo, depois de ter residido 10 anos na Póvoa de Varzim e competido pelo Sporting.
“Chegou a uma altura em que não tinha a minha saúde mental muito boa e pedi à minha treinadora [Sameiro Araújo] que não iria correr enquanto não me sentisse bem. Parei por três semanas em abril e voltei com força e vontade. Fiz as provas que eram precisas e lá cumprimos as metas. Fomos campeãs nacionais de corta-mato e medalha de bronze na Taça dos Clubes Campeões Europeus”, referiu, esperançada em ficar “100% disponível para estar no apuramento” olímpico e saborear uma despedida simbólica em Paris2024.
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