Um ano de John Textor no Botafogo: clube ainda convive com problemas do passado mesmo com SAF
Quando assumiu por completo o controle do Botafogo, há exatamente um ano, John Textor citou, interna e externamente, o desejo por profissionalismo - fator que foi fundamental para Durcesio Mello, presidente do clube, escolher o norte-americano para comprar e guiar a SAF. Após 365 dias, o Alvinegro ainda sofre com questões que eram comuns da época de anos anteriores.
1 de 5 John Textor em treino do Botafogo — Foto: Vitor Silva/BFRJohn Textor em treino do Botafogo — Foto: Vitor Silva/BFR
Atualmente, o clube vive cenário de um treinador pressionado no cargo, desempenho ruim dentro de campo, contas bloqueadas por dívidas do passado e conversas com credores na tentativa de renegociar os débitos.
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John Textor assumiu uma bomba-relógio e era sabido que a missão de administrar o Botafogo não seria fácil. Alguns pontos positivos podem ser destacados durante o primeiro ano de gestão: melhora na estrutura, plano de carreira para os funcionários e reforços, sobretudo em 2022.
- Foi um ano muito desafiador. O Botafogo era um clube quebrado, com mais de 1 bilhão de passivo, pouca receita e vindo da Série B, com um elenco a ser formado. Não tínhamos pessoas, sistemas, processos... foi um caos inicial que precisou ser superado. Quando olho o final do ano, quando tivemos um desempenho esportivo acima da expectativa, com uma vaga na Sul-Americana, vejo o quando transformamos o clube em pouco tempo. O balanço que eu faço desse primeiro ano é muito positivo, embora ainda existam muitos problemas a serem resolvidos - disse Thairo Arruda, diretor geral da SAF.
O Estádio Nilton Santos passa por obras para ter gramado sintético, o que vai permitir a realização de um maior número de eventos sem prejuízo do campo de jogo. Mais de cinco shows estão confirmados para o local este ano. A bronca fica pelo período da mudança: a arena ficou praticamente sem ser utilizada em dezembro, mas as obras começaram apenas no meio de janeiro, com previsão de conclusão para abril. Desta forma, o Botafogo está tendo que mandar seus jogos no Luso-Brasileiro, na Ilha do Governador.
- Fizemos intervenções de curto prazo, até de manutenção preventiva que estava defasada. Existiam riscos importantes que consertamos. Agora estamos tentando monetizar melhor o Nilton Santos. O gramado vai nos permitir ter uma agenda de shows, abrir para um negócio que ainda não tínhamos. Todo o dinheiro que a SAF gera pode reinvestir n futebol. Esperamos finalizar as obras do gramado em março e em abril já utilizar para shows e para o futebol - disse o diretor geral.
2 de 5 Botafogo terá em breve o gramado sintético no estádio Nilton Santos — Foto: ReproduçãoBotafogo terá em breve o gramado sintético no estádio Nilton Santos — Foto: Reprodução
O tão sonhado CT integrando o time profissional e as categorias de base ainda não saiu do papel. John Textor tem o plano, mas ainda não conseguiu o terreno para concretizar as ideias. Textor precisa que a Prefeitura do Rio de Janeiro libere um espaço para que o Botafogo possa erguer o novo centro de treinamento.
Thairo Arruda afirmou que sua expectativa é de iniciar a construção do CT ainda em 2023.
- A ideia é partir para o CT novo, que seja um dos melhores do país, quiçá do mundo. Estamos costurando com a prefeitura para ter um terreno onde a gente possa construir o CT definitivo. Estamos buscando parceiros para ter nosso CT de base, moderno, para desenvolvermos atletas. Esperamos em breve ter uma solução sobre o terreno. Tendo isso definido, conseguir trabalhar a arquitetura e para trazer as boas práticas do mercado mundial. 💥️Espero que a gente consiga até o fim do ano iniciar as obras, é a minha expectativa. Temos olhado alguns locais com a prefeitura, e cada um deles têm a sua dificuldade. Não há definição, mas o prefeito Eduardo Paes tem nos ajudado bastante - disse o diretor geral.
Por enquanto, o Espaço Lonier segue sendo o único CT do clube. O local ainda não tem todas as obras concluídas, mas está pronto para receber os treinamentos do time principal. O gramado dos três campos passou por melhorias recentemente, assim como refeitório, academia e sala de recreação.
- Nós sempre olhamos a longo prazo, mas podemos fazer melhorias de curto prazo, e fizemos todas as possíveis para entregar ao Luís Castro e aos jogadores um CT que pudesse ser melhor utilizado. Realmente pegamos um CT destruído, e hoje já existe uma satisfação de usar. Esse é o curto prazo, mas não estamos satisfeitos - disse Thairo Arruda.
3 de 5 John Textor com Thairo Arruda no CT Lonier — Foto: Vítor Silva/BotafogoJohn Textor com Thairo Arruda no CT Lonier — Foto: Vítor Silva/Botafogo
O time do Botafogo melhorou de forma significativa se comparado ao elenco anterior ao que John Textor e companhia assumiram. Ao todo, 26 jogadores foram contratados desde que a SAF foi estabelecida no clube - maior parte deles na primeira janela de 2022, com destaque para Patrick de Paula, maior contratação da história do Alvinegro - R$ 33 milhões junto ao Palmeiras.
As chegadas, principalmente na segunda janela do ano passado, deram um salto de qualidade para a equipe de Luís Castro, que chegou a sonhar com uma vaga para a Taça Libertadores na reta final do Campeonato Brasileiro.
- Acho que acertamos muito, mas é impossível acertar todas. Os jogadores são seres humanos, e um que não performou ainda, poderá vir a performar ainda - disse Thairo Arruda.
4 de 5 Gol, Patrick de Paula, Botafogo x Ceilândia — Foto: Vitor Silva/BotafogoGol, Patrick de Paula, Botafogo x Ceilândia — Foto: Vitor Silva/Botafogo
Em 2023, porém, o Botafogo está tímido no mercado. Luís Castro havia pedido seis reforços para melhorar e realmente rodar o elenco, mas até agora apenas quatro chegaram - Marlon Freitas, Luís Segovia, Carlos Alberto e Leonel Di Plácido.
- Tivemos que montar um elenco no ano passado, contratamos mais de 20 anos. Agora é a hora de lapidar. Manter o que achamos que está dando certo e substituir ou acrescentar uma peça ou outra conforme a necessidade. Por isso que não temos um ano de muitas contratações. Sobre o orçamento para isso, nós vemos muito mais como oportunidades de mercado. Se tiver alguma oportunidade que seja cara, mas que realmente seja uma grande oportunidade, vamos fazer o investimento. Isso vai muito da análise de cada caso. Cada atleta é um ativo e tem um custo. Temos que analisar o quanto pode nos dar de retorno - afirmou o diretor geral.
Era esperado que o Botafogo acertasse as finanças a partir da chegada de um investidor bilionário. Mas o clube segue sofrendo com as dívidas do passado e com quantias presas na Justiça por solicitação de credores.
- Grande parte dos problemas que temos hoje é relacionado ao pagamento do passivo do clube social. Tem o tributário, trabalhista e civil. O tributário está tudo bem, já está negociado e temos feito os pagamentos. O trabalhista e civil entra no RCE, e temos tido problemas para reduzir esse passivo. Os 20% da nossa receita que destinamos a isso não está sendo suficiente. Pelo contrário, está aumentando. Estamos enxugando gelo. Estamos trabalhando em conjunto para uma alternativa para reduzir o passivo - disse Thairo Arruda.
Por ter entrado no RCE (Regime Centralizado de Execuções), o clube é obrigado, por lei, a destinar 20% da receita mensal aos credores, que, em tese, seriam organizados em uma "fila" até a quantia ser totalmente paga. O regulamento, porém, não foi suficiente para evitar novas penhoras. Na prática, pessoas tentaram passar na frente com processos na Justiça e, sem ter como pagar tudo de uma vez, o Botafogo voltou a sofrer com penhoras.
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O clube tem negociado com os credores e está otimista por um acordo para que a questão se normalize. Ao mesmo tempo, a parte social estuda a possibilidade de entrar com pedido de Recuperação Extrajudicial. Apesar deste segmento não estar no controle de John Textor, a SAF tem total interesse no sucesso da medida, já que o norte-americano assumiu o passivo histórico do Botafogo.
Durante este ano, o clube dependeu quase que exclusivamente de aportes de John Textor. Quando o dinheiro, seja por qual motivo, não caía na data prevista, o Botafogo sofria para arcar com compromissos. Foi isso que aconteceu no fim do ano passado, quando a diretoria ficou em atraso com os salários do elenco. Tudo foi normalizado após, novamente, Textor realizar um depósito e fazer o caixa girar.
Um dos principais problemas do clube na "Era John Textor" envolve contratações, mas não são os jogadores em si. O clube deve quantia de comissões, intermediações e bonificações para agentes e empresários que fizeram a maioria dos negócios de jogadores que reforçaram o elenco desde que o norte-americano assumiu a SAF.
A medida tem atrapalhado a busca por reforços do Botafogo esse ano, já que muitos intermediários tentam "queimar" o clube e a diretoria no mercado da bola.
- Existiam problemas que foram solucionados e outros que voltaram a acontecer que também estão sendo solucionados. O fato é que não existe nenhum clube no mundo que não tenha dificuldades financeiras. Até o Barcelona. Porque é difícil prever o mês seguinte. No Botafogo, toda hora aparece alguma coisa para a gente enfrentar. Tivemos atrasos de FGTS, coisas assim, mas em poucas semanas foi solucionado - garantiu Thairo Arruda.
Uma das primeiras ações de Textor foi romper com praticamente todos os negócios que o Botafogo tinha antes de assumir o modelo profissional. O norte-americano, inclusive, rompeu o vínculo com a Volt, marca de fornecimento esportivo, que sequer chegou a fazer uma camisa.
O Botafogo fechou com a Parimatch, o maior patrocínio master da história do clube - R$ 55 milhões por dois anos. A empresa de apostas já estampa a logomarca nas camisas dos times masculino, feminino e de base. A Reebok foi anunciada como fornecedora de material esportivo, mas os uniformes ainda não foram divulgados. A previsão de estreia é para abril.
5 de 5 Luís Castro cumprimenta John Textor no CT do Botafogo — Foto: Vitor Silva/BotafogoLuís Castro cumprimenta John Textor no CT do Botafogo — Foto: Vitor Silva/Botafogo
O português foi o Plano A de Textor para o cargo de treinador. O mandatário inclusive travou uma queda de braço com o Corinthians para contratar Luis Castro e tirá-lo do Al-Duhail, do Catar, em março do ano passado. Para Textor, o português era o nome ideal para executar a "Botafogo Way", um estilo de jogo baseado na valorização da posse de bola e captação de atletas.
Mesmo diante de um período instável no ano passado, quando o time chegou a ficar perto da zona de rebaixamento no Brasileirão, o norte-americano bancou a permanência de Luís Castro. Hoje, diante de um novo momento ruim e a eliminação precoce do Campeonato Carioca, o comandante já não conta com o mesmo prestígio e balança no cargo.
- Qualquer organização que busca excelência avalia seus profissionais o tempo todo. Não só o Luís Castro. Nós somos avaliados o tempo todo. Cobramos de todos um nível máximo de excelência. O trabalho tem que ser avaliado como um todo. O Luís Castro e sua comissão também são responsáveis pela implementação do que chamamos do "Botafogo Way", que tem a ver com alinhamento metodológico, integração com a base... há muita coisa envolvida, não é só o resultado de campo, principalmente de alguns poucos jogos. Tudo tem que ser bem analisado - afirmou Thairo.
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