Roberto, hoje não vai dar para sorrir...
Pelé... Gianluca Vialli... agora Roberto Dinamite. Todos levados quase juntos pela mesma doença maldita. Dos três, Dinamite foi com quem mais tive contato. Já como jornalista esportivo cobri o final da vitoriosa e inesquecível carreira como atleta, depois na política e quando se consolidou ainda mais na história do Vasco da Gama na condição de presidente do clube. E quase sempre em que estive fisicamente perto dele, Roberto exibia seu largo sorriso. Nunca o ouvi levantando a voz, nunca o vi ser grosseiro ou destratar alguém. Se você procurar muito, mas muito mesmo, pode achar alguém que ache que Roberto Dinamite jogava mal. Pode achar alguém que ache que ele não foi um bom político. Talvez não precise buscar tanto para achar quem pense que ele poderia ter sido um presidente melhor. Mas eu não conheço ninguém que não gostasse pessoalmente do Carlos Roberto de Oliveira. Isso é o que fica desse gigante para mim, isso é o que deve encher de orgulho os filhos e a família hoje de luto.
Mesmo o ex-presidente vascaíno Eurico Miranda, que por disputa mesquinha de poder político chegou a expulsar o maior ídolo da história do Gigante da Colina da tribuna de São Januário, sempre se referia com gentileza ao cidadão e ao jogador Roberto. O mesmo Eurico que, quando diretor de futebol, em 1980, foi a Barcelona repatriar o atacante para evitar que ele fosse contratado pelo Flamengo.
Roberto foi o maior de todos num Vasco que teve Ademir Menezes, Vavá e Romário, entre tantos outros. Roberto foi, para mim, um dos quatro maiores finalizadores, fazedores de gols, camisa 9 (embora ele merecidamente jogasse com a 10 do Vasco), homem de área da história de um futebol brasileiro que teve Romário, Ronaldo entre outros - Pelé, claro, não conta. Roberto foi, em campo, algoz de todos os grandes clubes brasileiros que não o Vasco. Ainda assim, não conheço nenhum torcedor que tenha nutrido raiva de Bob. Ao contrário. Ele só semeou respeito, admiração, uma simpatia do tamanho de seu sorriso. E nada disso jamais lhe subiu à cabeça. Concordo plenamente com o que diz Pedrinho, hoje meu companheiro de comentário: "Roberto não tinha consciência do seu gigantismo na história do Vasco". Por pura modéstia.
O último encontro que tive pessoalmente com Roberto Dinamite foi em outubro de 2023, no lançamento do livro "Maestro", do querido amigo Léo Júnior. Como sempre, fui recebido com aquela risada gostosa, e Roberto ainda tirou fotos e esbanjou carinho com minha filha Maria Luísa. Depois acompanhei apreensivo a evolução da luta de Dinamite contra seu pior marcador, a qual neste domingo ele acabou perdendo.
Aquele sorriso sempre foi inspirador. Mas hoje, Roberto, não vai ser possível sorrir...
P.S. Acho importante dar dois créditos a mestres que tive no jornalismo esportivo e que indiretamente estiveram no noticiário sobre o adeus a Roberto Dinamite. O primeiro é o saudoso Aparício Pires, com quem trabalhei no Jornal do Brasil, e que foi o criador do apelido "Dinamite", na manchete do Jornal dos Sports em 1971. O segundo é o fotógrafo Ronald Theobald, com quem também trabalhei no JB, autor daquela imagem maravilhosa, uma obra de arte captada em 1977 no estádio Luso-Brasileiro no Rio de Janeiro, mostrando Roberto saindo do vestiário em meio a um mar de mãos e braços que o saudavam. A foto rendeu a Ronald, merecidamente, o Prêmio Esso de Fotografia.
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