Esperança paraguaia, ameaça colombiana e o canto da alma
A situação é a seguinte: no Uruguai o campeonato começa neste fim de semana. Na Venezuela também. No Equador, a bola só rola no final de fevereiro. Bolívia e Peru atravessam momentos sociais conturbados. Alguns clubes topam jogar, outros não e os torneios estão travados. No Chile, Paraguai, Colômbia e Argentina já tem bola rolando.
E tudo isso com a Libertadores batendo à porta. Na semana que vem o principal torneio de clubes do nosso continente começará com sua primeira fase eliminatória envolvendo times do Peru, Paraguai, Bolívia, Equador, Uruguai e Venezuela. O que esperar? Sinceramente? Melhor não esperar muito, pelo menos por enquanto.
Então vamos com o resumo da semana no futebol que se comete na América do Sul, principalmente passeando nos lugares onde já acontecem gols, coisas estranhas e - evidentemente - cobranças.
No Paraguai, por exemplo, o Cerro Porteño recebeu e tropeçou no Sportivo Ameliano na primeira rodada. Ficou no empate por 1 a 1, mas fez questão de receber o Ameliano com um corredor de aplausos. Aqui vale a explicação: eles venceram o Olimpia na decisão da Supercopa Paraguaia, semana passada. Daí, sem que precisasse fazer mais nada, o rival de turno já contava com a simpatia dos :
O Olimpia precisou parir uma bigorna, mas venceu por 2 a 1 o Sportivo Luqueño, clube tradicional que fez seu primeiro jogo de volta à primeira divisão. Desta partida em especial, chamou atenção como, cargas d'água, o lance abaixo não terminou em expulsão:
Joel Jiménez, lateral do Luqueño com aptidão para MMA, mandou o volante Diego Torres para o hospital. Torres precisou ser operado e pode ficar três meses longe do futebol. Para a Comissão de Árbitros do Paraguai, a jogada foi "totalmente acidental e a decisão do árbitro foi correta ao não mostrar o cartão vermelho". Pra eles, só o amarelinho era suficiente.
Como detalhe interessante que, penso eu, poderia ser incorporado no futebol brasileiro, os melhores jogadores do torneio anterior carregam no uniforme - de maneira isolada, obviamente - um patch com a distinção, quase um SELO DE QUALIDADE, alertando quem assiste algo do tipo: daqui você pode esperar alguma coisa.
E por falar em Olimpia, também vale destacar a iniciativa que o clube teve há algumas semanas. Ciente de que a competição financeira com os times brasileiros é uma covardia sem tamanho (em 2023 os clubes daqui investiram 62 vezes mais em relação aos paraguaios, segundo o site especializado em análises de vendas e compras de jogadores - Transfermarkt), a diretoria do Rey de Copas investiu para tirar do Independiente del Valle (IDV) seu coordenador de metodologia e desenvolvimento das categorias de base.
Sim, eles decidiram parar com o vitimismo, observaram ao redor e perceberam que a única forma de serem novamente competitivos é captando, trabalhando e revelando os próprios talentos. Ou seja, copiar a receita de sucesso do Del Valle. Iván Vázquez desembarcou em Assunção para fazer tudo acontecer. E tomara que aconteça.
O IDV não perdeu tempo, já repôs a peça buscando diretamente na matriz. Anunciou Andonin Bombin, ex-responsável pela metodologia de treinamento do Athletic de Bilbao, como o novo chefe do departamento de formação de jogadores. Enquanto isso, tem muito cartola moscando por aí…
Bom, semana passada, neste mesmo espaço, a coluna abria com a repaginada que alguns mascotes dos clubes colombianos sofreram. A pedido da organizadora do futebol local, eles passaram por um banho de Whey Protein e Crossfit: ficaram assim.
Eis que no Chile aconteceu algo parecido, mas sem o pedido formal do marketing. Um designer gráfico dedicou horas e horas de trabalho para oferecer aos principais mascotes dos clubes chilenos o mesmo tratamento. Daqui a pouco isso vira saga da Marvel criada à base de Pisco e ceviche.
Na Colômbia, além da estreia de Juanfer Quintero pelo Junior Barranquilla (tímido empate em 1 a 1 com o Independiente Medellín), o assunto é a crise institucional de um gigante e ameaças que passaram completamente do ponto.
Pelas ruas de Medellín apareceram panfletos fúnebres com as fotos do presidente e do vice do Nacional. No anúncio sinistro também constam os anos de nascimento e sinais de interrogação onde costumeiramente se coloca o ano de falecimento: "ele decidirá a data e hora".
A imprensa local relacionou a barra do clube como possível autora das ameaças, já que diretoria e torcida estão em rota de colisão com a última exigindo a saída imediata dos diretores. A barra se pronunciou e negou qualquer envolvimento com os panfletos e condenou esse tipo de protesto.
Enquanto isso, no , a diretoria do Peñarol anunciou Diego Rolan como novo reforço para esta temporada. E já tem algum tempo que destacamos o empenho dos clubes nesses momentos (e agora eles chegam até aplaudir a si próprios):
No Uruguai também foi motivo de orgulho próprio, afirmação nacional, a maneira como o Pérez, auxiliar de campo da seleção sub-20, cavou uma expulsão que pudesse dar tempo para o time se reorganizar em campo e garantir a necessária vitória. Diego Pérez expulso: uma tradição uruguaia como o mate, o churrasco, ou o doce de leite.
E com a volta do futebol na Argentina, a Copa do Mundo aproveitou para fazer uma turnê pelos estádios. E é claro que passou pela acanhada e brava cancha do Barracas Central, clube que catapultou Chiqui Tapia ao cargo mais importante entre os cartolas da região. Ele e o costume de levantar a Copa com uma só mão…
Aliás, se nesta sexta-feira, dia 3 de fevereiro de 2023, você se pegar perguntando "por onde anda Ricardo Centurión", saiba que a resposta é… no Barracas Central.
Mas a volta do Boca Juniors à Bombonera deixou postais impressionantes. É sempre um espetáculo admirar os pulsando história e sentimento. O estreou com vitória: 1 a 0 sobre o Atlético Tucumán, com gol de Óscar Romero, irmão gêmeo do Angel, e que foi entrevistado por este blog em 2016, quando era peça fundamental do Racing.
Boca, aliás, que esta semana publicou uma foto que contém uma música, que contém uma história: O CANTO QUE VEM DA ALMA.
O River, agora treinado por Demichelis, também estreou com vitória e boa atuação. Dois a zero no Central Córdoba fora de casa, até porque o Monumental finaliza os detalhes para se tornar o estádio com maior capacidade da América do Sul: 84.567 lugares até 2024.
E para finalizar esta pérola vinda de Rosario. Sempre é muito legal quando um ex-jogador assume o comando técnico de um time. Principalmente quando é alguém contemporâneo a nós, que vimos esbanjar conhecimento técnico em campo. Para começar bem o fim de semana, Heinze e a bola:
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