Retrospectiva do São Paulo: ano do "quase" é marcado por doloridos vices e modo sincero de Ceni
Um ano turbulento, marcado pelo “quase”. O São Paulo se reforçou para 2022 ser melhor do que 2023, mas a temporada termina com um gosto frustrante de derrotas em duas decisões. Ao mesmo tempo, o ídolo Rogério Ceni tornou-se uma blindagem ainda maior, usando o “modo sincerão” muitas vezes para questionar diretoria, torcida e crítica.
O São Paulo de 2022 terá como principal registro a campanha nas Copas, que quase levaram o time a disputar todos os jogos possíveis de uma temporada. Foram 77 partidas no ano que se encerra, com 36 vitórias, 20 empates e 21 derrotas (algumas mais doídas).
A impressão positiva do avanço para duas finais e uma semi, entretanto, ficam pelo caminho diante dos frustrantes resultados das decisões. Derrotas para Palmeiras e Independiente del Valle marcaram o ano.
Diante do rival, o São Paulo chegou a ter três gols de vantagem no primeiro jogo da decisão do Paulista, mas acabou com o vice-campeonato ao ser goleado pelo Palmeiras no Allianz Parque. Contra os equatorianos, um time dominado e passivo terminou com mais de 10 mil torcedores frustrados em Córdoba, na Argentina, pela Copa Sul-Americana.
Sob este contexto, Rogério Ceni se tornou mais do que um simples treinador e ídolo. Além do trabalho minucioso do dia a dia, o treinador utilizou os microfones para cobrar (e conseguir) melhorias estruturais, além de em dado momento levar a torcida de volta ao Morumbi.
É este Ceni, respaldado, que começa 2023.
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Time do São Paulo antes de jogo contra o Atlético-GO, pela semifinal — Foto: Marcos Ribolli
O São Paulo de 2022 começou a temporada carregando dois contextos opostos: a leveza do fim de jejum de quase nove anos, com a conquista do Paulistão de 2023, e o peso da campanha horrível no Brasileirão, que terminou com a permanência na Série A confirmada somente nas rodadas finais.
Com reforços importantes como Rafinha, Patrick e Nikão, o Tricolor começou o ano pressionado depois de passar as três primeiras rodadas do Paulistão sem vitórias. Quedas para Guarani e Red Bull Bragantino (fora de casa) e empate contra o Ituano, em pleno Morumbi, quase ameaçaram o cargo de Ceni.
2 de 9 Rogério Ceni, técnico do São Paulo, na final do Paulistão — Foto: Fernando RobertoRogério Ceni, técnico do São Paulo, na final do Paulistão — Foto: Fernando Roberto
Tudo mudou a partir de 9 de fevereiro, quando Marquinhos, posteriormente negociado para o Arsenal, deu a vitória contra o Santo André com um gol nos acréscimos. O ambiente de pressão instalado se reverteu e deu confiança a um grupo ainda em formação.
A partir deste resultado, o Tricolor conseguiu uma sequência de sete jogos de invencibilidade até encarar o Palmeiras, ainda pela fase de grupos. Em pleno Morumbi, o time de Abel Ferreira se apresentou como grande algoz do primeiro semestre, prevendo algo pior.
O revés para o Palmeiras abriu uma sequência de seis vitórias seguidas (inclui-se o resultado positivo contra o Manaus, pela Copa do Brasil). Neste período, o São Paulo crescia e se colocava como forte candidato ao título estadual, principalmente pela imposição no mata-mata.
As quartas, diante do São Bernardo, se mostraram protocolares: goleada por 4 a 1. Na semifinal, uma vitória de imposição contra o Corinthians por 2 a 1 colocou a equipe comandada por Rogério Ceni na decisão e na briga pelo bicampeonato.
3 de 9 Torcida do São Paulo lotou o Morumbi na primeira final do Paulistão — Foto: Marcos RibolliTorcida do São Paulo lotou o Morumbi na primeira final do Paulistão — Foto: Marcos Ribolli
A final começou com roteiro positivo, com uma abertura de 3 a 0 de vantagem. O título parecia próximo, mas o gol de Raphael Veiga aos 40 minutos da segunda etapa não só diminuiu a vantagem tricolor, mas mudou toda uma final de Paulistão.
O que se viu na volta foi frustração. Um São Paulo irreconhecível se apresentou diante de um Palmeiras letal. Goleada por 4 a 0 para o Verdão, e um dolorido vice-campeonato, ainda pouco assimilado no clube.
A dor do segundo lugar no Paulista ultrapassaria as fronteiras do estado e atingiria todo o continente. A Copa Sul-Americana começou como uma competição para rodar o elenco, gerando minutos importantes para nomes como o zagueiro Luizão, que depois ganharia espaço em partidas de maior peso.
A partir da classificação para o mata-mata, todavia, o foco são-paulino se direcionou para o torneio, que poderia recolocar o São Paulo na prateleira máxima de uma competição continental pela primeira vez depois de dez anos do título da própria Sul-Americana de 2012.
Nas oitavas de final, o Tricolor reencontrou a Universidad Católica, time que marcou uma das últimas grandes atuações de Ceni como goleiro. Um jogo movimentado e com expulsões no Chile (4 a 2) e uma goleada (4 a 1) no Morumbi colocaram a equipe entre os oito melhores.
4 de 9 Rodriguinho comemora o gol anotado contra a Universidad Católica — Foto: Marcello Zambrana/AGIFRodriguinho comemora o gol anotado contra a Universidad Católica — Foto: Marcello Zambrana/AGIF
Nas quartas, sofrimento. Após vencer o Ceará por 1 a 0 na ida, gol de Nikão, o Tricolor perdeu por 2 a 1 e precisou dos pênaltis para avançar à semifinal, fase na qual encarou outro brasileiro: o Atlético-GO.
O jogo de ida em Goiânia trouxe talvez o pior momento da temporada para o São Paulo. A derrota por 3 a 1 resultou em xingamentos, especialmente contra Igor Gomes, e em um clima ruim, que rumaria para um fim de trabalho da comissão técnica.
Veio a virada, com um triunfo por 2 a 0 e classificação nos pênaltis. Diante de um Morumbi lotado, em uma atmosfera clássica do “São Paulo de Libertadores”, o time avançou para a final e obtinha a chance de brigar pelo bicampeonato.
O sonho do título em Córdoba, entretanto, terminou pouco tempo depois do apito inicial. Nem a maioria absoluta do público fez a diferença. Se os são-paulinos “invadiram” a cidade argentina, o time mal apareceu. Dominado, o Tricolor perdeu por 2 a 0 para o Del Valle, que, sim, conquistou o bi do torneio.
5 de 9 Lautaro Diaz comemora o gol do Del Valle contra o São Paulo — Foto: Marcos RibolliLautaro Diaz comemora o gol do Del Valle contra o São Paulo — Foto: Marcos Ribolli
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O São Paulo viveu contrastes nas duas competições nacionais de 2022. Como tendência da temporada, a Copa do Brasil se tornou prioridade em certo momento e terminou até com dignidade.
6 de 9 São Paulo acabou elminado pelo Flamengo na semifinal da Copa do Brasil — Foto: Rubens Chiri/saopaulofcSão Paulo acabou elminado pelo Flamengo na semifinal da Copa do Brasil — Foto: Rubens Chiri/saopaulofc
A campanha teve como auge a classificação às quartas de final, com vitória nos pênaltis sobre o Palmeiras, em pleno Allianz Parque. O Tricolor venceu por 1 a 0 o duelo de ida, no Morumbi, e perdeu por 2 a 1 o confronto da volta. Nos pênaltis, Jandrei apareceu, e Igor Gomes decidiu.
A participação terminou somente na semifinal. No jogo de ida, em atuação considerada boa pela comissão técnica, o time perdeu por 3 a 1 para o Flamengo no Morumbi complicou a campanha.
No Maracanã, nova atuação consistente, mas outra derrota (1 a 0) e eliminação contra um rival claramente um patamar acima. O Flamengo terminaria com o título do torneio.
O foco nas campanhas pesou no Brasileirão. Embora sem o mesmo drama de 2023, quando o time se assegurou na Série A somente com uma vitória na penúltima rodada, o São Paulo se arrastou durante boa parte das 38 rodadas da competição.
7 de 9 São Paulo goleou o Goiás na última rodada e chegou a sonhar com vaga na Libertadores — Foto: Isabela Azine/AGIFSão Paulo goleou o Goiás na última rodada e chegou a sonhar com vaga na Libertadores — Foto: Isabela Azine/AGIF
Mesmo assim, por pouco, o time não abocanhou uma vaga na Libertadores de 2023 via Brasileirão. Rogério Ceni e companhia ficaram pouco mais de 15 minutos classificados na última rodada, enquanto venciam o Goiás fora de casa.
A combinação final de resultados, porém, não foi favorável, e o Tricolor terminou em nono lugar. Os 54 pontos conquistados foram apenas um a menos do que o Fortaleza, dono da última vaga para o principal torneio continental. Um tropeço ali, outro acolá, custaram o retorno do clube à elite sul-americana.
O fim de temporada frustrante em 2023 fez o São Paulo se movimentar. A diretoria trouxe 12 novos nomes durante o ano, e alguns já inclusive deixaram o clube para 2023.
No início do ano, Jandrei chegou para brigar com Tiago Volpi por um lugar no gol. A vaga de titular veio, mas atuações irregulares resultaram em uma contratação urgente nos últimos dias de janela. Felipe Alves chegou para ocupar a lacuna e terminou jogando.
Em campo, nomes importantes como Rafinha, Nikão e Alisson oscilaram entre bons e maus momentos. Nikão, inclusive, deixou o clube para defender o Cruzeiro no ano que vem.
Patrick, por outro lado, termina o ano como grande reforço ao fazer nove gols e distribuir oito assistências. Entretanto, o meio-campista protagonizou um atrito com Rogério Ceni no intervalo do jogo contra o Fluminense e pode até deixar o CT da Barra Funda na virada do ano.
8 de 9 Galoppo quer embalar em 2023 — Foto: Thiago Ribeiro/AGIFGaloppo quer embalar em 2023 — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF
O São Paulo ainda trouxe Andrés Colorado, André Anderson, Marcos Guilherme e Nahuel Bustos, que pouco influenciaram no time durante a temporada. Já Ferraresi, último a chegar, termina o ano em alta e possivelmente começa 2023 como titular.
O argentino Giuliano Galoppo é um capítulo a parte. Investimento mais pesado da diretoria, que construiu a contratação em criptomoedas, o meia argentino ainda não embalou com a camisa do Tricolor, mas segue como uma aposta inclusive de revenda e valorização para os próximos anos.
Rogério Ceni adotou uma postura extremamente sincera diante dos microfones em 2022. Com respaldo, ratificado pela renovação de contrato ainda no mês de julho, o treinador não hesitou em fazer cobranças e exibir a dura realidade financeira são-paulina.
Ceni não evitou assuntos, nem mesmo fora da alçada do trabalho de dia a dia. O treinador era claro: queria reforços, um time competitivo, para permanecer no cargo em 2023, confirmando o que já havia sido assinado ainda no meio da temporada.
A derrota na decisão da Sul-Americana deixou Ceni abatido, com o treinador colocando o próprio futuro em xeque. As semanas posteriores de trabalho amenizaram a dor pelo revés, e o treinador, sempre respaldado, começa 2023 ainda mais influente dentro do clube em que foi ídolo
Sobre o caso Patrick, Ceni detalhou o ocorrido e fugiu do lugar-comum do discurso “boleiro”, costumeiramente receoso e blindando toda a estrutura de trabalho. As palavras sinceras do treinador, embora sem efeitos no restante do ano, com ambas as partes declarando “assunto encerrado”, podem terminar com a saída do meio-campista, que tem interesse do Atlético-MG.
9 de 9 Rogério Ceni em treino do São Paulo neste fim de ano — Foto: Rubens Chiri / saopaulofcRogério Ceni em treino do São Paulo neste fim de ano — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc
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