Saudade de Édson. Pelé nunca morrerá

Há muito o que falar sobre Pelé. Mas, em paralelo, a maior vontade neste momento de impacto é de ficar quietinho, chorando, processando a saudade de Édson Arantes do Nascimento - sim, ela nos cerca como se ele tivesse partido há muito tempo. Porque a dor, o luto, o vazio que a notícia da morte dele abriu no nosso coração é proporcional ao tamanho do que Pelé fez pelos campos do planeta Terra. E quando eu falo "nós", falo de todos, absolutamente todos (da cada uma das nacionalidades do mundo) aqueles que forjaram sua paixão pelo futebol por causa dele. Tendo ou não visto Pelé em ação, todos foram direta ou indiretamente tocados e ungidos por esse esporte porque ele se transformou em genuína arte pelos pés, cabeça, pernas, tronco de Pelé. O futebol seria menor se ele não tivesse existido.

O termo Pelé tornou-se sinônimo de excelência: o melhor médico é o Pelé da medicina; o melhor engenheiro é o Pelé da engenharia; e o melhor de todos os jogadores, portanto, é o Pelé. É compreensível que as gerações mais jovens, que não viram o Rei jogar, considerem Messi o maior. Afinal, eles estão vendo a história na sua frente, e Messi é gigante. Também é compreensível que as gerações, tipo uma ou duas depois da minha, que não viram ou viram pouco Pelé em ação considerem Maradona o melhor. Mas... quem viu Pelé ou quem se der ao trabalho de pesquisar um pouco chegará sem dificuldade à conclusão que a comparação não cabe.

Fora de campo, Pelé parou guerras na África. Pelé é conhecido no mundo inteiro, e recebido com tapetes vermelhos pelas maiores autoridades planeta afora. Dentro de campo, bastam dois argumentos para acabar com discussões: Messi e Maradona são fracos em conclusões de cabeça. A cabeçada de Pelé era um chute, ele era capaz de fazer gol de cabeça de fora da área. Messi e Maradona eram apenas razoáveis nos chutes de pé direito. Sobre Pelé ninguém é capaz de cravar se ele era canhoto ou destro, porque ele chutava como ninguém com qualquer uma das duas. Ponto final.

Pelé tem a capacidade de fazer o bem até sem querer. A doença que foi o único marcador a parar Pelé também parou meu filho há 12 anos, e acompanhar as notícias que vinham do Hospital Albert Einstein tem sido especialmente difícil para mim. Mas houve outra interseção entre o meu Rafael e o Rei: o dia 19 de novembro, data da morte do Rafa, também data do milésimo gol de Pelé, que sem querer marcou esse dia para eu me lembrar também com carinho.

E agora, Pelé, como ficamos? Agarro-me à ideia genial de Gilberto Gil, que escreveu sobre o luar: de Pelé não há mais nada a dizer, a não ser que a gente precisa ver o Pelé. Bora ver Pelé jogar. Faz bem aos olhos, ao coração, nos deixa feliz sem motivo aparente. É difícil dar esse conselho à família de Édson, aos amigos, aos que conviveram de perto com ele. A estes deixo a solidariedade, o conforto, a luz, a certeza de quem já sentiu muita dor de que a poeira vai baixar. Édson se foi, Pelé não morre nunca.

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