Balanço da pré-temporada: após três dias no Bahrein, RBR na frente

A oito dias da primeira corrida da temporada 2023, a pré-temporada da Fórmula 1 finalmente chegou ao seu fim. Realizada no circuito construído em meio ao deserto de Sakhir, mesmo local da abertura do campeonato, o GP do Bahrein, no próximo domingo, ela foi mais curta que o habitual, com apenas três dias de atividades de pista. Cravar resultados com base nos testes nem sempre é uma boa medida, mas eles servem para indicar a relação de forças ao menos no início do campeonato. Se os tempos não mostram muita coisa, o tempo de pista e, sobretudo, as reações de pilotos e equipes são essenciais para entender a pré-temporada. E com pouquíssimas mudanças no regulamento técnico em comparação a 2022, deveremos ter evoluções - e não revoluções - em relação ao último campeonato. E analisando os dados e os tempos desta pré-temporada, a principal conclusão a que chegamos é que a a RBR segue como a favorita para 2023. Mas as respostas concretas só encontraremos mesmo a partir de semana que vem, com os primeiros treinos livres do ano.

2 de 18 Max Verstappen pintou como um dos favoritos após os testes de pré-temporada da Fórmula 1 no Bahrein — Foto: Mark Thompson/Getty Images

Max Verstappen pintou como um dos favoritos após os testes de pré-temporada da Fórmula 1 no Bahrein — Foto: Mark Thompson/Getty Images

Avaliações de desempenho sempre são complicadas na pré-temporada. Afinal, as equipes têm programas de desenvolvimento dos carros completamente distintos. Nunca dá para saber quando os carros estão de tanque cheio, por exemplo. Ou com limitação de potência nos motores. Ou ainda testando peças novas nos carros. Por isso, os tempos de volta servem apenas como um dos parâmetros de avaliação, mas nunca é o mais importante deles. Para isso, é só ver um exemplo destes testes no Bahrein: na sexta-feira, a melhor volta do dia foi marcada pelo chinês Zhou Guanyu, da Alfa Romeo, equipe que foi apenas a sexta colocada do Mundial de Construtores de 2022. Por isso, é sempre bom relembrar aqueles clássicos momentos dos testes da década de 1990, quando times menores andavam abaixo do peso para marcar bons tempos e conseguir um patrocinador que asseguraria o ano. Nem tudo o que reluz é ouro.

3 de 18 Max Verstappen conversa com o chefe Christian Horner durante os testes da Fórmula 1 no Bahrein — Foto: Mark Thompson/Getty Images

Max Verstappen conversa com o chefe Christian Horner durante os testes da Fórmula 1 no Bahrein — Foto: Mark Thompson/Getty Images

Um parâmetro que não costuma enganar nos testes é a quilometragem dada por cada equipe. Quanto mais voltas, maior é a confiabilidade do carro. E os testes do Bahrein tiveram condições climáticas muito próximas das que serão encontradas nas duas primeiras corridas do campeonato em 2023, sob o forte calor do deserto de Sakhir e também em Jeddah, na Arábia Saudita. Muitas voltas e muitos quilômetros significam uma boa confiabilidade para o início da temporada. Nesta semana, quem liderou este ranking foram duas equipes que ficaram na metade de baixo da classificação no ano passado: a AlphaTauri - com os motores Honda Red Bull Powertrains - e a Williams - com os Mercedes. Dois times que precisam mostrar serviço em 2023. Entre as grandes, Ferrari e RBR praticamente andaram a mesma quantidade de voltas. Quem sofreu mais foi a Mercedes, que teve problemas na tarde de sexta-feira, e a McLaren, que precisou parar os testes para corrigir um problema de resistência na carenagem que cobre as rodas dianteiras 💥️(tabela abaixo).

4 de 18 Sergio Pérez foi o mais rápido dos testes de pré-temporada da Fórmula 1 em 2023 no Bahrein — Foto: Clive Mason/Getty Images

Sergio Pérez foi o mais rápido dos testes de pré-temporada da Fórmula 1 em 2023 no Bahrein — Foto: Clive Mason/Getty Images

A equipe que mais chamou a atenção nos três dias de testes em Sakhir, sem dúvidas, foi a RBR. A atual campeã do Mundial de Construtores e bicampeã com Max Verstappen escondeu o jogo no lançamento da pintura para 2023. E o RB19 que foi para a pista no Bahrein era claramente uma evolução do bem-sucedido RB18 de 2022. Aliás, um indicativo da confiança da equipe foi a divisão dos dias entre seus pilotos: Verstappen testou no primeiro e na manhã do segundo; Sergio Pérez assumiu o cockpit na tarde de sexta e andou o terceiro e último inteiro. Ou seja: o holandês cuidou do desenvolvimento inicial, enquanto o mexicano se preocupou mais com o desempenho no fim dos testes.

Além disso, o RB19 não apresentou problemas mecânicos, outro bom indicativo para a equipe. Em seu tempo de pista, Verstappen apresentou um bom ritmo, ganhando sempre velocidade e conservando bem os pneus, algo essencial na Fórmula 1 atual. Entre as rivais, inclusive, já se fala em uma diferença de meio segundo a favor da RBR em relação ao resto do grid. Algo absurdo em se tratando apenas do começo da temporada. E ainda assim, pareceu que a equipe austríaca não colocou todo seu potencial na pista ainda; deixou desempenho guardado para os primeiros GPs. Motivos de sobra para a preocupação dos rivais.

Como se não bastasse, Pérez completou uma simulação de corrida no último dia sem enfrentar problemas e com um ritmo espetacular. Christian Horner, chefe da RBR, tentou relativizar o bom desempenho nas entrevistas após os testes, mas está íbvio que a equipe austríaca encerra os testes na posição mais confortável entre os dez times da F1 atual. É claro que só saberemos da realidade no próximo sábado, após a classificação para o GP do Bahrein, mas a RBR pinta como a grande favorita ao menos para o início da temporada 2023.

5 de 18 Max Verstappen participou do primeiro e da metade do segundo dia nos testes do Bahrein na Fórmula 1 — Foto: Clive Mason/Getty Images

Max Verstappen participou do primeiro e da metade do segundo dia nos testes do Bahrein na Fórmula 1 — Foto: Clive Mason/Getty Images

6 de 18 Charles Leclerc não teve problemas com a nova Ferrari SF-23 durante os testes do Bahrein — Foto: Ercore Colombo/Ferrari

Charles Leclerc não teve problemas com a nova Ferrari SF-23 durante os testes do Bahrein — Foto: Ercore Colombo/Ferrari

Outra equipe que não enfrentou problemas durante os testes do Bahrein foi justamente a Ferrari. A equipe italiana vem para a temporada 2023 com importantes mudanças em sua equipe de gestão - a mais importante delas, sem dúvidas, foi a troca do criticado italiano Mattia Binotto pelo francês Frederic Vasseur, ex-Alfa Romeo, e que foi o responsável pelo sucesso da equipe ART nas categorias de base. Animado, o dirigente disse que o clima dentro da equipe está "perfeito", e que estão em boa forma para começar o longo campeonato de 23 GPs deste ano.

Como na Fórmula 1 não se faz nada sem confiança, isso se traduziu na pista. Charles Leclerc e Carlos Sainz andaram muito nos três dias, fazendo todos os tipos de simulações possíveis, variando os tipos de pneus e a carga de combustível. A confiabilidade agradou, mas o desempenho ainda parece distante do mostrado pela RBR nos testes. O SF-23 ainda precisa achar velocidade, muito embora pareça ser o segundo melhor carro neste início de ano, com uma distância confortável em relação à terceira força neste momento. A questão para a Ferrari agora é conseguir o máximo de pontos possível se essa ordem de forças se confirmar no início da temporada. Então, quando as evoluções chegarem, estarem próximos para tentar ameaçar a RBR, que parece estar à frente neste momento. E não cometer erros bobos como na temporada passada.

7 de 18 Carlos Sainz também não teve problemas com a nova Ferrari SF-23 durante os testes do Bahrein — Foto: Ercore Colombo/Ferrari

Carlos Sainz também não teve problemas com a nova Ferrari SF-23 durante os testes do Bahrein — Foto: Ercore Colombo/Ferrari

8 de 18 Lewis Hamilton terminou a pré-temporada com o segundo melhor tempo da classificação geral no Bahrein — Foto: LAT Images/Mercedes-AMG

Lewis Hamilton terminou a pré-temporada com o segundo melhor tempo da classificação geral no Bahrein — Foto: LAT Images/Mercedes-AMG

Para alegria dos fãs e dos pilotos da Mercedes, a equipe parece ter resolvido os problemas dos quiques ( - o famoso Efeito Golfinho - e ) que incomodaram tanto em 2022, causando até mesmo problemas nos motores. Pelas impressões iniciais, o W14 parece ser um carro muito mais estável. Além disso, a grande preocupação da equipe alemã dizia respeito à correlação entre os resultados obtidos nas simulações no computador (CFD) e no túnel de vento com a pista. E tudo correu como o esperado na pré-temporada, o que pode facilitar muito para a Mercedes evoluir seu carro ao longo do campeonato.

Entretanto, o segundo dia de testes não foi tão animador assim. À tarde, um problema hidráulico deixou George Russell à pé. Além disso, um problema na parte dianteira causou uma queda brusca da pressão aerodinâmica nesta parte do carro. Falhas que foram resolvidas para o último dia, mas que atrasaram o cronograma de testes da Mercedes no Bahrein. Em termos de desempenho, neste momento, o time alemão parece ser a terceira força. Mas o chefe Toto Wolff fez a ressalva: livres dos problemas, os engenheiros vão trabalhar para evoluir o desempenho do W14. A própria equipe acredita que pode extrair muito desempenho do carro à medida que as atualizações sejam implantadas. A conferir.

9 de 18 George Russell teve um problema hidráulico no W14 que atrapalhou o fim de seu segundo dia de testes no Bahrein — Foto: Reprodução

George Russell teve um problema hidráulico no W14 que atrapalhou o fim de seu segundo dia de testes no Bahrein — Foto: Reprodução

10 de 18 Fernando Alonso impressionou com o desempenho da Aston Martin nos testes da Fórmula 1 no Bahrein — Foto: Steven Tee/Aston Martin

Fernando Alonso impressionou com o desempenho da Aston Martin nos testes da Fórmula 1 no Bahrein — Foto: Steven Tee/Aston Martin

A grande surpresa da pré-temporada, sem dúvidas, foi o desempenho da Aston Martin. A chegada do inglês Dan Fallows, ex-chefe de aerodinâmica da RBR, para o cargo de diretor-técnico em abril de 2022 parece ter surtido efeito rapidamente. O AMR23 parece ser um carro bem-nascido, apesar de ter sofrido com um problema elétrico com apenas dez minutos no primeiro dia de testes, quando o brasileiro Felipe Drugovich estava ao volante. Foi a única decepção para a equipe inglesa, que apresentou um ótimo desempenho com o veterano espanhol Fernando Alonso, inclusive se aproximando do desempenho da Mercedes no último dia.

A Aston Martin tem preocupado seus rivais na briga pela quarta força do Mundial de Construtores, após dois anos decepcionantes na Fórmula 1. Entretanto, os problemas da equipe inglesa para este início do campeonato estão fora da pista. Se a contratação do bicampeão Alonso parece ter sido um golaço, o time está lidando com a lesão de Lance Stroll, que machucou os dois punhos em uma queda de bicicleta. Reserva do time, Drugovich testou em dois períodos na vaga do canadense no Bahrein e a participação do titular no início da temporada ainda é incerta. Com bons patrocinadores e uma boa avaliação da equipe após os testes, o brasileiro tem boas chances de correr os primeiros GPs. Mas vai depender exclusivamente da recuperação física de Stroll.

11 de 18 Felipe Drugovich entrou na vaga de Lance Stroll, machucado, e deixou boa impressão nos testes em Sakhir — Foto: Mark Sutton/Aston Martin

Felipe Drugovich entrou na vaga de Lance Stroll, machucado, e deixou boa impressão nos testes em Sakhir — Foto: Mark Sutton/Aston Martin

A briga do meio do pelotão parece estar bem embolada, assim como foi no ano passado. Quem apareceu bem nesta pré-temporada foi a Alfa Romeo. Na sexta-feira, Zhou Guanyu colocou o pneu mais macio disponível e fez o melhor tempo do dia, à frente até mesmo de Max Verstappen. E no sábado, apesar da equipe ter perdido tempo com um problema na unidade de potência, Valtteri Bottas mostrou velocidade de novo com o terceiro melhor tempo na atividade. E tudo isso com os engenheiros da equipe garantindo que o desempenho não era a principal preocupação do programa de testes do time nesta pré-temporada. Fato é que o C43 parece livre dos problemas de confiabilidade que atormentaram a Alfa Romeo na temporada passada. Para ficar de olho.

12 de 18 Com a Alfa Romeo, Zhou Guanyu foi o mais rápido nos testes de sexta-feira no circuito de Sakhir — Foto: Alfa Romeo F1

Com a Alfa Romeo, Zhou Guanyu foi o mais rápido nos testes de sexta-feira no circuito de Sakhir — Foto: Alfa Romeo F1

Outra equipe com motor Ferrari, a Haas não apareceu com bons tempos na pré-temporada, mas ficou muito satisfeita com o cumprimento da programação de testes em Sakhir. Além disso, os dois dias de filmagem, um em Silverstone, outro no Bahrein, foram tranquilos, sem problemas. A equipe americana foi a quarta que mais andou nos três dias, algo inédito na história do time. O planejamento da equipe é lutar por pontos de forma consistente já desde o início do campeonato, ainda mais com uma experiente dupla de pilotos, formada pelo dinamarquês Kevin Magnussen e pelo alemão Nico Hulkenberg, de volta a uma vaga de titular na F1.

13 de 18 Kevin Magnussen será um dos pilotos da Haas na temporada 2023 da Fórmula 1 — Foto: LAT Photo/Haas F1 Team

Kevin Magnussen será um dos pilotos da Haas na temporada 2023 da Fórmula 1 — Foto: LAT Photo/Haas F1 Team

A McLaren parecia estar vivendo um déjà vu dos testes de 2022 no Bahrein. Mais uma vez enfrentou problemas, desta vez com a carenagem que cobre as rodas dianteiras do MCL60. Isso fez com que os mecânicos do time perdessem muito tempo para arrumar uma solução paliativa para que, ao menos, Lando Norris pudesse ir à pista. Além disso, assim como no ano passado, os freios atormentaram a equipe inglesa. Muito tempo perdido. Como consequência, desempenho e desenvolvimento abaixo do esperado. A McLaren foi a equipe que menos andou na pré-temporada, 221 km a menos que a Alpine, a penúltima da lista. Isso deve ocasionar muitos problemas nas primeiras corridas do ano, enquanto a equipe corre para recuperar o tempo perdido. Mais um desastre.

14 de 18 Oscar Piastri fez sua estreia pela McLaren nos testes de pré-temporada da Fórmula 1 em Sakhir — Foto: McLaren F1

Oscar Piastri fez sua estreia pela McLaren nos testes de pré-temporada da Fórmula 1 em Sakhir — Foto: McLaren F1

A Alpine talvez seja a grande interrogação destes testes no Bahrein. A equipe francesa esteve longe de apresentar um bom desempenho - inclusive, nas imagens das câmeras onboard, dava para notar que tanto Pierre Gasly quanto Esteban Ocon ainda sofriam muito com os quiques. Apesar disso, o clima na equipe era de confiança, acreditando que a desvantagem em relação às três primeiras equipes era menor do que a tabela de tempos da pré-temporada mostrava. O time tem programado para o GP do Bahrein, abertura do campeonato, uma grande atualização para o A523. É neste pacote que repousa a maioria das esperanças da Alpine para este início de campeonato.

15 de 18 Esteban Ocon não teve um bom desempenho na pré-temporada com o carro da Alpine no Bahrein — Foto: Alpine F1 Team

Esteban Ocon não teve um bom desempenho na pré-temporada com o carro da Alpine no Bahrein — Foto: Alpine F1 Team

A AlphaTauri não teve grandes problemas mecânicos nos testes em Sakhir. Inclusive, foi a equipe que mais andou nos três dias, com 2.468 quilômetros. É um bom indicativo de confiabilidade. Será mais um time na briga no meio do pelotão, mas pelo que vimos no Bahrein, não parece ser uma das favoritas, ao menos nas primeiras corridas do ano. Yuki Tsunoda e Nyck de Vries deram muitas voltas, mas o desempenho não foi dos melhores. É mais um time que precisaremos esperar para ver a realidade nos treinos para o GP do Bahrein, na próxima semana.

16 de 18 Nyck de Vries fará sua estreia pela AlphaTauri na temporada 2023 da Fórmula 1 — Foto: Clive Mason/Getty Images

Nyck de Vries fará sua estreia pela AlphaTauri na temporada 2023 da Fórmula 1 — Foto: Clive Mason/Getty Images

E por último, a Williams. Pior equipe na temporada passada, ela só teve um pequeno problema elétrico durante os testes em Sakhir. Ao todo, Alexander Albon e o novato Logan Sargeant deram, somados, 439 voltas sem grandes falhas no FW45, considerado mais rápido que o antecessor. Foi, sem dúvidas, a melhor pré-temporada em um passado recente da Williams, que parece ter se aproximado - e muito - do meio do pelotão. A expectativa do time inglês, inclusive, é lutar na classificação por uma vaguinha no Q3 em algumas corridas. Com certeza, um passo adiante.

17 de 18 Alexander Albon foi um dos pilotos que mais andou durante a pré-temporada da Fórmula 1 no Bahrein — Foto: Williams Racing

Alexander Albon foi um dos pilotos que mais andou durante a pré-temporada da Fórmula 1 no Bahrein — Foto: Williams Racing

Portanto, daqui a oito dias, a Fórmula 1 abre o primeiro capítulo da temporada 2023, também no Bahrein. Este início de temporada sempre complica a logística da chegada de novas peças, ainda mais com o limite orçamentário, com três corridas no Oriente Médio e na Oceania - Sakhir, Arábia Saudita e Austrália - antes do retorno à Europa, entre os dias 28 e 30 de abril, no GP do Azerbaijão, em Baku. E finalmente veremos as cartas na mesa. Quem tem a melhor mão? Respostas na semana que vem.

18 de 18 Perfil Rafael Lopes — Foto: Editoria de Arte/GloboEsporte.com

Perfil Rafael Lopes — Foto: Editoria de Arte/GloboEsporte.com

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