Flamengo paga o preço da autossabotagem
Há várias formas de se analisar o fiasco do Flamengo no Mundial de Clubes. Alguns apontarão o dedo única e exclusivamente para o técnico Vítor Pereira. Muitos dividirão a conta com atuações decepcionantes de grandes jogadores. Haverá até quem encontre culpa na arbitragem. Mas a conta deve ser debitada do cartão da diretoria, que promoveu um absurdo processo de autossabotagem.
Na gestão Landim, o Flamengo teve sete treinadores diferentes. Histórico que aponta para uma alta probabilidade de pintar o oitavo em breve. Embora seja o clube com mais recursos financeiros e técnicos no futebol sul-americano, o Flamengo se autossabota porque sua diretoria pensa que ninguém serve para treinar seu time.
1 de 1 David Luiz lamenta derrota do Flamengo para o Al Hilal — Foto: REUTERS/Susana VeraDavid Luiz lamenta derrota do Flamengo para o Al Hilal — Foto: REUTERS/Susana Vera
Os fatos gritam. Ganhe ou perca, o treinador de plantão sempre está devendo para a direção rubro-negra desde a partida de Jorge Jesus. Ainda que o clube tenha conquistado títulos importantes, não houve sequência de trabalho. Em média, um treinador passa menos de um semestre à frente do Flamengo. A direção impende que o trabalho amadureça, que erros sejam corrigidos e que a repetição fortaleça o trabalho coletivo.
Em algumas ocasiões, o talento individual resolve, porque o Flamengo, como o Palmeiras, está em um nível muito acima dos concorrentes nacionais e continentais. Mas o Palmeiras tem um trabalho que evolui desde 2023 sem interrupções. Na disputa entre o potencial e a realização, o Flamengo é seu maior inimigo.
Não entro na seara de uma suposta arrogância de torcida que respinga no time, como alguns gostam de pontuar. Torcida não joga, não treina e não dirige time. Se não puder tirar onda, brincar, para quê torcer?
Sobre o jogo, as imagens foram cristalinas. Nervoso, desarrumado e refém de seus talentos individuais, o Flamengo teve espasmos de domínio no jogo e sucumbiu diante de dois jogadores que gastaram a bola: Cuellar (que fez os rubro-negros lamentarem sua saída do clube) e Marega.
O colombiano jogou uma partida fenomenal, com domínio total do espaço e das ações. Marega engoliu David Luiz e a zaga flamenguista. Além dos dois destaques, o Al Hilal tem jogadores de boa qualidade, como o argentino Vietto e o peruano Carrilo, e um núcleo de jogadores sauditas que estiveram na Copa do Qatar que estão confiantes e motivados.
Além de Pedro, fica difícil apontar um jogador do Flamengo que tenha se destacado. Airton Lucas tentou, mas houve mais decepções. Gérson, um excelente jogador, está fora de forma técnica e física. Arrascaeta, mesmo sem brilhar, nunca deve sair, a não ser por expulsão ou lesão. Everton esteve muito abaixo, como Gabriel.
Coletivamente o Flamengo não existe. A forma como se defende (ou tenta se defender) é um convite aos assaltos adversários. Vitor Pereira tem um passivo de comportamento que ele próprio criou com a mal contada história de sua saída do Corinthians. Atraiu repulsa. Mesmo com pouco tempo de trabalho, as cobranças serão potencializadas por causa da forma como negociou com o Flamengo.
Se ele participou do planejamento do clube para 2023, assinou embaixo de um erro monumental. Porque o Flamengo deu férias de dois meses aos jogadores quando tinha compromisso do tamanho de um Mundial no início de fevereiro. Impossível chegar com um mínimo de competitividade.
O Flamengo segue o time com o maior potencial técnico do futebol na América do Sul. A realização desse potencial vai depender da humildade de sua direção em deixar que alguém possa desenvolver um trabalho.
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