Ceni precisa tirar o Rogério da cabeça
Há duas entidades que habitam conflituosamente a mente de Rogério Ceni. Uma traz na memória os anos de glória daquele que é um dos maiores, se não for o maior jogador da história do São Paulo Futebol Clube. Goleiro fantástico, pilar do período em que o clube construiu a fama de Soberano. Outra vive o dia a dia do treinador com enorme potencial, curioso, fuçador, obstinado e trabalhador.
Nesse embate de personalidades há traços de uma versão boleira do clássico “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde. Rogério, o jogador, parece ainda ocupar a mente de Ceni, o treinador.
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Rogério no auge era chamado de “Presidente” ou “Presença” pelos companheiros de time, tamanha a autoridade que exercia e lhe era outorgada pelos dirigentes do clube. Não sem percalços até sua consagração de M1to, como a história do fax enviado por um amigo com uma proposta do Arsenal ou a loja que vendia produtos com seu nome em um dos anéis internos do estádio do Morumbi.
O goleiro construiu uma carreira espetacular e soube como poucos interpretar a alma dos tricolores. Suas declarações e seu comportamento falavam direto ao coração dos torcedores, que por ele sempre irão nutrir justificada idolatria. Por Rogério, o excepcional goleiro, o M1to.
Ceni, o treinador, ainda não se despiu totalmente de Rogério, o jogador, no comando do São Paulo. Por saber da autoridade que emana dele para o clube e a arquibancada, Ceni muitas vezes dá broncas públicas na própria diretoria e expõe seus comandados. Quando se trata de alguém cuja história merece capa no Livro de Ouro de um dos maiores clubes do Brasil, há um custo envolvido.
1 de 1 Rogério Ceni em São Paulo x São Bernardo — Foto: Marcos RibolliRogério Ceni em São Paulo x São Bernardo — Foto: Marcos Ribolli
Quando trabalhou em outros clubes, com e sem sucesso como qualquer treinador, Ceni não levou na bagagem o passado de Rogério que ele muito provavelmente utiliza como anteparo de forma inata no Morumbi.
Os recentes episódios envolvendo atletas como Patrick, Galloppo e Marcos Paulo evidenciam as atitudes de Ceni sendo contaminadas pelo pensamento de Rogério.
O que importa hoje para os torcedores de um clube acostumado a vencer é como Ceni trabalha o time, o que pretende como treinador, seus conceitos e atitudes. Ainda que tenha em seu currículo títulos importantes como um Brasileiro, Ceni é um técnico em processo de implantação, cujo método soa baseado na tese de que o time precisa ganhar do jeito que ele acha que tem que ganhar e nunca de outra forma. Tipo o Leoni escrevendo a letra de “Como Eu Quero”. Tem que ser do jeito que eu quero. Embora a Paula Toller tenha consagrado a canção naquele tom apaixonado de reafirmação.
Muricy Ramalho, que foi treinador de Rogério e hoje trabalha com Ceni, diz que o campo fala. Rogério em campo falava grosso. Ele tem ótimas ideias, estuda, é atualizado e dizer que não entende muito de futebol é um absurdo. Mas o conflito de personalidades impede que o treinador dê ouvidos ao que o jogo está esgoelando, mas lá dentro da sua cabeça o Rogério o impede de escutar.
O São Paulo de Ceni guarda pouco do clube em que Rogério brilhou. A fase é outra, os dirigentes são diferentes, os rivais e o conceito do futebol brasileiro mudaram radicalmente. Quando Rogério dava uma bronca pública em algum companheiro era uma coisa. Agora que Ceni aplicou uma reprimenda escancarada em Marcos Paulo, é outra.
Ceni precisa entrar em acordo com Rogério, pedir que ele se contente em estar na galeria de importais do Tricolor do Morumbi, em ser o atleta favorito de milhões de torcedores de várias gerações e deixar que o treinador possa trabalhar despido dos vícios do M1to. Será bom para as duas personalidades que dividem a mente e para o São Paulo Futebol Clube.
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