O melhor jogo, o pior resultado
Comentei nesta quarta-feira para o Première um dos melhores jogos de 2023, talvez o melhor do Campeonato Paulista até aqui. E curiosamente os protagonistas são os dois times que estão na lanterna da competição, com enormes possibilidades de voltarem de mãos dadas para a Série A2 em 2024, Portuguesa anfitriã e Ferroviária. Teve bolas na trave, bolas salvas em cima da linha, dois times que não travaram com a situação dramática na tabela - ao contrário, foram com o que tinham e o que não tinham para vencer. Até o apito final de Edina Alves, qualquer um poderia vencer. Mas esse melhor jogo teve o pior resultado para os dois: o empate. Claro, uma derrota seria a sentença de morte, especialmente para a Ferroviária. Mas o empate manteve os dois nas últimas posições, e com uma rodada a menos - agora cada um tem apenas 9 pontos a conquistar. Tanto que, depois de um jogaço desses, os dois times deixaram o gramado do Canindé cabisbaixos.
Nos primeiros dez minutos de jogo havia uma tensão no ar e os jogadores ainda tinham muito medo de errar. Mas logo esse medo foi substituído pela ousadia. O impressionante artilheiro (num time que faz poucos gols e é "o" lanterna) John Kennedy ia fazendo um gol golaço - deixando o marcador no chão com um drible mas chutando para fora. Depois, Thonny Anderson acertou um chutaço que Thomazela mandou a escanteio. Mas aos 19, a Lusa abriu o placar. Pará, de esquerda, colocou a bola na cabeça de Gustavo Ramos. Saulo desviou, a bola tocou no travessão e no rebote Madison mandou para o gol.
Ainda no primeiro tempo, Saulo foi rebater uma bola, ela bateu no zagueiro da Ferroviária e ia entrando. O goleiro, que seria o vilão do segundo gol da Lusa, virou herói em dois segundos ao tirar a bola literalmente de cima da linha. Pouco depois, Madison errou o chute e tirou Saulo da jogada. A bola sobrou para Lucas Nathan encher o pé esquerdo - Thonny Anderson rebateu em cima da linha. Os dois times foram pilhados para o vestiário, e Rafael Costa definiu a situação do, até ali, perdedor. "Pra nós não tem jogo seguinte. Temos que vencer hoje..."
E a Ferroviária voltou disposta a virar o placar, e com um surpreendente jogo equilibrado. Foi muito ajudado por uma surpreendente postura cautelosa da Portuguesa. A Lusa pagou um preço altíssimo por achar que poderia simplesmente segurar o 1 a 0 durante mais de 45 minutos, o segundo tempo inteiro. Gilson Kleina teve boa intenção ao colocar Naldo para dar experiência no meio, e Daniel Costa, para tentar dar alguma qualidade na criação. Mas as saídas de Madison e Gustavo Ramos acabaram com o ataque e afrouxaram muito a marcação por dentro e pelos lados. O lateral Bernardo virou ponta porque não tinha a quem marcar, e Pablo e Matheus Lucas viraram armadores.
O gol de empate estava mais do que maduro depois que Thonny Anderson mandou uma bomba na trave. Até que aos 24, a zaga da Lusa rebateu uma bola para a entrada da área. Pablo dominou, ajeitou, e como ninguém o combateu, resolveu arriscar. Acertou uma bola dificílima no cantinho do cantinho esquerdo do goleiro da Lusa: 1 a 1, mais do que justo. Aí o jogo ficou ainda mais enlouquecedor. A Portuguesa saiu para o ataque, a Ferroviária também. Até o fim do jogo foi um festival de gols perdidos, com destaque para a bola que João Victor recebeu na área, e bateu de esquerda acertando a trave de Saulo. Mas, apesar da alta voltagem, nenhum dos dois times conseguiu balançar a rede de novo. E aí esse jogaço pode ficar marcado como o início da queda dupla.
A Portuguesa, com 6 pontos, se livra da degola se vencer os jogos que faltam, pode conseguir isso vencendo dois. Tem jogos difíceis contra times que brigam ou por classificação ou também para não correr risco de degola - ou os dois, como permite o regulamento do Paulistão: Santos (fora), São Bento (em casa) e MIrassol. O panorama da Ferroviária é mais dramático. Com 5 pontos, o time pode chegar a 14. Talvez consiga se livrar da Série A2 se vencer dois e empatar um. Mas tem um jogo que pode ser negativamente decisivo: o Palmeiras, no Allianz Parque. A Ferroviária pega, na ordem: Guarani (em casa), Palmeiras (fora) e Inter de Limeira (em casa).
Pelo que jogaram no Canindé, os dois mereciam ficar na elite. Pelo resultado - e, portanto, pelo que não fizeram em termos de gols - os dois imbicaram para baixo, ao que parece, em definitivo...
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