Copa do Brasil raiz 5: longe de casa, perto da história
Esta semana fui novamente brindado com uma tarefa dentre as que mais adoro: acompanhar a segunda fase da Copa do Brasil, mais detidamente entre times que não estão na elite do nosso futebol. O último pit stop foi em Ribeirão Preto, onde o Botafogo-SP avançou à fase seguinte, embolsou pouco mais de R$ 2 milhões, e mandou de volta para casa um valoroso e heroico São Raimundo de Roraima - que havia começado a fazer história nesta Copa do Brasil eliminando um time de Série A, o Cuiabá, na primeira fase. Os guerreiros do time de Chiquinho Viana, heptacampeões estaduais, chegaram a empatar com o Pantera, mas no fim, com um jogador a menos, o São Raimundo tomou 3 a 1 e agora vai se concentrar na Copa Verde, no Estadual e na Série D nacional.
Mesmo tendo batido o Cuiabá, eu afirmava no comentário antes de a bola rolar que as chances do São Raimundo eram menores contra um Botafogo com mais ritmo de jogo, que, mesmo sem ser brilhante, se classificara às quartas-de-final num Paulista duríssimo e de alta qualidade. O time de Roraima havia feito apenas dois jogos em 2023 - embora com duas vitórias expressivas: além do Cuiabá, um 6 a 0 sobre o São Francisco-AC por 6 a 0 (agora vai pegar o Remo) pela Copa Verde. Além disso: a viagem de Boa Vista a Ribeirão Preto é um cruzamento de continente: 3.016 quilômetro se traçarmos uma linha reta, é muito desgastante.
Mas o São Raimundo, mesmo inferior tecnicamente, tentava desfrutar do jogo. Tomou algum sufoco em jogadas do excelente Robinho e conclusões do estreante argentino Tomás Andrade, mas tinha uma surpreendente organização tática e conseguia se aproximar da área do time paulista - embora com pouca profundidade. O goleiro André Regly ia segurando o ataque rival até que aos 34 minutos o sonho do São Raimundo foi começando a se transformar em história - o que não é pouca coisa. Raí, sem necessidade, derrubou Filipe Souto na entrada da área. Uma falta que Robinho bateu com perfeição: encobrindo o terceiro homem da barreira, fazendo a bola descair no canto, sem chances para o goleiro: 1 a 0 Botafogo.
No segundo tempo, o time de Adilson Batista, que fazia seu segundo jogo no clube, voltou tentando se impor. Até conseguiu, embora não transformasse isso em gols. Até que Chiquinho Viana colocou em campo um jogador que, talvez, devesse ter entrado antes: o atacante Kante (apelido em homenagem a sua semelhança com o volante francês do Chelsea). Aos 17, dois minutos depois que ele substituiu Raí, Kante foi buscar uma bola na direita. Com um toque, dominou e, corpo ajeitado, mandou na área um passe certinho para Carlinhos. Três adversários, incluindo o goleiro Matheus Basílio, correram para abafar, mas o atacante deu um toquinho com enorme categoria, encobrindo a "barreira". Carlinhos sai correndo, aos berros, emocionado, por ter empatado e alimentado o sonho do time da floresta.
Mas o Capitão América Adílson agiu rápido. Tirou Édson Carioca, que vinha fazendo um bom jogo mas começava a se perder nos nervos, e coloca Caio Dantas para explorar o jogo aéreo. E apenas sete minutos depois de levar o empate, o Botafogo voltou a ter vantagem. Cobrança de escanteio da direita, Caio Dantas segura dois marcadores e consegue tocar de joelho, no travessão. Mas sua ação permitiu ao zagueiro Diogo Silva ficar sem marcação e conseguir tocar para o gol. Pouco depois, Kayo Souza fez uma bobagem do tamanho da Floresta Amazônica: já tinha cartão amarelo, e foi marcar um oponente que estava em cima da linha lateral, esperando para matar um bola longa (ou seja, não havia o menor perigo imediato de gol). Kayo olhou, pensou e, sem bola, deu um pontapé no adversário. Foi muito bem expulso e, com um homem a menos, o São Raimundo viu suas forças escorrerem por entre os dedos.
Aos 49, vaga assegurada, o Botafogo ainda fez mais um, graças ao especial Robinho. Ele foi ao fundo e cruzou. A zaga inteiramente desorganizada ficou olhando a bola chegar a Lucas Oliveira, que bateu de primeira para fechar o placar em 3 a 1. O Botafogo agora tem mais uma decisão, esta dificílima, diante do Bragantino, no Paulistão. E depois precisa evoluir, tornar-se um time mais equilibrado e constante, para saber o que vai conseguir na Série B. Já os jogadores do São Raimundo já têm histórias para contar aos netos. E pode conseguir outras. A Série D e a Copa Verde estão aí mesmo...
O que você está lendo é [Copa do Brasil raiz 5: longe de casa, perto da história].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.
Wonderful comments