Sidnei Nehme: Prêmio de Risco Brasil agravado inibe Bovespa e exacerba dólar
( (Marcello Casal Jr./Agência Brasil))
💥️Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO
O cenário global agrega no momento um considerável aumento de fatores impactantes e intranquilizadores, tais como a conturbada relação comercial China-Estados Unidos, sempre renovando fatos e novas tensões, o Brexit, FED e perspectivas para juro, a tempestuosa situação na França, etc… e desta forma ocorrem fatos positivos que acabam sendo segregados pelos negativos, e esta realidade cria incertezas e afeta os humores do mercado mundial, tendo como eixo o mercado americano.
É inegável que ocorra “irradiação” deste ambiente externo até certo ponto no Brasil, país emergente e muito dependente do comportamento do contexto externo.
Ocorre, entretanto, neste momento uma perceptível perda do ímpeto otimista prevalecente desde que foi definida a eleição do novo governo, e é bastante provável que este sentimento esteja agravando o “prêmio de risco Brasil”, que estaria inibindo a dinâmica do comportamento da Bovespa que não consegue romper os 90 mil pontos e até retrocede, e ainda, pode estar impondo correção inesperada e até certo ponto sem fundamentos na formação do preço da moeda americana no nosso mercado.
O Presidente Bolsonaro definiu o seu quadro ministerial, mas sem dúvida as incertezas tem crescido em relação às medidas prováveis focando o equacionamento da crise fiscal, fator de relevante importância para definição das perspectivas efetivas em torno da propagação da teoria à prática das boas intenções do novo governo.
A questão das reformas denota que perdeu a dinâmica da urgência e a principal delas, Previdência, ainda não tem linhas propositivas claras e nem a forma pela qual será feita, e existe claramente a possibilidade de que este assunto avance por tempo muito acima do previsto, visto que implicará em discussões com o novo Congresso Nacional.
A questão fiscal trava definições efetivas de novos investimentos, sejam governamentais sejam privados, pois o governo depende de recursos que não dispõe e o privado depende de perspectivas efetivas de redinamização da atividade econômica para que eleve a propensão ao investimento, promovendo como consequência produção, empregos e rendas.
A performance das empresas do setor produtivo depende de perspectivas favoráveis para que repercutam nos preços das suas ações e se tornem efetivamente interessantes. Sem isto as análises continuarão sinalizando possibilidades de crescimento, mas acaba não se confirmando na prática.
O preço da moeda americana repercute rápido às percepções no seu entorno, para melhor ou para pior, e no momento ainda projetamos o preço de R$ 3,75 para o final do ano, tendo o Boletim Focus elevado a sua projeção na edição de hoje de R$ 3,75 para R$ 3,78, consideramos já estar embutido neste preço um prêmio de risco substantivo com a crise fiscal, sem o que acreditávamos num preço no em torno de R$ 3,50.
Contudo, com a perceptível quebra do otimismo mais intenso com as novas perspectivas com o futuro governo, já que não se podem esperar reformas tão rápidas quanto necessárias e até discussões mais duradouras com o próximo Congresso, acentuando as incertezas, é possível que possa ocorrer o aviltamento do prêmio de risco agregado ao preço.
Como insistentemente colocamos o Brasil não tem risco de crise cambial, dispõe de robustas reservas cambiais e mecanismos operacionais adequados para suprir às demandas no mercado futuro e no mercado a vista, tem déficit em transações corrente baixo e trabalha com as perspectivas de que os fluxos de ingressos de investimentos estrangeiros sejam acentuados em 2023.
Além disto, tem inflação visivelmente cadente com a nova projeção FOCUS apontando para o final do ano 3,71% com viés de baixa maior até lá e juro baixo sem nenhuma pressão para elevação.
O CDS Brasil 5 anos está hoje em 206,5 pontos, tem melhorado visto que em janeiro/18 era 141,8 e em 5/9 era 307,2 e agora tem viés de baixa.
No nosso entender, é possível que tenhamos um discreto agravamento do prêmio de risco agregado no preço da moeda americana no mercado a vista, o que o afastaria de RS$ 3,75 para R$ 3,80, mas consideramos que o fator mais relevante é a ausência inexplicável do Banco Central do Brasil com ofertas de linhas de financiamentos em moeda estrangeira com recompra, tendo em vista que há um “gap” de montante em torno de US$ 6,5 Bi entre o montante de posições vendidas pelos bancos “em ser” não provido com linhas de financiamento do BC.
É bastante intrigante esta ausência do BC do mercado ofertando linhas, salvo se estiver com o objetivo de chegar com uma taxa cambial mais elevada ao final deste ano.
A alta e a resistência, acreditamos, não seriam sustentáveis se o BC ofertar as linhas que os números sinalizam que o mercado absorveria, e a autoridade monetária pode adotar esta iniciativa sem a propagação de intervenção, etc… contumaz e frequente, mas simplesmente cumprindo o seu papel de provedor da liquidez.
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