VP é bom. Mas também erra, e feio...

Sabe aquela história de que um avião nunca cai por causa de um único ou isolado problema, mas por uma sequência da falhas técnicas ou humanas? Pois, tal qual o avião, o Flamengo caiu no Mundial diante do Al-Hilal por uma série de problemas e erros humanos, não apenas um - e, portanto, é bobagem querer apontar um único culpado. A gota d'água nessa derrota dolorida para os rubro-negros foi a opção do competente técnico Vitor Pereira ao trocar de Évertons, o Ribeiro pelo Cebolinha, quando o jogo ainda estava 2 a 1 para o árabes. Foram três prejuízos definitivos em uma troca, o Flamengo ficou absolutamente desfigurado. Ele pode tentar explicar o quanto quiser, apenas é inexplicável. Mas assim é a vida, treinador é um ser humano e por mais qualificado que seja também erra. A vida tem de seguir.

Não estou entre os que acham, depois do prédio desabar, que a diretoria do Flamengo errou em trocar Dorival Júnior por Vitor Pereira. Dorival teve seus méritos, mas tomou um passeio do português na final da Copa do Brasil (ganhou nos pênaltis e olhe lá...) e teve muito mais dificuldades do que deveria na final da Libertadores contra o Athletico-PR. Tinha batido no teto. Mas, claro, a poucas semanas de um trinca de finais (que ainda não se encerrou), trocar o comando foi sim uma aposta de risco. E quando se aposta, às vezes se ganha, muitas vezes se perde...

Isto posto, vamos aos problemas do Flamengo contra o Al-Hilal. Primeiro: o time jamais conseguiu estar na frente do placar. Se conseguisse, teria muito mais condições de praticar o jogo que gosta e que consagrou esse grupo: a posse, o toque, a infiltração, o gol. Tomou um gol aos 3 minutos e isso sempre é um fator de pressão, num jogo que poderia impedir o time de fazer o mítico clássico contra o Real Madrid. O segundo problema: como não tem mais João Gomes para recompor, Vitor Pereira exigiu que o Flamengo diminuísse a verticalidade (que podia resultar em mais gols, mas também em mais contra-ataques sofridos) e ficasse mais com a bola sem riscos (o famoso "defender com a bola"). Só que, com essa postura, o time perde o ímpeto, perde o impacto causado em geral aos adversários, e é uma tática pouco útil se o time não pode deixar o tempo passar.

Quando Pedro marca mais um golaço inútil (como o que fez contra o Palmeiras), o Flamengo esteve perto de poder fazer aquele tal jogo que gosta, a que me referi acima. Passou a controlar ainda mais o meio e as tabelas saiam. Aí, mais um problema: Gérson. Não tenho dúvida de seu talento, tenho poucas dúvidas de que ele ainda vai dar muita alegria aos rubro-negros. Mas desde a volta da França, não está jogando absolutamente nada. Sem o Arão que tinha a seu lado em 2023 e sem João Gomes, Gérson passou a ser obrigado a fazer funções defensivas que não sabe fazer e que antes era um plus em seu jogo. Fez uma bobagem ao tomar o primeiro amarelo por simulação e cometeu um pênalti em lance que estava controlado. Se o Flamengo tivesse avançado à final, estaria bem porque Gerson não jogaria contra o Real Madrid e não seria barrado, mas suspenso. O time jogaria com uma formação mais sólida defensivamente e não haveria crise no vestiário. O problema é que o carro foi colocado na frente dos bois e o time jogou o segundo tempo com dez - e não jogará a final.

Começar o segundo tempo de novo atrás no placar e com um homem a menos era estressante. Mas dava para mudar o cenário tenso. Entendi a saída de Arrascaeta. Eu não colocaria o insosso Pulgar, arriscaria com Rodrigo Caio atrás e David Luis de volante. Ou puxaria Everton Ribeiro para volante, onde ele daria saída de jogo com qualidade e teria amplitude para armar o jogo. Mas, ok, seguia o jogo com mais um chileno.

Até que chegamos ao erro que levou o avião a embicar para baixo numa irreversível queda livre: um incrédulo Everton Ribeiro sai pela linha de fundo para a entrada de Cebolinha. Ou seja, Vitor Pereira acabou com qualquer possibilidade de criação, de armação, de estratégia técnica. O Flamengo ficou inteiramente desfigurado. Naquele momento, o time precisava de um único golzinho para levar a disputa à prorrogação - se o time poderia sofrer um pouco nela com dez homens, o Al-Hilal enfrentaria o segundo acréscimo de meia hora de jogo em três dias, dificilmente resistiriam, iam cansar. E obviamente não havia nenhuma perspectiva de que o time árabe desse o corredor que é o único caminho que Cebolinha sabe traçar. Aliás, Cebolinha não jogou absolutamente nada desde que voltou de Portugal. O que levaria VP a imaginar que, do nada, num jogo com o adversário fechado, ele iria jogar?

Numa única troca, o técnico causou três graves prejuízos: acabou com a criação organizada, perdeu a bola parada, e chamou o Al-Hilal para o jogo (já que o único risco concreto que corria era uma bola vadia para Pedro). Não por coincidência, dois minutos depois de Everton Ribeiro sair, o bom argentino Vietto fez o terceiro. Fim do sonho. Deu dó de Gabigol que, sabemos, é apenas uma pessoa e tentava armar, cruzar, concluir, bater escanteio, assoviar e chupar cana. Deu dó de Pedro, um centroavante espetacular, que fez mais um gol de craque, e que deu ao Flamengo seu último e inútil suspiro antes do fim.

A péssima atuação de Vitor Pereira, quiçá uma das piores de sua carreira, não deve servir de justificativa para demissão, interrupção de trabalho... Nada disso. Ele deve refletir, pensar no que fez e não fazer de novo. A questão é que agora não há alternativa para o português que não vencer a Recopa, contra o Independiente del Valle. Se isso ocorrer, e é um título bastante acessível, a crise vai amainar, ainda mais que seria uma conquista no Maracanã, diante da torcida, e torcedor em geral tem a memória curta. Se vencer também o Estadual, Vitor Pereira segue em paz para buscar mais uma Libertadores, ou mais mais um Brasileiro, ou mais uma Copa do Brasil - ou quem sabe todos eles, se o Palmeiras deixar (para mim o Estadual é uma taça a mais, um número a mais na lista de conquista, é uma conquista que não ilude, mas claramente o torcedor médio curte, então é bom o Flamengo ganhar se quiser ter paz no curto prazo)...

Mas... se perder... especialmente a Recopa... sei não...

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