Oceano levanta a questão: "É normal não haver um treinador negro na I Liga?"
Convidado da primeira edição do novo podcast Final Cut, da agência SportsTailors, Oceano Cruz, antigo internacional português, que brilhou com as camisolas de Sporting e Real Sociedad antes de abraçar a carreira de treinador, falou do racismo que sente existir em Portugal e no futebol português.
Sem trabalhar desde que deixou de ser adjunto de Carlos Queiroz na seleção da Colômbia em 2023, Oceano foi questionado sobre se gostava de trabalhar em Portugal. "Sim! Até porque seria um facto curioso: eu seria o único treinador negro na primeira divisão", respondeu, antes de aprofundar o tema.
"O racismo existe, não vamos escamotear isso, porque existe. Em Portugal, que é onde posso falar de uma forma mais assertiva, existe um racismo perigoso, porque é um racismo estrutural. Achas normal não haver um treinador negro na Primeira Liga? O ano passado já não houve ninguém... A maior parte das pessoas acha que é normal e isso é que torna o racismo estrutural", apontou.
"Não é normal olharmos para a qualidade que têm os jogadores negros, para a qualidade que têm os treinadores negros e ver as poucas oportunidades que eles têm. Dou por mim a educar as pessoas quase todos os dias neste tema do racismo. Não devia ser o meu trabalho, ou melhor, devia ser o trabalho de todos", reforçou.
Ainda sobre a questão do racismo, Oceano olhou para o episódio recente com Vinícius Jr., do Real Madrid, em Espanha. "O Vinicius tornou-se viral porque está no topo de pirâmide, é jogador do Real do Madrid e obriga toda a gente a falar sobre o tema. Mas existe racismo todas as semanas. O problema deste mundo é que amanhã acontece sempre outra coisa; mas às vezes o que aconteceu ontem merece ser lembrando e discutido. Este é um problema e é um problema grande", terminou.
Lito Vidigal e Pepa foram os últimos treinadores de raça negra na Primeira Liga, na temporada 2023/22. A nível internacional, na época passada, foram vários os campeonatos que, tal como o português, não contaram com qualquer treinador de raça negra no escalão principal, entre eles Espanha, Itália ou Alemanha. Patrick Vieira (Crystal Palace - Inglaterra), Patrick Kisnorbo (Troyes - França), Antoine Kombouaré (Nantes - França), Henk Fraser (Utrecht – Países Baixos) e M´Baye Leye (Zulte Waregem - Béligica) foram as exceções identificadas nas principais ligas europeias.
Ainda no mesmo podcast, Oceano fala também de outros assuntos da atualidade desportiva e recorda o seu passado como jogador, olhando para os tempos em que trabalhou como adjunto de Carlos Queiroz no Irão e na Colômbia.
Como treinador principal, Oceano conta também com uma passagem pelo leme do Sporting, a título interno, e pela seleção nacional de sub-21.
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