Um herdeiro da dinastia Antunes Coimbra

Nesta quarta-feira comentei com enorme alegria para o Sportv o Jogo das Celebridades, preliminar do icônico Jogo das Estrelas, há décadas promovido por Zico, no Maracanã. Do jogo principal da noite que tradicionalmente fecha o calendário do futebol brasileiro muito já se falou. Gol do Galinho, caneta de Arrascaeta em Carlos Alberto... Mas na preliminar, que reuniu atores, cantores, pagodeiros, rappers, DJs, MCs, influencers, houve um instante mágico, o último do amistoso. Que pode ter sido o nascimento de um craque, o despontar de uma estrela. Ou não, e ainda assim aquele lance terá valido à pena. Se o jovem Gabriel, 10 anos, neto de Zico, virar jogador e for quase tão bom quanto seu avô foi, eu vou contar a meus netos que vi Gabriel nascer para o futebol. Com um gol muito parecido com vários que da arquibancada do mesmo Maracanã vi Zico, bem jovenzinho, nos anos 70, marcar.

Num jogo com caráter festivo, a transmissão também é um pouco diferente. Mais leve, descontraída. A gente se permite brincar um pouco na narração e nos comentários. Mas, brincadeiras à parte, não é fácil para quem não é jogador profissional fazer o jogo interessante (salvo um ou outro erro de domínio, alguns impedimentos aqui e acolá) num gramado do tamanho do Maracanã - e já joguei outrora, quando o joelho deixava: dá pra trocar passes curtos, pra uma virada de jogo, um chute a gol da meia-lua pra frente... mas conduzir a bola... você acha que está perto do gol e ainda nem saiu da própria intermediária.

Foi um festival de gols, que esquentou a torcida para o jogo principal, 9 a 6 do time Verde em cima do time Laranja. Os verdes abriram o placar com o ator Marcelo Mello. Mas os laranjas viraram com força para 6 a 1 (gols de MC Daniel, P.A., Bruno Coimbra (filho de Zico, ex-integrante do grupo Só no Sapatinho), Poze, Arthur Aguiar e Tuninho. O mais bonito foi de Arthur Aguiar, driblando vários oponentes em um espaço pequeno perto da linha de fundo, um gol que o outro Arthur, o Antunes Coimbra, assinaria. Outro destaque foi do espevitado MC Daniel, que mostrou que, se tivesse optado pela carreira futebolística (e não fosse tão franzino) poderia ter se dado tão bem quanto está como artista.

No segundo tempo, G15 marcou dois, Marcelo Mello, Natália (craque do futevôlei, que o juiz deu uma forcinha mandado voltar o pênalti que ela perdera) e MC Maneirinho fecharam a conta de 6 para o Verde. Para o Laranja, Poze fez o sétimo e PA o oitavo. O jogo se aproximava do fim, e já estava no mítico gramado do Maracanã, Gabriel. Filho de Bruno, neto de Zico, o gênio que conhecia intimamente cada metro quadrado daquele campo dos sonhos. Com 10 anos de idade, Gabriel já tem tamanho para que não fosse "café com leite", com todos lhe passando a bola e os rivais permitindo voluntariamente que ele seguisse com a bola ou fizesse um gol. Não. Gabriel era mais um.

Aí, o Laranja troca passes na entrada da área até que a bola vai em direção a Gabriel. Era ele, mas quando Gabriel domina com um toque de pé direito jogando a bola à frente, eu voltei 48 anos no tempo e vi Zico. Ele corre a tempo de não perder o controle da jogada, e quando o goleiro sai fechando o ângulo, Gabriel dá um tapa de direita, no contrapé do oponente. A bola corre suave até fundo das redes. O Maracanã vem abaixo, e mais abaixo vem Bruno, que vibra como um menino e abraça o filho. Tento imaginar o sentimento de Bruno, que um dia já foi Gabriel, que vibrou com o pai, e agora tem a chance de jogar com o filho e vê-lo tão de perto fazer, quem sabe, o primeiro de uma coleção de gols.

Eu vou demorar muito a esquecer, nem sei se o farei, esse gol com a grife Antunes Coimbra.

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